A Resignação

A resignação não transige com a felicidade. Para entender o sentido verdadeiro dessa afirmação é fundamental sabermos o que é resignação e o que é felicidade. Sobre esta última não deve haver dúvidas no espírito do leitor por tratar-se de um assunto já abordado ao longo desta obra. Poderíamos situar a resignação no rol das virtudes mais difíceis de serem praticadas pelo ser consciente de sua missão na vida. A dificuldade nesse sentido se encontra em saber quando, como e em que sentido praticar a resignação. Se for interpretada como abandono ou distância, a dor e o arrependimento resultantes podem deixar marcas inapagáveis.

Não deixa de ser perigosa uma resignação sem o respaldo da fé e a certeza de que o ato foi totalmente acertado. O perigo se encontra na possibilidade de um quadro de depressão pós resignação ou pós frustração. É muito comum nos resignarmos com coisas que pensamos fugir a nossa compreensão. Nesses casos, precisamos nos dirigir à Sabedoria Universal que conhece profundamente o nosso interior. O primordial é entendermos o porque da vontade de optar pela resignação. Em última análise, resignar-se pode significar uma acomodação com o estado atual de vida ou falta de ambição em relação ao futuro. É incomensurável a distância entre resignação e fracasso, por ser esse último o resultado de algo que já foi tentado e não deu certo. O fracasso é quase um meio de se alcançar o sucesso e isto depende da perseverança e da fé. Ao passo que a resignação coloca um ponto final em todas as tentativas, aprisiona a fé e leva ao esquecimento. A pessoa resignada já deixou de ser, há muito um fracassado.

Resta então saber o que leva alguém a tornar-se um resignado. Se analisarmos a natureza humana vamos compreender a causa da resigação. Penso que sua causa está no espírito, acima de qualquer outra coisa. Muitos de nós mal sabemos o porque das nossas atitudes resignadas. Pode haver um pensamento tendencioso que não percebemos, mas que possui a capacidade de transformar o nosso destino se o igorarmos completamente. Estamos programados para o sucesso ou para o fracasso, mas essas condições se interpenetram e podemos controlá-las por meio da própria vontade. Todavia, a tendência à resignação é insidiosa e, quando percebemos não temos mais como voltar atrás porque não ficam registros em nossa memória. Não importa aí se somos incapazes ou se fizemos algo errado ou ainda se a esperança fará mudanças nos acontecimentos para dar certo das outras vezes. Não; não ficam registros em nossa memória consciente. Tudo acabou-se para nós. Estamos resignados e ponto final.

O que de mais comum há no mundo são pessoas que passam pela vida enterrando, em um canto do coração seus mais sublimes sonhos; elas não sabem o quanto suas vidas poderiam ter sido diferentes. É como os que enterram, no fundo do seu jardim as moedas preciosas, suas riquezas materiais, fruto do seu trabalho durante uma vida inteira e, ao se darem conta tudo perdeu seu valor, corroído pelos vermes ou pela desvalorização. Fazemos isso com os nossos mais altos ideais. Por uma falta de crença ou por uma crença errada, não os cultivamos como deveríamos ter feito e eles apodrecem ao longo do tempo dentro de nós. Muitas das vezes não foram as derrotas, não foram as frustrações os protagonistas dessa degeneração. Sequer houve tempo de amargar as derrotas, de conhecer os fracassos porque tentativas não se fizeram presentes. Por alguma razão a resignação se impôs e falou mais alto. O resignado não aceita argumentos, não suporta censuras porque ele é fraco por natureza. Como não houve lutas, não houve vitórias, tampouco fracassos. Ele está protegido pela couraça da resignação, por isso não pode ser criticado. Seu sofrimento é doloroso, pois não pode ser compartilhado. Não há consolo para algo que não aconteceu. Na maioria das vezes não se conhece os sonhos do resignado; é como se nunca tivessem existido. Há fatores externos, que não dependem da vontade nem do esforço para que alguém se destaque; é forçoso admitir que existem muitas pessoas resignadas por causa dessas condições externas. Tirando essa causa, a resignação não tem razão de ser; as ferramentas estão disponíveis para todos, igualmente. Falei atrás que a acomodação cria a resignação. Agora quero acrescentar que a insatisfação é a mola propulsora que faz tudo acontecer. Pessoas resignadas não dão o primeiro passo para que tudo aconteça. Pessoas insatisfeitas estão constantemente em estado de sonho, mas fazendo as coisas que precisam ser feitas para alcançarem o estado em que se sentem realizadas. A resignação para elas já deixou há muito de existir. Elas só conhecem os fracassos e as vitórias.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 21/10/2019
Reeditado em 21/10/2019
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