A MORAL NOSSA DE CADA DIA - parte 1, sobre assassinato

Como você sabe que algo é bom ou mau, certo ou errado? Existe uma moral universal ou a moral é relativa e mutável? Aquilo que você julga bom e correto é realmente bom e correto ou esse seu juízo de valor seria diferente em circunstâncias diferentes?

Para o místico, o sentimento do que é certo ou errado sempre existiu no ser humano e foi colocado por um ente sobrenatural, que é Deus.

O relativista moral discorda. Para ele, a moralidade não tem nada a ver com uma intervenção divina, e ela está sujeita a vários fatores, que podem ser culturais, religiosos, ideológicos, sócio-econômicos, o meio em que se vive, a época, etc.

Qual dos dois têm razão? Vamos tentar descobrir.

Primeiro exemplo: assassinato.

A maioria de nós acha que matar outro ser humano não é correto. Só em legítima defesa. Mas uma grande parcela acha que autores de crimes hediondos devem ser mortos. Muitos acham justo que o bandido que mata para roubar deve ser linchado até a morte. Mas a mesma pessoa que acha correto apedrejar esse bandido, será que apoiaria o linchamento, caso esse assassino fosse seu próprio filho? Hoje, a maioria dos cristãos é contra matar benzedeiras. Mas durante a Inquisição, mulheres que faziam uso de ervas para curar eram vistas como bruxas e foram queimadas vivas na fogueira pela Igreja, e o povo apoiava.

Durante a maior parte da história humana o homem matou sempre que sentiu necessidade, e não ficava com nenhum peso na consciência. Ele matava para saciar a fome (o canibalismo existe ainda hoje em algumas sociedades primitivas); livrar-se de indivíduos que representavam um fardo para o grupo, como bebês com defeitos físicos, doentes e idosos; aplacar a fúria dos deuses e obter favores dos céus (para tanto, sacrificava meninas virgens e inimigos capturados em batalhas).

Mesmo nos textos sagrados, o assassinato muitas vezes é tolerado e até recomendado. Apesar do mandamento bíblico proibir o homicídio, Javé autoriza matar quem fizer sacrifícios a outros deuses (Êxodo 22, 20); trabalhar no sábado (Êxodo 31,15); construir ídolos pagãos (Êxodo 32, 27); cometer adultério (Levítico 20, 10). De acordo com a lei de Moisés, os pais deviam matar o próprio filho que fosse desobediente e alcoólatra (Deuteronômio 21,18 ), e o marido podia matar a esposa se, na noite de núpcias, descobrisse que ela não havia guardado a virgindade para ele (Deuteronômio 22,13).

Até o deus bíblico aparece matando inocentes, através de pragas e pestes. Conforme lemos em Gênesis, o maior genocídio da humanidade foi provocado por Deus no grande dilúvio. Em diversas ocasiões Moisés e Josué invadiram cidades idólatras e mataram seus habitantes a fio da espada, e não poupavam nem as crianças, seguindo as determinações de Javé. O crime daquela gente? Tinha seus próprios deuses e o Senhor de Israel era um deus ciumento.

Hoje, mesmo os mais devotos cristãos são contra matar quem segue outra religião, filhos indóceis, e noivas que não guardam a virgindade para o casamento, apesar da Bíblia dizer que eles devem ser mortos.

Segundo exemplo: pedofilia (no próximo artigo, amanhã).