Sobre o aumento aparente da fluidez sexual

... Particularmente em homens

Mais homens estão se declarando como "não-heterossexuais exclusivos"??

Mais homens autodeclarados heterossexuais estão se abrindo para experiências homossexuais??

Essas são perguntas que podem ser frequentes mediante a impressão popular de que "está faltando homem", diga-se, tradicional ou convencionalmente determinado. Mas será mesmo que se trata de uma realidade objetiva ou é apenas uma impressão exagerada?? Pois esses são os fatores que podem corroborar tanto para uma confirmação desta impressão popular quanto pela negação da mesma:

1. A ascensão do feminismo neoliberal e suas consequências negativas ao sexo masculino

As mulheres estão, em média, mais exigentes quanto aos seus parceiros??

Pois as estatísticas de relacionamentos, atualmente, parecem confirmar esse fenômeno do empoderamento capitalista do gênero feminino e sua tendência mais seletiva em suas relações conjugais, especialmente pelo aumento de solteiros crônicos, de ambos os sexos. Então, como resultado de uma maior dificuldade nas relações heterossexuais, pode estar aumentando a proporção de homens héteros que estão resolvendo "caçar com gato", se me entendem... Mas isso também pode ser uma demonstração tanto da natureza mais pragmática do macho em relação ao sexo, quanto da natureza mais fluida da sexualidade humana.

Só que, enquanto não tivermos estatísticas robustas confirmando esse fenômeno social aparente....

O feminismo neoliberal, então, pode, de fato, estar azedando as relações heterossexuais e dificultando a vida dos homens "mais tradicionais", só que sem ter esse efeito de aumento da fluidez, ou pelo menos não de um aumento significativo.

2. Maior acessibilidade ao sexo casual, especialmente o homossexual

É muito mais fácil um homem gay encontrar sexo casual do que um homem hétero, se comparados em um mesmo espaço de tempo. Claro que também existem os "incels" gays, mas mesmo os homens menos "bem sucedidos" no mercado da carne gay, ainda tendem a encontrar parceiros sexuais com mais facilidade do que um homem heterossexual, já que mulheres super liberais continuam mais raras e, mesmo entre elas, existe uma tendência de buscarem por homens que consideram sexualmente atraentes, reduzindo de maneira considerável a oferta de sexo casual entre os homens heterossexuais que não correspondem aos tipos considerados mais ideais entre as mulheres. Pois mesmo uma acessibilidade muito maior ao sexo casual, homossexual e sigiloso, do que tinha algumas décadas atrás, pode, na verdade, mostrar que a maioria dos homens heterossexuais continuam preferindo o celibato absoluto do que se enveredar em uma relação homossexual, mesmo que boa parte de sua masculinidade continue, digamos, intacta, no caso de preferirem por essa via. Isso se as estatísticas confirmarem que especialmente a (grande) maioria dos homens héteros jovens não estão realmente ampliando qualquer potencial de fluidez sexual que possam apresentar... Pois já existem estudos (ou pesquisas) mostrando um forte aumento na identificação com o espectro LGBT entre os mais jovens, homens e mulheres, o que pode ser um indicativo de que esse fenômeno, do aumento da expressão da fluidez sexual, é real e não apenas uma impressão.

3. Maior tolerância social à diversidade sexual

Se algumas sociedades se tornaram mais tolerantes à diversidade sexual, então, é de se esperar que mais pessoas acabem se experimentando sexualmente, buscando por novas experiências, inclusive se embrenhando em relações não-heterossexuais, afinal, definitivamente, não é o mesmo que umas décadas atrás, em que a diversidade sexual era fortemente reprimida.

Porém, não dá pra concluir que essas sociedades que, particularmente, se tornaram mais tolerantes à diversidade sexual, chegaram ao ponto de normalizá-la, que seria o nível mais alto de tolerância, de pós-tolerância, em que certos comportamentos passam a ser tratados com absoluta naturalidade. Isso realmente não aconteceu, além de ter retrocedido recentemente, com a ascensão e protagonismo da agenda radical trans. E se, por estar nesse meio caminho que se consiste a tolerância, entre a intolerância e a naturalização, a maioria dos homens heterossexuais continuam a sofrer pressões culturais constantes para se comportarem como homens típicos. Mas isso também pode ser o resultado de suas próprias naturezas, um desejo mais natural (ou hormonal) de expressarem suas masculinidades e não necessariamente uma imposição. Por enquanto, talvez a melhor avaliação que se possa fazer quanto a essa situação abordada no texto é a de que realmente tem ocorrido um aumento da fluidez sexual em ambos os sexos, justamente pelos fatores elencados, cada um contribuindo à sua maneira, uns mais (maior tolerância à diversidade e acessibilidade ampliada ao sexo casual e sigiloso não heterossexual??), outros menos (feminismo neoliberal??)... Mas esse aumento não parece ser significativo, primeiro por causa do aumento limitado da tolerância à diversidade sexual e, segundo, pela própria natureza da sexualidade humana, predominantemente heterossexual e não-fluida. Pois a discussão mais relevante não seria se tem ocorrido um aumento da fluidez sexual, e que parece notório que sim, mas o quão significativo, e por fim qual é a proporção de heterossexuais exclusivos e não-exclusivos?? Outra pergunta relevante seria se esse fenômeno é, em boa parte, produto de contágio social ou, em palavras ainda menos lisonjeiras, lavagem cerebral, ou se, pelo menos em relação à orientação sexual, um ambiente social mais tolerante inevitavelmente funciona como um gatilho para um aumento da fluidez sexual quanto da orientação não- heterosexual, seguindo a lógica da repressão e da liberalização, ou respectivamente, "represamento" de tendências mais naturais e o seu oposto.