Feliz Natal!

O Natal e as festas de fim de ano causam na maioria das pessoas momentos de alegria, nostalgia, saudosismo e felicidade. Os dois acontecimentos carregam em certa medida espírito de mudança, paz e perseverança. Dois acontecimentos e muitos sentimentos, relações e representações que comungam um tronco comum, o ritual de passagem. O primeiro chega paulatinamente e nas músicas natalinas sentimos um aperto no estômago. A outra data - com temporalidade certeira - produz a esperança e traz para muitos a ideia de que muita coisa vai mudar.

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No entanto, as datas e momentos tanto do Natal como do final de ano não passam de velhas e novas invenções que nos tempos hodiernos são lembradas com força devido ao apelo da mídia e o canto da sereia do mercado. E algumas verdades devem ser lembradas, a despeito do mal-estar que podem causar.

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Não é de todo errado mencionar que os animais humanos se perdem ante as festas que inauguram o ritual de passagem para “um outro tempo”. E essa alienação coletiva e aceita sem muitos critérios aparece estampada na figura de um Papai Noel ridículo, vestido de vermelho, andando em uma carroça todo risonho com outros animais puxando e cheio de alegria. Felicidade é diferente de alegria, por isso é que nos esquecemos do velho vermelho, logo depois que passa o 25 de sezembro. Endividados, homens e mulheres choram as migalhas que ganharam esquecendo-se de Jesus Cristo que nasceu e verdadeiramente se esforçou por criar uma “boa nova”. A verdade está aí, a não ser que Papai Noel exista e, tal como as crianças, nos enganamos à espera do “querido” velhinho que dentro de um saco retira alegria e muito amor.

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Uma outra questão que inquieta é o esquecimento daqueles que literalmente não possuem meios e não tem acesso ao mercado perverso e consumidor. São pessoas excluídas, "descartáveis" segundo o sociólogo Robert Castel, ou "consumidores defeituosos” nas palavras do também sociólogo - na moda - Bauman. Estes excluídos são esquecidos, banalizados nas ruas, maltratados pelas autoridades públicas e envergonhados diante da consciência coletiva que não perdoa a "fraqueza" e a vulnerabilidade. São pessoas sem lugar, mortas vivas, cansadas pelo tempo, soltas pelo vento e desconhecidas nestes períodos. Esta é a hipocrisia que temos que denunciar. Não demos certo, estamos avacalhando nossa espécie aos pouquinhos e certamente perdemos muitos poetas, escritores, médicos, advogados, engenheiros e possíveis profissionais que passaram a andar por aí. Portanto, não acredito em festas de Natal e de ano novo. Até porque o "ano novo" se caracteriza por um conjunto de datas, visto que as contas continuam, as brigas também, a falta de compaixão, a família fofoqueira e os excluídos por toda parte.

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Finalmente, é óbvia a importância dos rituais de passagem. Com eles nos encontramos com as pessoas, trocamos afetividade e amamos um pouco. Neste caminho, desejo um feliz natal e um próspero ano novo para todos e todas. Que tudo de bom aconteça, muita saúde, educação e participação política nos rumos deste país. Mais que isso, desejo felicidades múltiplas e que o velho simpático e bonito chegue em suas casas lotado de presentes; que o peru não seja uma galinha e que a vida se transforme em prosa e verso. As palavras duras no início do texto são para o leitor desistir de lê-lo no meio e ficar indignado com essa raça de bípedes humanos que literalmente não deu certo. Amém!