DESAFIOS DO VOLUNTARIADO NO SECULO XXI – Disciplina e atenção as regras

Não há como negar que a prática do trabalho voluntário é atualmente a pilastra mais forte que ampara os serviços realizados por nossas instituições.

Com o apoio de dezenas ou até mesmo centenas de voluntários, algumas instituições mantêm várias atividades nas áreas assistenciais e educacionais. Basta visitar os trabalhos nos hospitais, nos albergues e nos núcleos de periferia das cidade de grande e médio portes, para constatar essa verdade.

Contudo, o trabalho voluntário é executado dentro de normas tanto impostas pela legislação trabalhista, quanto pelas existentes em função dos regimentos internos das instituições.

As instituições, principalmente nos serviços voltados a área assistencial, costumam ter regras pré-estabelecidas que devem ser seguidas pelos voluntários. Não basta simplesmente o desejo de contribuir. É necessário que essa contribuição não afronte as iniciativas já existentes, pois, certamente foram devidamente planejadas e executadas.

Certa vez, em nossa casa, recebemos um par de jovens que desejavam ardentemente participar de nossos serviços. Como voluntário é sempre recurso escasso, recebi-as com a maior atenção, mostrei os serviços da casa e expliquei as condições básicas. Entre essas, estava a distribuição de um lanche para cada criança, após as atividades da manhã. Só um lanche? Por quê? Temos essa regra porque não teríamos condições de dar mais que um para cada criança, e também já havíamos percebido em tempos anteriores que, ao receber mais que um lanche, muitas das crianças jogavam os demais pelo meio do caminho. Até que as voluntárias aceitaram bem, apesar de certa desconfiança.

Porém, foi só perceberem que ao final da distribuição do lanche sobravam alguns pães que deveriam ter sido destinados provavelmente as crianças que faltaram as atividades daquele dia, retomaram o assunto.

Expliquei que essa regra de comportamento era vital para o aprendizado daquelas crianças. Fui imediatamente taxado de egoísta, pão-duro e anti Cristão.

Fiquei chateado, mas sabia que aquela era a melhor coisa a fazer. Já havíamos constatado na prática.

Surpresa foi na semana seguinte quando as ditas pararam o carro em frente a casa aproximadamente na hora do lanche e abriram o porta malas lotado de pães. O intuito, distribuir o que fosse necessário para todos os que quisessem.

A princípio estava organizado com algumas crianças formando fila e recebendo sacolinhas de supermercado com 3 ou 4 pães cada. Até que começou a juntar gente e a distribuição saiu do controle. Era gente entrando pela porta traseira do veículo e saindo pela frente. E vice-versa. Com muito custo, nós conseguimos puxá-las para dentro da casa de assistência até que a turba terminasse de pegar o que encontrava. Ambas tremiam dos pés a cabeça. Enquanto tomavam um copo de água com açúcar, falavam diversos impropérios contra aquelas pessoas.

Enganaram-se, ao não considerar que desconheciam as necessidades verdadeiras daquele povo e, pessoas de todas as classes sociais saem de controle em situações de aglomeração.

Esse fato tem seu lado engraçado, mas não é raro. Muitas pessoas, imbuídas principalmente daquele sentimento de irmandade do final de ano, costumam tomar para si certas ações sem consultar as entidades que trabalham o ano todo naquela região e, apesar de saírem bonito na foto, na maioria das vezes acabam por perturbar o trabalho daqueles que ali já executam atividades planejadas.