A Máfia Furtacor

O ano era 1977, a ditadura militar já apodrecia em desgastes e roubalheira.  É aquela fase em que os ideais revolucionários já foram trocados pelos privilégios de quem detém o poder. Mais ou menos o que vivemos hoje onde a única filosofia restante é a da roubalheira.  Mas isto é outra pauta.

Durante a realização de um eletroencefalograma percebi que já tinha visto aquele traçado, há cerca de 25 dias.  Voltei-me para o arquivo e detectei mais de 20 exames feitos por um mesmo paciente, mas com nomes trocados.  Este paciente tinha uma lesão cerebral séria e seus exames eram repetidos em nome de oficiais do exército e da polícia militar.

Preparei o dossiê com todos os dados, examers, datas, nomes, endereços e até patentes e fui à diretoria do hospital de base onde trabalhava.
Após ver os dados o diretor perguntou-me:
- Quantos anos você tem?
-  Vinte e dois, respondi sonoramente, com um certo orgulho ter realizado um grande feito.
- Bem, eu tenho mais de cinquenta e ainda quero viver mais uns trinta.  Quantos dias você acha que vai viver após esta denúncia?  Ou esqueceu que os órgãos de investigação são comandados por militares reformados?   Para mim., você nunca esteve aqui e eu nunca soube destes fatos.
- Que fatos?  Eu só  vim até aqui lhe dar um abraço de boa tarde.  Sai dali enojado.

Aquele nojo  sempre me remói as entranhas, mas o vejo repetido a cada novo governo. Infelismente.
Samuel da Mata
Enviado por Samuel da Mata em 14/01/2018
Reeditado em 04/12/2018
Código do texto: T6225450
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