Vende 30 quilos de personalidade no açougue?
Algumas pessoas — principalmente homens — são figuras tão anodinas que não se distinguem em nada da grande massa da sociedade. Esses, sinceramente, deveriam passar no açougue e comprar 30 quilos de personalidade.
A Banalidade no Homem É um Defeito Moral
A banalidade até pode ser relevada na mulher, contanto que ela seja bonita. Agora, o homem ser banal, não ter personalidade, é um grande defeito de caráter e de moral. Uma figura amorfa, que nada é.
Mulheres que se Contentam com o Nada
E o pior ainda são as mulheres que aceitam namorar ou ficar com um homem desses. Talvez por medo de ficarem sozinhas. Quem sabe por não suportarem nem a si mesmas?
Reduzido a um Órgão
Um homem que não é mais do que seu órgão genital, para dizer que é homem… é pouco demais.
As Paixões Como Espelho da Alma
A questão do gosto, das paixões que ardem e movem um homem, dizem muito sobre sua personalidade. Alguém desprovido de paixões não pode ser interessante. Como se diz em O Segredo dos Seus Olhos: um homem pode esconder tudo, menos suas paixões.
Ora, é claro que há paixões mais banais do que outras. Mas nada é mais banal do que não ter paixão nenhuma. Essa pessoa morreu por dentro.
O Que Torna Alguém Interessante
Por exemplo, um colecionador de selos, um pescador contumaz, um aquarista — não vão ser tão interessantes quanto alguém que gosta de viajar, um bon vivant, um contador de histórias (porque as viveu), um filósofo, um corredor, etc.
Paixão Sem Conhecimento Também é Vazio
Mas também não é admissível alguém cuja paixão é baseada em desconhecimento. Alguém que torce para um time mas desconhece sua história, até mesmo o elenco. Alguém que diz gostar de futebol, mas não entende a história do esporte. Isso é pose, não paixão.
As Afecções do Corpo Apaixonado
E se engana quem pensa que todas as paixões são boas. Pelo contrário. Segundo Espinosa, um corpo apaixonado é um corpo afetado pelo mundo. E essas afecções podem ser tanto negativas quanto positivas.
Por exemplo, o orgasmo é uma alegria restrita a uma parte do corpo. Já o prazer pode ser tanto positivo quanto negativo, dependendo do tipo de afecção. Epicuro já dizia, em sintonia com Espinosa: o prazer bom é aquele que não oferece dor no corpo nem padecimento na alma. É o que Espinosa chamava de contentamento: o prazer que envolve o corpo inteiro, uma alegria expansiva, integrada.
O Corpo Apaixonado e a Potência de Existir
Um corpo apaixonado é um corpo que responde ao mundo com intensidade. Ele se afeta e é afetado. As paixões que aumentam nossa potência de existir — como o conhecimento, o amor verdadeiro, a alegria compartilhada — são positivas. As que diminuem essa potência — como o medo, a inveja, a vergonha — são paixões tristes.
O ideal, segundo Espinosa, não é se livrar das paixões, mas compreendê-las. Porque quando compreendemos o que nos afeta, podemos transformar o impulso em ação. Podemos deixar de ser arrastados pelos efeitos e começar a produzir causas.
O corpo apaixonado é aquele que se deixa atravessar pela vida — mas escolhe o que fazer com isso.