PÁTRIA AMADA, BRASIL - RESGATE AOS VALORES CÍVICOS E PATRIÓTICOS

SINTEC-SP propõe aos técnicos que iniciem uma campanha de resgate aos valores cívicos e patrióticos, tão pungentes no passado, mas praticamente esquecidos ao longo das últimas décadas

De acordo a Constituição Federal, quatro são os símbolos oficiais da República Federativa do Brasil: a Bandeira Nacional, o Selo Nacional, as Armas Nacionais e o Hino Nacional. Por mais de três décadas, patriotismo foi o que se apregoou em escolas públicas e particulares, quando EMC – Educação Moral e Cívica era disciplina obrigatória no currículo escolar, como dispõe o Decreto nº 869/1969. Só que, em 1993, a Lei nº 8.663, assinada pelo presidente Itamar Franco, revogou o decreto acima citado, garantindo às instituições de ensino a autonomia de abordar ou não assuntos relacionados a civismo e moral em matérias relacionadas às ciências humanas e sociais. “A disciplina [EMC] tinha muitas finalidades, como o fortalecimento da unidade nacional e do sentimento de solidariedade humana; o aprimoramento do caráter; além do preparo do cidadão para o exercício das atividades cívicas com fundamento na moral, no patriotismo e na ação construtiva, visando o bem comum. Mas os anos passaram, e ela foi extinta de maneira equivocada”, aponta Cassiane Sartori, professora e mestre em Linguística Aplicada pela UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, de São Leopoldo (RS).

Foi-se o tempo, também, em que escolas públicas e particulares entoavam o hino enquanto a bandeira era hasteada e, ao fim do dia, dobrada com todo o respeito e entregue ao professor; em que, na Semana da Pátria, os alunos fixavam uma fita verde-amarela à altura do peito e marchavam, com uniformes engomados, ao som de músicas cívicas. Hoje, tudo mudou e o que resta dos tempos de civismo praticamente se restringe às imagens fotográficas, aos livros de história e a eventuais comemorações de órgãos oficiais. Tão é verdade que aproximadamente 60% dos brasileiros não sabem cantar o Hino Nacional na íntegra. É o que revelou, há pouco mais de um ano, o Projeto Brasilidade, série de estudos amparados por pesquisas para medir a autopercepção popular. As estatísticas chegam a ser mais alarmantes quando se questiona sobre a data em que se comemora a Independência do Brasil – comumente, há quem confunda com a Proclamação da República, fato ocorrido 67 anos mais tarde, em 15 de novembro de 1889.

Diante desse contexto, uma pergunta é inevitável: onde foi parar aquele sentimento patriótico, de dever cívico, vivido de maneira tão latente décadas atrás? “É evidente que a escola não é a única responsável. Ela é parte de um todo que contribui para a formação e informação das pessoas”, continua Cassiane Sartori, apontando que os pais exercem papel fundamental para a formação cívica dos filhos, uma vez que a família constitui o primeiro grupo social de qualquer indivíduo. “Na família construímos nossos valores morais e éticos. Com o tempo, tais valores são lapidados de acordo com o fluxo das influências, que podem ser positivas ou negativas”, conclui.

É comum, ainda, confundir patriotismo com aquela euforia de torcida durante as competições esportivas. Cumpre esclarecer, no entanto, que “torcer” é um fenômeno social, de agregação diante de um propósito comum. O conceito de patriotismo, por sua vez, é bem mais abrangente. “Não creio que o desuso do vocábulo demonstre falta de amor ao País, embora eu esteja convencido de que tenha perdido a plenitude de seu significado. Patriotismo envolve vários valores que andam esquecidos, a começar pela tradição”, disse, certa vez, o jurista e filósofo Miguel Reale, falecido em 2006. Embora tenham significados diferentes, patriotismo e cidadania se completam na opinião do ex-membro da ABL – Academia Brasileira de Letras. “Esses vocábulos deveriam andar sempre juntos, para sabermos afrontar com coragem e desprendimento certas situações adversas”, emenda.

Do descobrimento à democracia – Desde o dia 22 de abril de 1500, quando a frota comandada por Pedro Álvares Cabral avistou pela primeira vez as terras brasileiras, até que o príncipe regente D. Pedro I bradou o grito de independência às margens do Riacho Ipiranga, em São Paulo, muitos fatos aconteceram e ajudaram a enriquecer a história do Brasil: invasões estrangeiras motivadas por interesses econômicos; movimentos sociais; revoluções perpetradas por grandes líderes e mártires que buscavam, à custa de muito derramamento de sangue, promover seus ideais republicanos; enfim... Tempos que, ao contrário do que acontece atualmente, o orgulho patriótico aflorava quase que naturalmente. Com a Independência do Brasil, em 1822, e a Proclamação da República, em 1889, finalmente o País conheceu o verdadeiro conceito de nação. Passou, sim, por grandes transformações de ordem econômica, política e social, mas com autonomia necessária para administrá-las sem que houvesse interferência dos colonizadores. Foi com o governo provisório do marechal Deodoro da Fonseca que se deu início à longa lista dos “presidenciáveis”; com Campos Sales, eleito em 1898, que o Brasil acompanhou o raiar do novo século, e com ele, as esperanças de dias melhores.

Contudo, em nenhum outro período da história o sentimento patriótico esteve tão em evidência quanto no regime militar (1964-1985). Enquanto que nos “porões da ditadura”, os manifestantes, opositores e rebeldes, assim julgados pelos militares, sofriam todo tipo de torturas, as ruas se transformavam em palcos e espaços de aglomerações populares. E, com versos alegóricos, frases maquiadas por metáforas e pseudônimos que camuflavam suas verdadeiras identidades, artistas cantavam em versos e prosas as cores de um país novamente sedento por liberdade – no caso, liberdade de si mesmo.

Em 1984, praticamente no fim do regime militar, o movimento Diretas Já levou multidões às ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro, reivindicando a aprovação da emenda Dante de Oliveira, que pleiteava reinstaurar eleições diretas para presidente da República já no ano seguinte. Para decepção geral, a emenda foi vetada no Congresso Nacional; e, em 1985, de forma indireta, o mineiro Tancredo de Almeida Neves é eleito o primeiro presidente civil do País depois de mais de duas décadas de militarismo, sucedendo o carioca João Baptista de Oliveira Figueiredo. No entanto, às vésperas da posse, ele é internando no Hospital de Base, em Brasília, vindo a falecer em 21 de abril. Interinamente, o vice José Sarney assume a presidência. O povo iria às urnas somente em 1989, na ocasião para eleger Fernando Collor de Melo. Só que o mesmo povo que o colocou no poder também exigiu seu impeachment. Acusado de corrupção, em dezembro de 1992 o presidente renunciava ao cargo, acuado pela pressão exercida pelo movimento estudantil dos Caras Pintadas. Assume, em seu lugar, o vice Itamar Franco, o mesmo que, em 1993, assinou a Lei nº 8.663, citada no início da matéria.

Seguiram-se, pela ordem, os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, esse último sucedido por Dilma Rousseff, a primeira mulher a presidir o Brasil. Sinal de que a democracia está, definitivamente, consolidada.

Campanha – Em linhas gerais, civismo significa compromisso moral com a sociedade; conhecer os símbolos, as datas, os fatos que marcaram a história do País; deixar aflorar o sentimento patriótico e orgulhar-se de sua nação. Só que nada disso deve ser coercitivo; pelo contrário, moral não se ensina ou se adquire à força, mas emana do caráter, da responsabilidade e da vivência de cada indivíduo. Um dos principais pilares da democracia é o direito à liberdade, inclusive de concordar ou discordar das atitudes tomadas pelos governantes. No entanto, mesmo num regime democrático, o patriotismo deve ser vivido em sua mais pura essência. E é a busca dessa essência que propõe o SINTEC – Sindicato dos Técnicos Industriais de Nível Médio do Estado de São Paulo, entidade que, apesar de representar uma categoria profissional específica, também desenvolve ações voltadas para a responsabilidade social, humana e, no caso, cívica. “Já que nós, técnicos, participamos ativamente do desenvolvimento do País, vamos dar exemplo às demais categorias profissionais para, quem sabe, iniciarmos uma campanha de resgate aos valores patrióticos há tempos aprisionados”, conclama o presidente Wilson Wanderlei Vieira.

Cronologia Histórica

Acompanhe, cronologicamente, alguns dos principais fatos sociais e políticos que marcaram a história do Brasil, desde o descobrimento até a independência:

• 1500

Comandada por Pedro Álvares Cabral, uma expedição portuguesa parte de Lisboa em 9 de março rumo à Índia. À altura de Cabo Verde, presumidamente, desvia-se da rota e chega ao litoral brasileiro em 22 de abril. Sem noção da dimensão das terras, inicialmente a batizam de Ilha de Vera Cruz, depois Terra de Santa Cruz e, finalmente, Brasil.

Em 26 de abril, Frei Henrique de Coimbra celebra a primeira missa em terra firme, enquanto Pero Vaz de Caminha escreve sua famosa carta – primeiro documento oficial da história do Brasil – ao rei D. Manuel, relatando a descoberta.

• 1501

É organizada a primeira expedição pós-descobrimento, sob o comando de Gaspar de Lemos, com a finalidade de explorar a costa brasileira.

• 1532

Martim Afonso de Sousa dá início à colonização, fundando a Vila de São Vicente – atual São Vicente. Dois anos mais tarde, o território é dividido em capitanias hereditárias, primeiro sistema administrativo de concessão de terras implantado no Brasil.

• 1549

Tomé de Sousa torna-se o primeiro governador geral do Brasil. No mesmo ano, ele funda a cidade de Salvador, capital da colônia.

• 1554

Em 25 de janeiro, é fundada a cidade de São Paulo, principal metrópole brasileira, pelos jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta.

• 1565

Estácio de Sá funda, em 1º de março, a cidade do Rio de Janeiro, inicialmente chamada de São Sebastião do Rio de Janeiro.

• 1572

O Brasil é dividido em dois governos, com sedes na Bahia e no Rio de Janeiro, experiência que perdura por apenas cinco anos.

• 1615

Os franceses, que haviam ocupado parte do Nordeste em 1612 e fundado a cidade de São Luís, são expulsos do território brasileiro.

• 1654

Chega a vez dos holandeses serem expulsos, depois de duas tentativas de invasão: a primeira, sem muito sucesso, à cidade de Salvador, em 1624; a segunda, com certo êxito, à Olinda e Recife, em 1630. Apesar do conflito, os invasores resistem e passam a controlar uma extensa área, do Sergipe ao Maranhão. Com o início da Insurreição Pernambucana, em 1645, o Nordeste é finalmente libertado. Com isso, os holandeses dirigem-se às Antilhas, na América Central, causando impacto negativo na economia açucareira, já que haviam aprimorado as técnicas de trabalho. Chega-se ao fim o ciclo da cana-de-açúcar na história colonial brasileira.

• 1763

Devido ao grande desenvolvimento econômico, a capital da colônia é transferida de Salvador para o Rio de Janeiro.

• 1789

Liderada por Joaquim José da Silva Xavier – Tiradentes –, eclode a Inconfidência Mineira, um dos mais importantes movimentos sociais da história, com o propósito de libertar o País do domínio português e implantar o regime republicano. Após ser traído por um dos inconfidentes, Tiradentes é preso e enforcado no Rio de Janeiro – na atual Praça Tiradentes – em 21 de abril de 1792. Seus restos mortais são distribuídos ao longo do caminho por onde havia feito seus discursos revolucionários, e sua cabeça exposta na cidade de Vila Rica – hoje, Ouro Preto –, sede do governo mineiro na ocasião. Apesar de fracassada, a Inconfidência Mineira reacende os ideais de independência, influenciando escritores, poetas e formadores de opinião. Localizado na Praça Tiradentes, só que em Ouro Preto, o Museu da Inconfidência é dedicado à preservação da memória histórica do movimento, e também dispõe de um rico acervo da sociedade e da cultura mineira.

• 1808

Com a chegada da família real, em fuga das tropas de Napoleão Bonaparte, o Rio de Janeiro torna-se a capital do império português. D. João VI abre os portos às nações amigas, permitindo a instalação de fábricas no Brasil.

• 1815

O Brasil é elevado à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves, uma vez que o Congresso de Viena não reconhecia o trono português, sob a alegação de que a corte se encontrava no Rio de Janeiro e não em Lisboa, sede da monarquia.

• 1817

Proprietários de terras e banqueiros nordestinos, descontentes com o aumento de impostos e as regalias dos membros da nobreza, dão início à Revolução Pernambucana, formando um governo provisório composto por cinco membros. Em contrapartida, o governo português reúne suas tropas e, à força das armas, consegue preservar sua hegemonia política.

• 1821

Em 16 de abril, D. João VI retorna a Portugal, deixando seu filho D. Pedro I como príncipe regente.

São realizadas, em maio, as eleições dos primeiros deputados do Brasil, em obediência ao decreto expedido pelo próprio rei. Todas as províncias brasileiras escolhem seus representantes para as cortes gerais extraordinárias.

• 1822

D. Pedro I contraria a ordem da corte que exigia seu retorno a Portugal e permanece no Brasil. “Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, digam ao povo que fico”, declara, publicamente, em 9 de janeiro, que ficou conhecido como Dia do Fico. A atitude do príncipe-regente faz aumentar sua popularidade, tanto que ele recebe o título de “Defensor Perpétuo do Brasil”.

Em junho, D. Pedro I convoca a Assembleia Constituinte com a intenção de elaborar a primeira Constituição do Brasil. Em agosto, passa a proibir o desembarque de tropas portuguesas no litoral brasileiro.

Finalmente, na manhã de 7 de setembro, após tomar conhecimento de um documento enviado pela corte exigindo novamente seu retorno sob ameça de uma invasão militar, D. Pedro I, em retorno de viagem, proclama a Independência do Brasil, às margens do Riacho Ipiranga, em São Paulo. Desembainhando a espada, grita: “Independência ou morte!”. Em outubro, é aclamado imperador, sendo coroado em dezembro do mesmo ano.

Curiosidade

Em 13 de abril é comemorado o Dia do Hino Nacional Brasileiro, data escolhida em razão de uma manifestação em desacato ao ex-imperador por ocasião de seu retorno a Portugal, em 1831. Apesar, no entanto, da música ser composta em 1822 por Francisco Manuel da Silva, a letra foi incorporada à melodia somente em 1909, elaborada pelo poeta e jornalista Joaquim Osório Duque Estrada.

Interpretando o Hino Nacional Brasileiro

Parte I

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas

De um povo heróico o brado retumbante,

E o sol da liberdade, em raios fúlgidos

Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

Se o penhor dessa igualdade

Conseguimos conquistar com braço forte,

Em teu seio, ó liberdade,

Desafia o nosso peito a própria morte!

Ó Pátria amada,

Idolatrada,

Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido

De amor e de esperança à terra desce,

Se em teu formoso céu, risonho e límpido,

A imagem do cruzeiro resplandece.

Gigante pela própria natureza,

És belo, és forte, impávido colosso,

E o teu futuro espelha essa grandeza.

Terra adorada,

Entre outras mil,

És tu, brasil,

Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil,

Pátria amada,

Brasil!

Parte II

Deitado eternamente em berço esplêndido,

Ao som do mar e à luz do céu profundo,

Fulguras, ó Brasil, florão da América,

Iluminado ao sol do novo mundo!

Do que a terra mais garrida

Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;

“Nossos bosques têm mais vida”,

“Nossa vida” no teu seio “mais amores".

Ó Pátria amada,

Idolatrada,

Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo

O lábaro que ostentas estrelado,

E diga o verde-louro dessa flâmula

“Paz no futuro e glória no passado”.

Mas, se ergues da justiça a clava forte,

Verás que um filho teu não foge à luta,

Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada

Entre outras mil,

És tu, Brasil,

Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil,

Pátria amada,

Brasil!

Letra: Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927)

Música: Francisco Manuel da Silva (1795-1865)

Devido à complexidade e ao desuso em relação a certas palavras, segue um pequeno glossário para ajudar na interpretação do Hino Nacional Brasileiro:

Brado: grito

Clava: arma

Colosso: gigante

Ergues: Levantas

Esplêndido: admirável

Flâmula: bandeira

Florão: ponto mais importante

Fúlgidos: brilhantes, cintilantes

Fulguras: reluz

Garrida: alegre, vistosa

Idolatrada: adorada

Impávido: destemido, corajoso

Lábaro: céu

Límpido: claro, puro

Ostentas: Exibes, com orgulho

Penhor: garantia

Plácidas: tranquilas

Resplandece: brilha com intensidade

Retumbante: estrondoso

Vívido: luminoso, cintilante

Fonte: SINTEC-SP em Revista - Edição 155

http://www.sintecsp.org.br/Revistas/SINTEC-SP%20EM%20REVISTA%20155.pdf

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 01/04/2013
Reeditado em 08/01/2014
Código do texto: T4218193
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