REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932 - GLÓRIA AOS DERROTADOS
Há 80 anos tinha início a Revolução Constitucionalista, conflito armado que abriu caminho para a promulgação da Constituição de 1934 e trouxe novos rumos para a indústria paulista
A Lei nº 9.093, sancionada em 12 de novembro de 1995 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, permite que cada estado defina sua data magna, ou seja, o feriado histórico mais importante de seu calendário. No caso de São Paulo, em 5 de março de 1997 o governador Mário Covas assinou a Lei nº 9.497, estabelecendo feriado estadual no dia 9 de julho, data que marca o início da Revolução Constitucionalista de 1932, conflito armado deflagrado contra o governo ditatorial do presidente Getúlio Vargas, que marcou o fim das oligarquias e da chamada República Velha (1889-1930), período em que vigorava a “política do café com leite”, ou seja, paulistas e mineiros se alternando na Presidência da República. Não há consenso sobre a quantidade de soldados mortos durante a revolução, cuja militância perdurou até o mês de outubro daquele mesmo ano, mas muitos historiadores, entre eles Jeziel de Paula, autor do livro Imagens Construindo a História (Editora Unicamp), afirmam que o número de combatentes que sucumbiram diante das tropas federais superou ao da campanha da FEB – Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. O que todos concordam, no entanto, é quanto à desigualdade numérica da batalha – cerca de 35 mil paulistas contra mais de 100 mil “varguistas” –; natural, assim, que o governo tomasse as rédeas do conflito.
Diante desse quadro social de caráter militarista, o ano de 1932 foi totalmente atípico, especialmente para a sociedade paulista, que conjecturou uma grande propagação em repúdio à política ditatorial governamentista, a qual influenciava negativamente até mesmo a ainda pequena classe operária, impedindo qualquer tipo de organização de ordem trabalhista. Aliás, muitas empresas, hoje reconhecidamente importantes para a industrialização brasileira, participaram diretamente da revolução. Com tecnologia desenvolvida pela Escola Politécnica, durante três meses seus maquinários trabalharam na produção de armamentos e artefatos de guerra. Para a campanha militar no Vale do Paraíba, a indústria paulista projetou o famoso “trem blindado” que, no ano seguinte, serviu de tema para marchinha de carnaval na voz do cantor e compositor Braguinha, também conhecido como João de Barro.
Mobilizados pelos meios de comunicação, os demais setores sociais não ficaram impassíveis, entre eles profissionais liberais, esportistas, estudantes, artistas e voluntários, recrutados como soldados para completar o batalhão do M.M.D.C. – cada inicial simboliza um manifestante (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo) morto alguns meses antes do levante revolucionário paulista. Na Rádio Educadora, o entusiasmo de César Ladeira fez dele o locutor oficial da revolução. Aficionado pelo rádio, novidade na época, o italiano João Rosolino costumava fixar um alto-falante na parede de seu estabelecimento comercial em São Manuel, interior de São Paulo, para que os transeuntes tomassem conhecimento do conflito. Quem conta é seu filho, Alceu Rosolino, Técnico em Eletrotécnica e diretor do SINTEC-SP – Sindicato dos Técnicos Industriais de Nível Médio do Estado de São Paulo.
“Ao vencedor, as batatas” – Um dos mais importantes escritores brasileiros, responsável por introduzir o Realismo no País com a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis sugere: “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”. A frase é célebre, porém nem todos conseguem compreender as expressões “machadianas”. Pois bem: ao vencer uma batalha é melhor receber homenagens e medalhas como prêmio, ou dá para se contentar com meras batatas? O legado do escritor é perene; porém, falecido em 1908, ele não teve qualquer ligação histórica com a revolução e, além do mais, nasceu no Rio de Janeiro. É possível, no entanto, aplicar o contexto de sua frase aos fatos ocorridos em 1932, visto que a Revolução Constitucionalista é o único movimento da história do Brasil em que as glórias no campo militar couberam aos derrotados.
Assim, mesmo com as centenas de “baixas” em combate e a permanência ininterrupta de Getúlio Vargas no poder até 1945, o sangue derramado pelos paulistas não foi em vão; pelo contrário, graças a ele seria promulgada a Constituição Federal de 1934, redigida, de acordo com seu próprio preâmbulo para “organizar um regime democrático que assegurasse à nação, a unidade, a liberdade, a justiça e o bem-estar social e econômico”.
O Obelisco do Ibirapuera
Com cerca de 80 metros de altura, o Obelisco do Ibirapuera, como é conhecido o Mausoléu do Soldado Constitucionalista de 1932, é o maior monumento da cidade de São Paulo. Idealizado pelo escultor ítalo-brasileiro Galileo Ugo Emendabili e inaugurado em 9 de julho de 1955, o mausoléu guarda os restos mortais de dezenas de combatentes, entre eles os estudantes Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, que compõem o chamado M.M.D.C. Permaneceu, no entanto, fechado por cerca de dez anos, e a memória dos soldados se perdeu no tempo. Somente agora, no mês de julho, é que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assinou contrato para dar início à sua restauração, o que deve acontecer em 2013.
Fonte: SINTEC-SP em Revista - Edição 153
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