Civilização em risco

"Estamos à beira do abismo. Não lutamos mais pela democracia, lutamos pela civilização. Nossos próximos passos podem ser os últimos, os últimos passos da humanidade".

(João Marcos Buch é juiz de direto)

Que a luta tem sido efetivamente essa, sem o menor exagero, é algo que há anos já podíamos afirmar. Que esse juiz não esteja sozinho, apesar da eloquência e gravidade de sua fala, é algo que se constata pela farta literatura sobre os riscos que correm a democracia e a civilização nesse início de século XXI. O único ponto que merece grande atenção, é que lutar pela civilização, pelos valores humanísticos mais básicos, é uma demanda histórica de qualquer um com um mínimo de bom senso e caráter, independente de sua posição política ou ideológica. A defesa dos valores humanísticos deve sobrepujar nossas diferenças doutrinárias e partidárias, pelo simples fato de que o inimigo comum não ameaça este ou aquele grupo, este ou aquele partido, e não somente a noção de democracia, mas os próprios valores da civilidade, que sustentam as sociedades e possibilitam a vida em grupo.

Se você, por convicção ou omissão, deu força a quem espalha o ódio, defende a tortura, a morte, o genocídio, a perseguição política, relativiza o conhecimento, ameaça os valores democráticos, então se associou com algo que, por dever histórico e posição existencial, espiritual, devemos rechaçar e macular, com o selo da vergonha e da indignidade, como algo desprezível e inadmissível. Contemplemos o pluralismo e aceitemos a diferença. Dialoguemos com pessoas das mais distintas posições doutrinárias e ideológicas. Mas jamais, sob hipótese alguma, cedamos um milímetro sequer de espaço a pessoas que se comprazem no mal de modo sádico e desavergonhado. O mal não pode ser relativizado, a barbárie não pode ser tolerada, os facínoras não merecem voz. Não os anulemos fisicamente, não os violentemos, não os molestemos, mas não recuemos e nem nos acovardemos. Não nos melindremos em nos posicionar. Estejamos tranquilos, e firmes, para repetir a exaustão, que a vergonhosa indignidade de suas bandeiras estão maculadas pelo viscoso chorume do ódio, e que a simples presença de seus ideais mesquinhos e aporcalhados apequenam o mundo e revelam as dimensões mais baixas da vida senciente sobre a terra. Mais do que nunca, o autêntico espírito de justiça e retidão deve ser uma fortaleza inexpugnável. Talvez a última fortaleza antes do fim.