O QUE É CERTO, O QUE É ERRADO

O que determina nossos juízos de valores? De onde vem nossa consciência moral? Ela é inata, ou depende de fatores externos?

Considere o aborto. A maioria dos brasileiros é contra (talvez aprove apenas em casos de risco de vida para a mãe, estupro e anencéfalos, em consonância à lei do país). Exceto estes três casos, o que leva alguém a acreditar que é errado uma mulher interromper sua gravidez?

Alguns talvez citem o mandamento que proíbe o assassinato. Ou que é errado matar uma criatura sem chances de defesa. Em ambos, pressupõe-se que a vida começa com a concepção. Será verdade?

Quando perguntados sobre quando começaria a vida, a maioria dos cientistas acredita que não é no momento da fecundação.

A visão embriológica sustenta que a vida humana começa na terceira semana de gravidez; já a visão neurológica aponta que o mesmo princípio para a morte vale para a vida. Ou seja, se a vida termina quando não há mais atividade elétrica no cérebro, a vida começa quando se inicia a atividade elétrica no cérebro. E quando isso acontece? Para alguns cientistas na oitava semana. Para outros somente na vigésima semana. Seguindo critérios científicos, não deveria ser considerado homicídio praticar o aborto antes da terceira semana de gestação (visão embriológica) ou antes da oitava semana, quando o cérebro ainda não apresenta atividade elétrica (visão neurológica).

Muitas pessoas temem pelo sofrimento que o efeito do aborto poderia causar ao feto. Mas segundo uma grande parcela de cientistas, até certo tempo de gestação, o feto não sente dor nem tem capacidade de sentir emoções. Daí que não haveria nenhum problema moral em interromper a gravidez.

Nesse estágio, a vida plena (mulher) não deveria ser mais importante que a expectativa de vida (feto)? Será que alguém tem o direito de obrigar uma mulher a levar adiante uma gestação mesmo que ela diga não se sentir emocionalmente ou financeiramente preparada?

Nos Estados Unidos, há diversos registros de clínicas de aborto incendiadas e assassinatos de médicos e enfermeiras que trabalhavam nesses locais. Os autores da barbárie são religiosos fanáticos. As mesmas pessoas que são contra o assassinato, matam em nome de Deus, supondo que mais grave que uma mulher interromper uma gravidez, é assegurar o nascimento a um feto que ainda não pensa e não sente.

Tomemos outros exemplos:

Em certos países, muitos são contra casais andarem de mãos dadas ou trocar simples afetos em público, mas aprovam que meninas de oito anos sejam dadas em casamento mesmo contra sua vontade, a homens que têm idade para serem seu avô ou que os pais mutilem suas filhas pequenas com o que ficou conhecido como mutilação genital feminina (o objetivo é anular o prazer sexual das mulheres).

As mesmas pessoas que condenam a chicotadas ou à morte mulheres que fizeram sexo antes de casar, acham correto o marido ter quatro mulheres e bater na esposa se assim lhe convir. Mesmo que isso vá contra os direitos humanos. Aqui no Ocidente, muitas pessoas são contra os direitos dos homossexuais, mas aprovam touradas, rodeios e rinhas de galo, apesar do sofrimento causado aos animais.

Percebe a incoerência da moral humana?

Pesquisas mostram que no Brasil, a cada dois dias, um homossexual é morto por motivos homofóbicos. Nos últimos anos, 25% dos gays da União Europeia sofreram algum tipo de agressão. Em cerca de sete países existe a pena de morte para homossexuais. Mas maltratar animais pode e vira diversão para os adeptos.

Um exame de consciência, e um pouco de conhecimento da história, ciência e filosofia, talvez levaria as pessoas que ainda cultivam preconceitos e moral dos antigos, a rever suas opiniões.