Rede de intrigas.

Quando um setor produtivo contrata alguém - seja um ele público ou privado - seu proprietário ou dirigente nem sempre é uma pessoa preparada para tal função, mas nem por isso lhe é negado o direito de exercer a liderança. Nestas circunstâncias, é comum o líder abordar cada novo colaborador. Quando o próprio não o faz, algum subordinado a seu mando procura fazer amizade com o recém-chegado. Para isso o chama de lado e diz amavelmente:

- “Você está chegando agora, seja bem-vindo! Eu sei das suas potencialidades, mas tenho um pedido a fazer: Não se aproxime muito de fulano ou beltrano. Eles têm estilos próprios de trabalho e vocês podem não se entender. Portanto, qualquer coisa, me procure! Você como é uma pessoa inteligente sabe que, neste mundo, há muitas pessoas com comportamentos questionáveis, mas precisamos delas também! Qualquer dúvida me procure que eu te darei todo apoio”.

Ocorre que, aqueles apontados por ele como pessoas de “temperamentos questionáveis”, receberam outro alerta: “Aos novatos, vocês não podem dar ouvidos para os possíveis enredos que eles dizem. Eles têm que se adaptar a rotina”.

Lançando a semente da desconfiança, em breve ele volta a abordar um ou outro, sempre de forma amigável e não se importando em demonstrar segredo de suas visitas. Travando diálogo informal com o visitado, discretamente ele demonstra estar falando de forma conciliatória e vive renovando a promessa de participação e entendimento. Se passar alguns dias e ninguém o procura para reportar sobre algum colega, discretamente, o chefe aborda aqueles mais humildes ou, que demonstram mais lealdade, necessidade; promete-lhe vantagens futuras e insinua que alguém o procurou entregando fatos condenatórios. Sempre com a pergunta: Tudo bem? Se o subordinado diz que sim, e ele emenda: “... estou vendo. Eu não disse para vocês não dar trela a conversa alheia? Eu vejo que você faz tudo direito e, vez por outra, companheiros seu me procuram queixando-se de atitudes suas, mas é tudo infundado! Não se preocupe, pode confiar em mim”!

Começa “o leva-e-traz” e a discórdia está lançada Em pouco tempo os companheiros se posicionam contra os outros. Prestativos as ordens, medem as palavras ao se relacionarem e suas atitudes fazem-se amistosas. Tornam-se “olheiros” uns dos outros e o superior passa a ser o juiz, aquele que compreende e que ampara.

Atitudes assim são típicas de ambientes envolvendo poucas pessoas. Pode ser um recinto externo ou interno, tendo maior ação quando tratar-se de uma sessão em que a proximidade seja maior criando uma atmosfera tensa, um terrorismo disfarçado apoiando na ingenuidade do ser humano.

Entre tantas desavenças que essa atitude promove, é a dependência para ambas as partes. Na vida, tudo o que é repetitivo; se for bom, torna-se hábito; se ruim, vício, e seus protagonistas pagam por isso. Acostumados a promover falsas intrigas, tanto chefe como empregados tornam-se vítimas. É difícil confiar em alguém estando acostumado a ouvir disparates a respeitos de pessoas tão próximas. Os superiores se fragilizam com tendência em crer mais em boatos que nas verdades; os subordinados, uma vez envolvidos nas intrigas, se veem obrigados a permanecer nela temendo represália. Por outro lado, a curiosidade, a insegurança transforma os propagadores de tragédias em pessoas inseguras, temerosas de tudo o que a cerca. Nesse patamar, amizades sinceras são descartadas levadas pelas incertezas em torno do ambiente de convívio. Só muito tarde, em outras paragens é que se faz possível entender quão prejudicial foi a época em que estavam imbuídos nessa trama maléfica utilizando de prática covarde contra pessoas inocentes.

Quem promove discórdia também é sugado por ela e permanece nessa teia até o fim. Traição, falsidade, mentira, diz-que-me-diz-que, é sinônimo de intriga e ela se compara a uma lâmina, de dois gumes!