Dia Internacional da Mulher

Esta escrita tem como pano de fundo o dia internacional da mulher. Participaram dela, diferentes mulheres com opiniões diversas sobre o que seria importante abordar sobre o tema. Começo com um relato muito recente, que envolve uma senhora de 38 anos que junto do marido, foi fazer a matrícula da filha de 15, que há algum tempo, está fora da escola. Mediante a dificuldade de preencher a ficha, a mãe foi convidada a estudar na mesma escola. Foi quando com lágrimas nos olhos respondeu que esse sempre foi seu grande sonho, mas que o marido nunca permitiu que estudasse. Já que ele se encontrava ao lado, foi questionado sobre o motivo da negação, quando justificou que mulher não pode estudar porque tem a obrigação de cuidar da casa. Foram destacados os mais diferentes argumentos para que ele declinasse em sua decisão, "que seria importante a mãe estar junto da filha ", "que a escola é um lugar de respeito", "que mediante a crise, a necessidade do trabalho uma hora pode bater a porta e sem estudo, fica inviável trabalhar", "que ele também viesse estudar" até que esgotadas as possibilidades, ficou claro que a mudança daquele comportamento jamais sairia daquele homem. Libertar-se daquela situação dependeria único e exclusivamente, dela, da mulher.

O que este relato tem a ver com o Dia Internacional da Mulher? Tem a ver com a necessária mudança de paradigma de que neste dia, as mulheres devam ganhar homenagens por serem delicadas e frágeis, tem a ver com a necessidade de dizer que neste dia e em todos os outros, o que as mulheres precisam é de respeito e reconhecer o seu valor e libertar-se de toda e qualquer opressão que lhes rodeia.

Ainda existe um número considerável de mullheres que no lugar de pessoas são tidas como objetos de posse de seus maridos e namorados e o pior é que mesmo sentindo a violência que lhes cercam, não veem saída.

A problemática não para por aí, é comum ouvir, sobretudo, entre as mulheres mais pobres, que seus maridos são bons porque não lhes batem e até permitem que trabalhem fora. É importante destacar que existem diversos tipos de violência além da física e que o termômetro para saber se sofrem violência é se sentem oprimidas na relação, se sentem, de alguma forma, sufocadas ou sem saída. Essas sensações, são alertas importantes de estarem vivendo um relacionamento abusivo e que por isso, precisam mudar o rumo das coisas. É necessário que busquem caminhos e um deles é não calar-se frente a violência que sofrem, seja, ela qual for. Conversar com as pessoas sobre o assunto e ouvir os diferentes pontos de vista são os primeiros passos para encontrar uma saída. Fechar-se em si mesma, reforça ainda mais a manutenção deste problema.

Entre as diversas violências que circundam as mulheres, outra extremamente grave e nem sempre é percebida é a cultura do estupro. A cultura do estupro é como se chama o ambiente que banaliza, legitima e justifica a violência sexual contra a mulher. Está fortemente ligada a ideia de que o valor da mulher está relacionado às suas condutas e às condutas do homem, não. Podemos exemplificar em estatísticas levantadas por pesquisas como por exemplo esta, que aponta que 48% acham errado mulher sair com os amigos sem o namorado, 80% consideram que mulher não pode ingerir nenhum tipo de alcool, 26% concordam que quando usam roupa curta merecem ser atacadas, 58% afirmam que elas tem parcela de culpa sobre o estupro que sofrem. Comumente nenhum homem é criticado por ingerir alcool, ou sair com os amigos.

Essa cultura tem origem e existe porque os homens são incentivados a consumirem pornografia e a serem pegadores, também é naturalizado o fato de mulheres aceitarem assobios na rua e acharem normal um beijo forçado.

A cultura do estupro é o ambiente no qual muitos homens sentem que tem o direito de cometer violência sexual. No Brasil, 86% das mulheres ja foram assediadas. Há 50 mil casos de estupro por ano e isso representa apenas os 10% que são denunciados, pois na realidade, o número é muito maior. Mais da metade destas vítimas são crianças e muitas vezes os responsáveis pelas atrocidades são os pais, padrastos, amigos e conhecidos. Parte da solução deste grave problema é romper com esta cultura. Não devemos cobrar de meninos que sejam pegadores nem culpar a menina pelo abuso sexual que sofre. É preciso ficar claro que toda relação que envolve duas pessoas só é possível se há claro consentimento de ambas as partes e que a palavra não é não. Que este 8 de março nos ajude a refletir sobre a necessidade das mulheres serem cada vez mais conscientes de que não precisam se submeter a relações abusivas, nem deixam de serem mulheres valiosas, por não terem um homem do lado, que entendam a importância do fim da cultura do estupro e que pratiquem cada vez mais a sororidade, pois a união entre mulheres é fundamental para o fim de toda e qualquer violência.