"O mundo não é uma Poliana!"

Você já ouviu falar da síndrome de Poliana? Bem, esse conceito da psicologia vem de um clássico antigo do século 20 chamado "O mundo de Poliana."

Esse clássico, que recentemente inspirou uma novela infantil do SBT chamada "As Aventuras de Poliana," mostra uma menina um tanto sonhadora que sempre via soluções e oportunidades diante dos problemas e dificuldades.

Embora esse clássico possa ser visto como um belo ensinamento sobre resiliência e superação, ele é criticado pelo excesso que traz, ou seja, pelo fato de ignorar as realidades. E isso, muitos influenciadores do mundo digital, coaches, ideólogos, sejam de direita, esquerda, centro ou extremistas, e certos religiosos ignoram. Por exemplo:

Porque assim como há muitas coisas belas no mundo, é bastante perceptível também que há muitas outras feias e cruéis. O mundo é, sim, também mal.

Não tem como olhar para o mundo e dizer, por exemplo, que é possível achar coisas boas na fome e na miséria, que, diante de uma pandemia em que milhares de pessoas morreram, podemos aprender a dar mais valor à vida, que é possível superar e enxergar lá na frente, com a morte de um filho adolescente, algo extraordinário nesse fato. Não! Nem tudo é "Poliana."

Fome e miséria, pandemia e a morte de um filho adolescente não são coisas para se ter resiliência e superação. São coisas más, ruins e estarrecedoras. São coisas para se lamentar profundamente, a ponto de deixar a alma amargurada e angustiada. Vejam o caso de Jesus Cristo na cruz. Ele não disse: "Nossa, que legal, estou em uma cruz. Vou salvar o mundo!" Não!

Simplesmente disse: "Pai, se possível, afaste de mim esse cálice; todavia (eis a diferença, a confiança), seja feita a sua vontade, não a minha." Ou seja, Jesus não brincou de superação e resiliência, mesmo sabendo que seria ressuscitado em três dias, conforme a narrativa bíblica.

Enfim, em um mundo de muitos charlatões como o nosso, deveríamos tentar viver como a vida é, ou seja, ora mel, ora fel. Pois, como não dá para viver só de ilusão, é necessária também uma bela dose de realidade, ainda que a detestemos!