Irã, petróleo, Brasil

Estes dias fui abastecer o carro em Ponta Grossa, surpreendi-me. De manhã, vi o preço do combustível. Quando fui abastecer, perto da hora do almoço, tinha aumentado. Perguntei ao frentista, ele disse que era por causa do aumento do preço do petróleo no mercado internacional, da crise entre EUA e Irã, do atentado que matou o general iraniano.

Falei com o frentista que agora que somos autossuficientes em petróleo, ficamos a mercê das crises internacionais e das mudanças de preço. Não é um absurdo? Ele me respondeu de pronto que o culpado é o Lula e seu governo, que tinha prometido redução dos preços, mas com a roubalheira do petrolão e outros golpes tinha acabado com a Petrobrás.

Espantei-me. Com as pessoas pensando desta forma não surpreende que tenhamos sido capazes de chegar ao ponto em que chegamos no País. Meu entendimento é oposto ao que pensa o frentista. Quem estará certo?

O Brasil tornou-se autossuficiente lá pelos anos 2006-2007, graças à produção das bacias de Campos e Santos, depois aumentada com o pré-sal, a partir de 2010. Em agosto de 2019 a produção do Brasil era de 3,83 milhões de barris equivalentes por dia (petróleo+gás), sendo 63,4% dela do pré-sal. Em fevereiro de 2019 o consumo foi de 2,84 mbpd.

Foi pouco depois do anúncio da descoberta do pré-sal (2006) que a Quarta Frota dos Estados Unidos, responsável por operações na América do Sul e Central, foi reativada (2008). Ela tinha sido desativada em 1950. Foi também por essa época que se iniciou a aguda campanha midiática de demonização do PT e seus governantes. Há relação entre esses assuntos? E a relação com o Irã, com a Venezuela?

Voltando à conversa com o frentista, tentei dizer a ele para pensar se o motivo do aumento do preço do combustível no Brasil, que ele dizia ser resultado da crise EUA x Irã, não é outro. Não é o Lula e suas supostas roubalheiras e política petrolífera. Pedi para ele pensar se a imagem que temos, de que Lula é um ladrão ignorante e incompetente, não foi um engodo criado justamente para poder substituí-lo por quem governa o Brasil hoje. E se quem governa o Brasil hoje não é quem está loteando as nossas grandes reservas de petróleo, privatizando as refinarias e a comercialização no Brasil, exportando o óleo cru barato, e importando derivados encarecidos, pelo preço internacional, que oscila conforme as crises que não têm nada a ver com nosso País.

Mas acabam tendo tudo a ver. Se deixamos de ter autonomia, de ter soberania, os preços do combustível não vão mais depender de produzirmos ou não o petróleo que consumimos. Se entregamos nosso petróleo, vamos pagar o preço imposto pelo oligopólio controlado pelas empresas estadunidenses, que não hesitam em fazer a guerra contra o Irã, o Iraque, a Síria, não hesitam em destruir econômica e politicamente a Venezuela, o Brasil, em defesa de sua hegemonia. E a Quarta Frota nos monitora.

Será que o frentista parou para comparar os pontos de vista diferentes? Será que os brasileiros estão parando para pensar no que acontece no País?

Publicado no blog http://perrengasprincesinas.blogspot.com/