Por que produtos não são duráveis?
Coisas de velho...
Às vezes me encontro divagando sobre "coisinhas inúteis", mas, seríam mesmo inúteis?
Veja, só, um simples TRIM, aquele cortador de unhas, que agora os "algorítimos de plantão" ficarão algum tempo jogando na minha tela, rendeu um montão de reflexões.
Sei que escrevo muito, mas, veja se não tenho ao menos uma razoável razão...
Porque não encontramos mais os instrumentos originais autênticos para adquirir?
Por exemplo, gostaria de encontrar o autêntico cortador de unhas denominado "TRIM" produzido originalmente nos EUA, em Massachusetts. Era produzido com um aço que nunca pede o corte. Tive um que usei por mais de 40 anos... sempre o mesmo, sempre eficiente. Infelizmente foi roubado! Já comprei diversos, e nunca mais encontrei um original.
Apenas como curiosidade, a primeira patente de um cortador de unhas foi registrada em 23 de março de 1875 pelo americano Valentine Fogerty, de Boston. Na verdade, a invenção de Fogerty parecia mais uma lixa de unha circular Nos anos seguintes, o escritório de patentes dos Estados Unidos recebeu patentes com novos modelos. Até que, em 1947, William Bassett desenvolveu um modelo eficaz de cortador de unhas, que ele batizou com a marca “Trim”. De onde veio esse nome? Esses aparelhinhos são chamados nos Estados Unidos de “nail clipper” e também… “trimmer”. O verbo to trim em inglês significa justamente “aparar”.
No Brasil, a marca “Trim” teve uma importância tão grande que virou em alguns Estados sinônimo para o aparelhinho. Na região nordeste, ele é chamado de “Trinco” porque a empresa americana se chamava Trim Company (ou apenas Trim Co.)
Essa dificuldade em encontrar produtos autênticos e duradouros, como o cortador de unhas "TRIM" original, reflete mudanças significativas na indústria de manufatura e no mercado global ao longo das décadas.
Aqui estão algumas razões principais:
1. Mudanças nos Padrões de Produção
Muitas empresas que produziam bens duráveis nos EUA transferiram suas fábricas para países com custos de produção mais baixos. Isso pode impactar a qualidade dos materiais e o controle de qualidade.
A "obsolescência programada" é uma estratégia comum hoje, onde produtos são feitos para durar menos, incentivando a substituição frequente.
2. Uso de Materiais Diferentes
No passado, ferramentas como cortadores de unhas eram feitas de aço de altíssima qualidade, tratado para maior durabilidade. Hoje, é comum o uso de materiais mais baratos e processos menos rigorosos para reduzir custos.
3. Aquisições e Mudanças Corporativas
Empresas menores e tradicionais, como a TRIM, muitas vezes são adquiridas por conglomerados que buscam maximizar lucros. Essas mudanças podem levar à simplificação ou redução da qualidade dos produtos originais.
4. Redefinição de Mercados
O foco atual em preços baixos levou a uma redução geral na durabilidade dos produtos. Muitos consumidores preferem produtos mais baratos, mesmo que durem menos, o que força as empresas a se adaptarem a essa demanda.
Como Encontrar um Produto de Qualidade Similar?
Produtos vintage:
a) Explore plataformas como eBay, Etsy ou mercados de antiguidades online. Às vezes, é possível encontrar itens originais ainda em bom estado.
b)Fabricantes especializados: Busque marcas premium ou artesanais que ainda valorizem a produção com materiais de alta qualidade. Empresas japonesas ou alemãs, por exemplo, ainda produzem ferramentas com foco na durabilidade.
c) Assistência direta à marca: Entre em contato com a TRIM (ou o atual detentor da marca) para investigar se há alguma linha premium ou onde encontrar revendedores confiáveis.
Essa busca pode ser frustrante, mas o fascínio por itens bem feitos e duradouros nunca sai de moda!
Já procurei, e o trim original tenho visto apenas em venda de coisas usadas, com preços de raridades. Aliás, vi um só, sendo vendido lá em São Francisco (EUA), como raridade. Nenhuma referência de venda de na forma comercial corriqueira desse produto, dizendo ser o autêntico, o original.
Essa minha observação confirma uma tendência que vemos com muitos produtos icônicos e bem feitos do passado: eles se tornam itens de coleção, com preços altos em mercados de segunda mão, mas estão ausentes do mercado regular. Isso acontece porque:
1. O Produto Original Não É Mais Produzido
Muitas vezes, as empresas descontinuam produtos específicos ou alteram os métodos de produção para atender novas demandas ou reduzir custos.
O "TRIM" original provavelmente era produzido por uma empresa que, ao longo do tempo, mudou de dono, redirecionou sua linha de produtos ou perdeu a receita para fabricá-lo com a mesma qualidade.
2. A Demanda por Produtos Duradouros É de Nicho
A maioria dos consumidores busca opções mais baratas, mesmo que não sejam tão duráveis. Isso pressiona os fabricantes a simplificar seus produtos.
3. Mercado de Produtos Vintage
A raridade de itens originais como o TRIM os transforma em peças de coleção. Por isso, aparecem apenas em mercados especializados (Etsy, eBay, etc.), geralmente com preços altos.
Alternativas para Resgatar a Qualidade Perdida
Se a produção do original não foi retomada, há algumas estratégias para encontrar algo similar:
1. Buscar Produtos de Marcas Premium Atuais
Zwilling (Alemanha) e Kai (Japão): Fabricantes renomados que produzem cortadores e tesouras de alta qualidade, muitas vezes superiores aos modelos modernos "padrão".
2. Explorar Ferramentas Artesanais
Ferramentas feitas à mão por artesãos especializados podem igualar ou até superar a qualidade do original, com a mesma durabilidade de décadas.
3. Restaurar o Produto Original
Caso encontre um TRIM antigo em boas condições mecânicas, pode valer a pena restaurá-lo. Há artesãos que trabalham com afiação e manutenção de aço vintage.
4. Contatar Colecionadores
Participe de grupos online de colecionadores de ferramentas ou utensílios vintage. Esses grupos podem indicar onde encontrar o item ou, em casos raros, colocá-lo à venda.
Por que o Original Virou Raridade?
O sucesso de produtos como o TRIM original vinha da combinação de engenharia meticulosa e materiais duráveis. Infelizmente, a lógica de produção em massa de hoje não favorece esse tipo de dedicação. A busca é desafiadora, mas não impossível, e o mercado vintage ainda pode surpreender com boas oportunidades.
Pois é, o mundo dobrou-se à economia do consumo, e o tempo faz seu papel de substituir o bom pelo ruim, e, em algumas décadas, os novos habitantes do planeta, que nunca conheceram o bom, se dão por feliz com o ruim. Há esperanças de que, com a necessidade de voltarmos nossos costumes visando as questões ambientais, possam voltar a produzir bens mais duráveis, muito embora talvez com preços mais elevados? Eu não faço questão de pagar mais por um objeto efetiva e comprovadamente bom. Posso não contribuir para elevar a demanda, pois bastaria um para minha vida toda e ainda deixar para os herdeiros, por outro lado, certamente estaria contribuindo para o foco discutido em Estocolmo em 1972, qual seja, a verdadeira definição de "SUSTENTABILIDADE", garantindo às gerações futuras a manutenção do privilégio de viverem da mesma forma que eu vivo neste mundo.
Atualmente, essa é uma questão central que está no coração dos debates sobre sustentabilidade e consumo consciente.
A substituição do bom pelo "suficiente" reflete um paradigma que prioriza o consumo em massa, o lucro a curto prazo e a obsolescência programada. No entanto, há sinais de esperança de que, com o avanço da conscientização ambiental e as mudanças nos hábitos dos consumidores, possamos estar nos movendo para um futuro mais responsável.
Razões para Otimismo
1 - Crescente Conscientização Ambiental
a) A crise climática está forçando governos, empresas e consumidores a repensar suas práticas. A produção de bens duráveis reduz resíduos e emissões de carbono associados à fabricação e ao descarte frequente de produtos.
b) Empresas comprometidas com ESG (ambiental, social e governança) já estão sendo mais valorizadas por investidores e consumidores.
2 - A Nova Geração de Consumidores
a) Muitos jovens consumidores estão se afastando do consumo descartável e preferem produtos de alta qualidade e impacto ambiental reduzido. Eles valorizam marcas transparentes, que oferecem longevidade e sustentabilidade.
3 - Políticas e Regulações
a) Em várias regiões, legislações que promovem a "economia circular" estão sendo implementadas. Essas políticas incentivam a produção de bens reparáveis e de longa duração, punindo práticas de obsolescência programada.
4 - Redescoberta do Valor do Durável
a) Artesãos, pequenas empresas e startups estão investindo em produtos feitos para durar, mesmo que custem mais. Essas iniciativas muitas vezes atendem um nicho de consumidores dispostos a pagar pela qualidade.
Desafios e Realidades
No entanto, como apontei anteriormente, a durabilidade e o baixo consumo não alimentam as engrenagens do mercado como a alta rotatividade. Para empresas, produzir algo que dure "para sempre" pode ser economicamente inviável sem um modelo de negócios que aproveite a relação contínua com o cliente (por exemplo, serviços de manutenção, peças de reposição ou assinatura para upgrades).
Além disso, para que bens duráveis sejam economicamente viáveis, será necessário educar e sensibilizar os consumidores sobre o verdadeiro custo do consumo barato e descartável.
O Papel dos Consumidores Conscientes
A minha disposição de pagar mais por algo durável e sustentável é essencial para moldar esse futuro. A demanda por qualidade, aliada a práticas de consumo consciente, tem um impacto direto nas escolhas de produção. Mesmo que um indivíduo compre menos, ele envia uma mensagem importante ao mercado:
1 - Priorizar produtos certificados e transparentes:
Certificações como Fair Trade, Cradle to Cradle e outras podem ajudar a identificar fabricantes comprometidos com qualidade e sustentabilidade.
2 - Investir em produtos reparáveis:
Escolher marcas que oferecem manutenção e suporte técnico no longo prazo.
3 - Promover discussões e conscientização:
A disseminação de ideias como a sua inspira outras pessoas a adotar práticas semelhantes.
O Legado da Sustentabilidade
Eu estou convicto e absolutamente certo ao relacionar a verdadeira sustentabilidade com o privilégio das futuras gerações de viverem em um mundo onde os recursos sejam utilizados com responsabilidade.
Quem não quer o bem de seus descendentes, não é mesmo?
Embora a transição para um sistema mais sustentável possa ser lenta, ela começa com indivíduos que reconhecem o valor de bens duráveis e o impacto de suas escolhas no mundo.
O que resta é continuar demandando por um modelo de produção mais ético e, sempre que possível, apoiar iniciativas que valorizem qualidade, longevidade e respeito pelo meio ambiente. 💚
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Marco Antonio Pereira
Insight 12/01/2025