Ética e Evolução

Uma das primeiras lições que se estuda numa Escola de Adiantamento Mental é que não há evolução sem ética, que essa não é etiqueta, parecer polido, educado, simpático, ao invés de sê-lo verdadeiramente. Ser ético é ser humano na verdadeira acepção da palavra; capaz de valorizar a vida de relação como uma lição para o aprendiz que pretende aperfeiçoar-se, completar-se. O ser humano é uma figura plena de possibilidades, mas incompleto. Desde o instante do nascimento para este pequeno mundo tem a grande oportunidade de se completar, se aperfeiçoar. E nesta aventura grandiosa, epopeia magistral na qual poderia transformar a sua existência, a ilimitada possibilidade de aprendizado na convivência com os semelhantes, pais e irmãos, depois os amigos da infância e adolescência, a família, os filhos, os colegas de trabalho, a sociedade. Há tanto que aprender com os outros e um pouquinho para ensinar também. Dar muito de si e não esperar nada dos outros talvez seja uma fórmula de felicidade, de sabedoria. Podemos aprender com todos, mesmo com aquele que não é muito simpático. É fácil dizer: “Aquele me incomoda, não quero vê-lo mais.” O que incomoda não é o outro, senão algo dentro de nós, que está de cabeça para baixo. Não queremos tolerar nada dos outros, mas queremos que todos tolerem tudo de nós. Não há maior escola que a vida de relação. Aquele que nos incomoda é o melhor professor, e pode nos ensinar a olhar para nós mesmos e analisar os nossos aborrecimentos. Grande mestre do qual nos afastamos por nossa incompreensão.

Sim, não há evolução sem ética; e um dos princípios dela deveria ser enfrentar os fantasmas interiores, que nos afastam das pessoas. A adversidade é uma grande mestra; esses incômodos deveriam ser também. Quantos projetos e vidas perdidos por aborrecimentos inúteis! Quanta incompreensão e perda de tempo!

Por que o homem não se encontra? O que lhe falta para completar a sua figura? Numa conferência pronunciada em Montevidéu há muitos anos, o pensador argentino González Pecotche afirmava: “Isto sucede com todos; sejam ricos ou pobres, bonitos ou feios. Uns têm o que a outros falta; e o que para uns falta, outros têm. E a grande questão reside no seguinte; ninguém quer dar ao outro o que tem, porque pretende que o que tem é melhor que o que lhe falta e o outro tem. E neste labirinto de comparações dos fragmentos humanos é onde se encontra a maior causa das dissensões, e, por sua vez, de onde parte a equivocada posição de todos os seres, sem exceção, o que se poderia definir com uma só palavra: incompreensão”.

Assim, uma nova ética implicaria uma revolução comportamental, uma equanimidade no juízo dos próprios valores e nos dos demais para ser mais humano, menos pretensioso; saber olhar, ouvir, melhor julgar, para poder evoluir.

Nagib Anderáos Neto

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