Serta: Formando jovens agricultores no campo

Conforme denunciou o antropólogo da CEPAL, John Durston, um dos aspectos mais graves que afeta a juventude rural é a sua invisibilidade social. É o caso de muitas instituições nacionais, que devido a um forte enfoque no urbano e em seus programas para a juventude, não levam em consideração os diversos aspectos da realidade específica dos jovens rurais. As instituições se voltaram, principalmente, para os estudos com o foco nos jovens do meio urbano. Portanto, de forma similar a outras minorias rurais, os jovens no campo ainda sofrem de certa invisibilidade entre pesquisadores e estudiosos do desenvolvimento.

Embora os debates em torno da educação profissional no campo estejam colocados no âmbito do direito e integrados à questão do desenvolvimento local sustentável, da permanência dos jovens no meio rural e do fortalecimento da agricultura familiar; ao longo do tempo, essa educação foi relegada a planos inferiores. Em parte, até os anos 1980, a educação no campo brasileira foi marcada pela insuficiência ou mesmo ausência dos poderes públicos, por conta de uma concepção predominante de que os trabalhadores na agricultura não necessitam de educação formal mais ampliada.

Contudo, nos últimos anos, as respostas aos desafios da agricultura familiar convergiram para a emergência em dimensão nacional de um amplo processo de experimentação sociocultural de inovações em propriedades familiares e em comunidades, ancorado em dinâmicas locais autônomas. O contato com públicos historicamente alijados da educação formal propiciou mudanças relacionadas à forma e conteúdo de ações extensionistas, principalmente quanto a uma maior valorização de saberes tradicionais construídos pelos habitantes do campo.

Em Pernambuco e no Nordeste, uma das propostas inovadoras de educação profissional do campo foi estabelecida pelo Serta (Serviço de Tecnologia Alternativa), através do Curso Técnico de Ensino Médio em Agroecologia. A escola, que possui unidades em Glória de Goitá e Ibimirim, desenvolve atividades com jovens agricultores familiares e agentes de desenvolvimento local e de agroecologia.

O Serta também realiza no município de Orobó uma consulta na área de educação profissional no campo. A instituição, através de seu curso de formação, tem como objetivo principal formar profissionais habilitados para atuar no âmbito pessoal, social, tecnológico e produtivo; nas áreas de gestão, planejamento, assistência técnica e extensão rural. Ainda, em parceria com o Governo de Pernambuco, por meio da Secretária de Educação, já profissionalizou mais de mil técnicos em mais de 25 anos de existência.

O Serta possui como base a Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável (Peads), que se refere a um conjunto de princípios, metodologias, dinâmicas e conteúdos que trabalham com arranjos formais e informais de educação na perspectiva de mobilização social e construção/manejos/organização de sistemas de produção sustentáveis e de ecossistemas.

O Serta busca implementar um modelo inovador de educação profissional no campo através de um sistema de alternância. A utilização da proposta pedagógica de alternância é considerada por muitos educadores e técnicos como uma matriz pedagógica de organização do trabalho que contribui para o aprendizado dos jovens agricultores. Essa pedagogia é caracterizada pela conjugação de períodos e espaços alternados que perpassam a formação na escola, comunidade e família e pelo uso de instrumentos educacionais específicos.

Para a organização, uma das maneiras de mudar a realidade da vida no campo está em estabelecer a continuidade da agricultura familiar por meio da permanência e resistência dos jovens no campo. Desse modo, o Serta procura atribuir um novo papel social e político para a juventude do campo, principalmente em pequenos municípios pernambucanos. O Curso Técnico de Agroecologia tem como objetivo principal formar os jovens para o desenvolvimento sustentável do campo, com enfoque na produção da agricultura familiar e na transformação das circunstâncias sociais, políticas, econômicas, ambientais e culturais na região.

O processo de formação está relacionado às articulações intrínsecas que compõem os seguintes temas: questão agrária, desenvolvimento rural, matriz tecnológica alternativa com base na agroecologia e soberania alimentar, oportunidade de os jovens agricultores e outros estudantes do curso perceberem as várias contradições existentes no modelo histórico de modernização conservadora, estabelecido no meio rural brasileiro. Nesse sentido, a instituição propõe uma educação baseada em um modelo de agricultura contra hegemônico pautado pela diversidade, por suas identidades, saberes, vivências. Portanto, uma concepção do mundo rural que não seja dominado pelo grande latifúndio e o monocultivo em grande escala, que prejudica o meio ambiente e os sujeitos do campo que ali vivem. Além disso, “que valorize os saberes, as matrizes produtivas sustentáveis, a exemplo da agroecologia, que produza alimentos saudáveis para toda a sociedade brasileira.

Fonte: MEDEIRO, Inã Cândido de. A formação profissional proposta pelo Serta: Construindo o futuro dos jovens no campo. 2017. 114 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Sociologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2017.

Inã Cândido
Enviado por Inã Cândido em 19/12/2017
Reeditado em 19/12/2017
Código do texto: T6203115
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