OS ADMINISTRADORES DO RECANTO DAS LETRAS ME ODEIAM!
Alguns de vocês devem ter recebido um e-mail do Recanto das Letras com sugestões de melhorias, não é mesmo? Alguns amigos meus daqui receberam e me informaram — só assim fiquei sabendo, porque eu mesmo não recebi e-mail algum. Mas uma amiga comentou que essa pesquisa deve ser justamente resultado das minhas críticas construtivas à plataforma, que é muito boa em sua proposta. O que eu critico são os recantistas e o proselitismo vazio que impera aqui.
Porém, pelo tempo que uso a plataforma, sendo assinante premium e, para ser bem sincero, um dos autores com mais acessos diários, que eleva o nível geral do site com meu vasto arquivo cultural, curadorias de contos, textos bem-humorados de rara verve artística, resenhas de filmes clássicos e de arte e até poesias de minha própria lavra — e agora fragmentos filosóficos em áudio —, achei estranho não terem me consultado. Sou um autor multifacetado, plural e ecumênico, que contribui com a plataforma e eleva o nível geral. Todos que entram assiduamente no Recanto sabem quem é Dave Le Dave — já leram algo meu ou frequentam minha escrivaninha sempre, ou ocasionalmente. E os que não fazem isso ou não deixam comentários é porque os textos dispensam comentários, pois já falam por si só. Ou é recalque. Ou inveja.
Além disso, minha relação com o Recanto das Letras vai além da dos demais usuários. Eu o uso como rede social, como um modo de me aproximar da pessoa que amo. Ninguém tem mais arquivos pessoais, fotos próprias, um blog do dia a dia do eu, um espaço de autorrevelação como eu.
Por isso, considerando minha frequência, o fato de o site ser o que mais acesso no dia, o volume de textos que publico — até nove em um único dia — e o impacto que minhas críticas podem ter tido, acho que seria de bom tom terem me consultado.
Deleuze fala que alguns indivíduos são como corpos sem órgãos, ativos, porque um corpo com órgãos é conservador — os órgãos apenas querem conservar-se. Mas um corpo sem órgãos é energia pura. Ele não é movido por órgãos. Ele é pura potência. E, em todo espaço social onde há controle e vigilância, como analisa Foucault em Vigiar e Punir, algumas energias disruptivas escapam. São as incategorizáveis. Esse é o meu caso no Recanto das Letras — e na maioria dos espaços sociais que frequento.
Na sala de aula, eu sempre fui o bagunceiro, o disruptivo, o caótico, a energia que escapa do controle social. Mas nem por isso meu ensino ou minha educação foram afetados. São esses indivíduos os necessários — os artistas, os que criam em todas as épocas. Não os controlados. Não os banais.
Mas o Recanto das Letras tornou-se uma plataforma conservadora, manuseada pela memória dos órgãos, e não das palavras — como sugere seu próprio nome. Ao preterir autores originais, autênticos, sofisticados e plurais como eu para consultar e privilegiar aqueles que produzem textos sem preocupações literárias — textos que mais caberiam em redes sociais como Instagram, Facebook ou Twitter —, ao dar palco aos autores de rebanho, a plataforma está se afastando de seu ideal original e da proposta para a qual foi criada: ser, de fato, um recanto das letras.