Ancestralidade indígena

De uns tempos para cá, iniciou-se uma preocupante mudança de postura dos adolescentes indígenas. Muitos desses já não estão dispostos a manter seus costumes e tradições antigas, que lhes eram repassados de geração em geração. Atualmente os rapazes fazem de tudo para incorporar em sua cultura costumes e modismos dos brancos. Grandes chefes indígenas, como Raoni e tantos outros, têm demonstrado, em entrevistas televisivas, grande preocupação com esses sinais. Segundo eles, até as mulheres nas aldeias não querem mais dispensar os vestidos. A moçada quer saber mesmo é de tênis bonito e roupas dos brancos. Estão até dançando o forró em algumas aldeias, numa clara demonstração desagregadora que poderá colocar em risco suas danças e rituais sagrados.

Não bastasse isto, outro fator preocupante é o amiúde contato com a sociedade branca em consequência, principalmente, da expansão do agronegócio, cujos desmatamentos chegam cada vez mais próximos de suas aldeias, diminuindo, substancialmente, a caça de animais que outrora era abundante em suas terras. Além disso, os chefes indígenas estão preocupadíssimos também com a construção de hidroelétricas nos rios que banham suas terras e que, segundo eles, atrapalharão a desova dos peixes, diminuindo com isso, mais uma de suas fontes de alimentação.

A sociedade brasileira como um todo, precisa se conscientizar de que os índios têm certamente algum tipo de ligação umbilical com nosso Brasil, alguma coisa de sagrado. Afirma-se isso com base num fato ocorrido isoladamente há algum tempo atrás, exatamente em março de 1.998, quando houve um incêndio florestal no Estado de Roraima, de grandes proporções e já estava, incontrolavelmente, atingindo vilas e povoados. Apesar dos esforços dos 130 homens do Exército, 169 policiais de Roraima, 180 bombeiros do DF, 127 bombeiros argentinos, 56 bombeiros de Minas Gerais, com um aparato de 4 helicópteros argentinos, 2 helicópteros venezuelanos, um helicóptero brasileiro e 1 avião venezuelano, não conseguiram debelar esse incêndio de grandes proporções que ameaçava alastrar-se por várias cidades. Foi preciso então que a FUNAI apelasse para a pajelança e conduzisse, para lá,(Roraima), 2 pajés Caiapós para fazerem a tal pajelança com a finalidade de se fazer chover em Roraima. Tudo bem. No dia 30 de março os pajés fizeram seus rituais num pequeno córrego próximo à Boa Vista, quando após isto, afirmaram categoricamente que no próximo dia choveria e a situação estaria resolvida. Dito e feito! Já na madrugada do dia 31 choveu como previra os pajés, acabando de vez com aquele incêndio que já durava 63 dias. Na época, a Rede Globo de Televisão mostrou no Jornal Nacional os 2 pajés sorrindo, com as palmas das mãos estendidas para cima e as gotas da chuva caindo nelas em profusão.

Assim sendo, penso eu, se destruírem as nações indígenas, todos nós, brasileiros, que também temos o gene indígena, estaremos presenciando o fim de nossa ancestralidade. A sociedade organizada precisa adotar medidas de apoio ao que sobrou das nações indígenas, no sentido de se lhes respeitar direitos, principalmente a demarcação de suas terras e a aprovação do Estatuto do Índio.

Amarú Inti Levoselo
Enviado por Amarú Inti Levoselo em 25/04/2013
Reeditado em 26/04/2013
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