A ENGRENAGEM SISTÊMICA

O cooperativismo na África surgiu em minha opinião como uma engrenagem sistêmica que fomentou, devastou e mudou os rumos da história do continente africano.

Segundo Marina Gusmão “Os impérios coloniais da África, organizados a partir da Conferência de Berlim, em 1885, ponto culminante do processo que ficou conhecido como “Partilha da África”, durando apenas três gerações. Desde o início da década de 1950, esses impérios entraram em colapso e desapareceram nos anos 60. Somente a África do Sul manteve suas fortificações na Namíbia até 1990.”

O prof. João Alberto, promove um fascinante recorte centrado no período de 1880-1920. Pontuando a implementação definitiva das relações de produção, descrevendo as características do colonialismo e suas múltiplas vertentes sociais; visando a historicidade do colonialismo no Congo e em Moçambique.

Iniciando a corrida pelo “modelo ideal”, um contexto de impasses e dificuldades da construção dos Estados nacionais africanos. França e Portugal desenvolveram na África soluções político-administrativas altamente centralizadas, a Inglaterra firmou-se nos regimes coloniais mais descentralizados, já as colônias britânicas da África Ocidental (Nigéria, Costa do Ouro, Gâmbia e Serra Leoa) desencadearam formas administrativas indiretas com a incorporação dos chefes tradicionais.

Como afirma Crowder (2010) citado por João Alberto, “não é possível caracterizar nenhuma das experiências administrativas do colonialismo europeu na África como um “tipo puro”.” Todos os modelos administrativos sofreram adaptações e assimilações na presença das Companhias Majestáticas, que se movimentavam através de investimentos do mercado financeiro já internacionalizado.

Cabia as Companhias Majestáticas organizar as condições gerais de produção capitalista, mais especificamente as condições da proletarização do trabalhador africano. Segundo João Alberto “a Companhia de Moçambique foi a única que se manteve desde a sua fundação com autonomia em todo o processo de colonização portuguesa. Manteve-se assim porque fora, desde sempre, uma companhia controlada por capitais e investimentos britânicos.

Com a gradativa aplicação do imposto de palhota, o trabalho assalariado expandiu-se por toda a África. O crescimento populacional acelerado e o processo intenso de urbanização, aliados à falta de oportunidades, deram margem ao aparecimento do fenômeno da marginalidade urbana; surgindo os conflitos étnicos entre grupos. Fomentando novas identidades e consciências étnicas.

Em algumas regiões como no Congo a Companhias Majestáticas efetuava um regime genocida de apresamento do trabalho forçado. Como afirma Frantz Fanon (1979), “a burguesia nacional, que toma o poder no fim do regime colonial, é uma burguesia subdesenvolvida. Seu poder econômico é quase nulo e de todo modo sem medida comum com o da burguesia metropolitana ao qual pretende substituir.”

Podemos citar a frase do discurso do ganense Kwame Nkrumah, “a essência do neocolonialismo é que um Estado que é teoricamente independente e dotado de todos os atributos da soberania, tem na realidade, sua política dirigida do exterior.”

Os modelos corporativistas fomentados de forma decisiva influenciaram no contexto social africano, promovendo efeitos no sistema educacional; estagnando a economia, alimentando a crise financeira dos Estados africanos. Resultando em uma atmosfera caótica, uma verdadeira “anarquia”, marcada pelo abuso de poder, pelo autoritarismo, pelas cenas macabras, pelo desrespeito que cruelmente ceifou a vida de inúmeros indivíduos que simplesmente almejavam a liberdade.

As breves linhas aqui transcritas não são suficientes para expressar os sentimentos vivenciados por diferentes indivíduos. Posso sentir a dor do descaso, da barbárie, do egoísmo que dilacera a história da humanidade. Contudo, é notável que a luta contra as várias expressões institucionais do sistema capitalista foram de suma importância para surgimento de uma nova forma de organização da sociedade.

REFERÊNCIAS

COSTA, J. A.P. O sistema colonial europeu em África em dois estudos de caso: o Estado

Livre do Congo (1885-1909) e a Companhia de Moçambique (1891-1925). (Faculdade de História da UFG).

CROWDER, Michael. A África sob o domínio britânico e belga. In: MAZRUI &

WONDJI. Op. Cit., 2010. p. 89-121.

FANON, F. Os condenados da terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.

MENDONÇA, G. M. Os impasses no processo de construção dos modernos Estados Africanos. Revista: Faap. 2010.

MUNANGA, Kabengele. África: trinta anos de processo de independência. Revista USP, São Paulo, n.º 18, jun-ago/1993.

NEME, Mário. Difícil África negra. São Paulo: Coliseu, 1966.

NKRUMAH, Kwame. Neo-colonialismo: último estágio do imperialismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.

Dhiogo J Caetano
Enviado por Dhiogo J Caetano em 12/10/2018
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