Documentário: O Gênero em Questão (II)

O documentário é uma das formas mais eficazes de cinema, e de jornalismo. Proliferam mundo afora os festivais que comprovam a importância deste gênero audiovisual.

As cinematecas em Israel vem apresentando ótimas mostras de documentários variados. No mês de abril, "Docaviv" foi o festival em cartaz, no qual a cidade de Tel Aviv recebeu inúmeros vídeos de qualidade. Filmes de diversos países foram exibidos, e outras cidades também apresentaram esses lançamentos, tais como Jerusalém e Haifa.

Em sua décima edição, o "Docaviv" foi crescendo ao longo dos últimos anos, mesmo enfrentando algumas dificuldades. Quando um bebê acerta um "chute" dentro do ventre materno, é sinal de que há uma vida surgindo com força. Pode-se, então, fazer uma analogia entre o nascimento desse bebê e a realização de um bom documentário, pois ambos "rompem barreiras", literalmente.

Temos visto, nos últimos anos, várias mudanças na realização de documentários. Não faz muito tempo em que esse gênero era visto apenas como sendo uma "mera arte caseira". Gradativamente, porém, o documentário vem penetrando no mundo do cinema e criando uma legião de fãs, sedentos por novidades. Devido a essa nova popularidade, o seu formato vem se alterando e se adaptando aos anseios de sua bem-informada audiência.

Há algumas décadas atrás tinha-se mais facilidade para definir conceitualmente um documentário, mas hoje em dia essa tarefa é mais complexa. Se antes a aparição de atores, animações e produção estilizada era rara, atualmente não é mais. Neste período "pós-moderno" - já se pode dizer "pós-documentário" - a idéia de se ter apenas uma única verdade foi-se embora, permitindo várias interpretações e formas narrativas.

O mundo imortalizando a si próprio. A essência de um documentário é mostrada de forma plena em festivais como o "Docaviv". Além de trazer a realidade tal qual ela é, a escolha do tema e a maneira como um filme é realizado atingem objetivos de implicações políticas e sociais. Não apenas uma câmera registrando o que está acontecendo; é a câmera tomando parte ativa nos fatos, fixando uma posição, tornando-se um observatório da vida, chamando a atenção do público aos problemas e sofrimentos da sociedade, além, é claro, à critica - muitas vezes um auto-criticismo.

Nestes exatos dez anos de atividades, o "Docaviv" apresentou algumas mudanças substanciais no que se refere à realização de documentários israelenses. Essas alterações são verificadas no conteúdo e na quantidade produzidos nesta última década, comprovados pela qualidade e pelo crescente número de profissionais envolvidos na realização desses filmes.

A escritora e crítica norte-americana Susan Zontag dizia: "Uma câmera transforma o espectador num turista, visitando a realidade de outras pessoas, e muitas vezes de si próprio". Geralmente, um documentário não utiliza atores profissionais. Os heróis de verdade são pessoas comuns, e, através deles, nossos sentimentos são aflorados, encurtando distâncias e preenchendo as lacunas existentes entre ambas partes.

Elevando a produção cinematográfica israelense a patamares internacionais, o "Docaviv" comprova que Israel é um terreno fértil à existência de fortes histórias de vida, complexidades, à narrativa nacional, ao mesmo tempo tocando e provocando o público. Além do entretenimento, a análise de importantes questões de nossa sociedade vieram à tona, instigando saudáveis debates e "dando à luz" à discussão de fenômenos não-familiares ao dia-a-dia da comunidade em geral.

No Brasil, o festival "É Tudo Verdade" provou a força que os documentários possuem. Em Portugal, o "Doc Lisboa 2008" promete abalar estruturas em outubro próximo. Novembro, será a vez do "Festival dei Popoli", em Florença, na Itália, já entrando em sua 49a (quadragésima nona) edição.

Os bastidores de um show dos Rolling Stones (Shine a Light- 2006), dirigido por um tal de Martin Scorsese; o mergulho na vida noturna japonesa (The Great Happiness Space - 2006), revelando peculiaridades de prostitutas e garotos de programa, à base de muito champanhe, na moderna e caótica cidade de Osaka; a análise do estado mental de portadores das mais variadas obsessões, relacionadas à morte, ao conhecimento, ao sexo, controle, exposição pública, higiene, conectados à vida moderna (Obsession - Israel, 2008); e a luta de Thomas Young, veterano de guerra no Iraque, confinado a uma cadeira de rodas, e muitas sequelas pelo corpo, pelo fim deste monstruoso conflito, além da exibição de vários discursos demagógicos de George W. Bush e seus respectivos comandados (Body of War - EUA, 2007), são apenas alguns dos inúmeros exemplos de excelentes documentários realizados nesses últimos anos.

"Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça". A célebre frase do eterno Glauber Rocha se aplica totalmente à realização de um documentário. Portanto, "mãos à obra", caros guerreiros. Vamos fazer parte desse contexto e ajudar a escrever importantes páginas de nossa história. Essa é a minha humilde sugestão. Viva o Documentário!