Os invencíveis (Alegoria natalina)

Esse ser que somos, que somamos, mas que diminuímos, que trazemos o chip do bem e o do mal, a maldade e a bondade disponíveis num só coração. Que aqui chegamos e logo somos submetidos a uma lavagem cerebral que se intensifica a cada dia até que desapareçamos. Ser a que igual não encontramos.

Ser das guerras que fabricamos e que apelidamos de religiosas. Protestantes contra católicos, católicos contra judeus, judeus contra muçulmanos, muçulmanos contra protestantes ou cristãos, etc. De um modo geral, todos adeptos de um Deus, Profeta ou o que for, de características, se não as mesmas, aproximadas. Deus, Profeta ou o que for que, em princípio ou por princípio, não teriam oponentes que devessem ser feridos, torturados, exterminados. Mas nós os fabricamos.

Esse nosso corpo que ainda não conhecemos bem, ainda indecifrável. Que a medicina consegue prolongar-lhe a existência. Que, tal como uma progressão geométrica ou uma relação exponencial, pudéssemos imaginar que chegaríamos ao infinito. O que seria angustiante, nauseabundo, terrível.

Um corpo que se autodefende, se regenera, mas nem tanto. Vão surgindo novas anomalias, irregularidades, doenças com configurações físico-químicas desconhecidas que cientistas, médicos e computadores, depois de muito apanhar, acham que são capazes de identificar. Note-se que pouco a pouco vamos sendo confundidos com os computadores. Basta que lhes seja possível atribuir o espírito. Ou será que já têm?

E aí tem o lance do termo plebeu, outra designação nossa, patenteada pelos reis da Inglaterra ou quaisquer outros frívolos reis. Que quando os bichinhos nutrem-se inteiramente da pele deles, das vísceras e outros elementos de imediato consumo, sobram-lhes os ossos, esqueletos de difícil diferenciação, à primeira vista, de um negro morador da Vila do Arará no Rio de Janeiro. Isso para quem não for cremado.

Mas será isso tudo o bastante para que deixemos de acreditar que somos seres superiores? Não, é certo, porque a nossa história reúne todas as histórias, contos, enredos, planos de todos os grandes autores como daqueles ainda não alcançados pela fama. Fama que ninguém mais que nós podemos lhes atribuir.

Rio, 231217

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 09/01/2018
Código do texto: T6221698
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