O vermelho da luta ou a cor da exclusão?

Sou bastante capaz de compreender as pessoas da classe mais rica quando se colocam contra os movimentos dos trabalhadores, pois estas perdem muito com isso. Quando há manifestações realmente válidas, fortes, objetivas, se apressam às redes sociais esbravejar que o demônio vermelho do comunismo está atacando, então associam o demônio vermelho ao Partido dos Trabalhadores, porque usa o vermelho como cor simbólica e é o mais próximo de um distante socialismo a que já chegamos.

Não consigo entender bem, contanto, a porcentagem, a imensa parcela da população que segue esse pensamento obtuso. Se a grandessíssima maioria dela é de trabalhador - mesmo a classe média, que nada mais é, escravos do sistema que jamais alcançarão os altos picos de sua ganância, exceto em pouquíssimos casos -, como entender que defendem abusos de governantes contra o povo; demonizam uma cor por uma ideologia trabalhista (desde Karl Marx); como entender que uma boa parte dos trabalhadores se oponha às lutas trabalhistas, às manifestações verdadeiras, populares?! Não há como entender.

As pessoas têm sido em sua maioria tão insensíveis, que são incapazes de perceber que é o próprio sistema capitalista selvagem vivenciado por elas que faz suas vidas destruídas, sem graça, tediosas. Essa falta de fraternidade, esse medo de evoluir, de mudar, essa ganância desenfreada, esse apego ao dinheiro e ao consumo como escape, subterfúgio da realidade mesquinha em que vivem, fazem-nas viver e morrer sem sentido, sem aproveitar nada, como túmulos ambulantes de concreto cinza correndo para lá e para cá em hora de pico e de calmaria. E as fazem, além de infelizes, cruéis.

Há um sentimento de proteção aos cães, por exemplo, que, embora belíssimo e de bom coração, tem transferido a compaixão da esfera humana para a animal. Talvez seja isso que faça a sociedade andar tão errada. As pessoas enojam-se tanto das pessoas, desprezam a fraternidade e o sentimento de comunidade tamanhamente na teia do capitalismo, que se congratulam e sentem-se melhores ao proteger animais que seres humanos. Dedicam para aqueles toda a sua caridade e ternura e a estes um ódio temeroso, um grande medo de que passem a não ser destacados de seu dia a dia, ou seja, de que um montante não seja mais de excluídos e lhes alcance na escalada social. Ralham, pois, contra projetos e bolsas de inclusão, têm asco dos meninos de rua e dos mendigos e querem intervenção militar e extinção das populações de favela (porque acreditam que bandido encontra-se só nas comunidades, maior mal do mundo, jamais entre as pessoas de posse e bem-sucedidas).

Os cãezinhos são sim muito bonitinhos e importantes, dignos como nós da vida, mas não creio que eles levarão você ao céu, se é que pensa agir com cristandade e respeito ao próximo quando acolhe um desses animais. Pode até ser. Mas quando despreza o seu irmão homem; quando, por estar acomodado em seu gordo salário, age contra o trabalhador, em defesa de políticos inescrupulosos; quando assim faz despreza a maior das verdades divinas, a inquestionável: Todos temos os mesmos direitos, o mundo nos pertence por igual. A terra nem sempre foi só de 1% da população. E nenhum filho de Deus foi nascido para passar fome.

O vermelho não é do demônio. Mas é uma cor representativa de grandes lutas e mudanças sociais, que vêm trazer o proletário para um lugar mais acima da pirâmide, compassivamente. CUT, MST, PT, PCB, PCdoB etc. não são frentes terroristas ou vândalas, jamais foram. São nichos de luta, onde se reúnem pessoas e, embora algumas sejam de má fé, há muitas desejosas de melhorias ao pobre e ao trabalhador, e a toda a sociedade. Não riqueza concentrada na mão de uns poucos e fome e miséria na mão e no coração de todo o resto.