O ROMANCE HISTÓRICO

Há quem ataque o romance histórico, sob a alegação de que, não sendo puro romance, nem história pira, essa forma literária é prejudicial aos leitores menos avisados, que passam a ter uma idéia deturpada sobre os fatos reais, depois de conhecê-los através da imaginação fantasiosa do autor.

Mas, o verdadeiro romance histórico não é, como muitos pensam, uma deturpação fantasiosa de fatos verdadeiros. O autor não subordina a História ao seu enredo. Ele, pelo contrário, faz viver suas personagens de ficção, dentro de um quadro rigorosamente histórico.

Este tipo de romance tem grande missão, principalmente no Brasil, onde é grande o número dos que desconhecem, quase totalmente, a nossa História. Tal missão é a de despertar interesse e curiosidade nos leitores. Em desconfiando de certos pontos da narrativa, os curiosos irão procurar fontes fidedignas, para separar o que é fantasia do que é verdadeiro.

Falemos, agora, também, sobre a linguagem:

Muitos autores (e leitores) gostam, nos romances que falam do passado (os chamados romances “de época”), de uma linguagem com o sabor do tempo evocado.

Ora, o português falado na distante quadra dos descobrimentos é, para nós da época atual, quase uma língua estrangeira. Citar um diálogo entre “mareantes” de 1500, usando aquela linguagem eriçada de termos, expressões e gírias da época, obrigaria os leitores a recorrerem aos dicionários, quase sempre em vão. Poder-se-ia, quando muito, usar um ou outro termo, compreensível pelo sentido geral e posição no texto.

Cabe, também, falar alguma coisa sobre os índios:

Hão de estranhar os leitores, determinados costumes atribuídos aos nossos índios quinhentistas. É preciso, a bem da verdade, pintá-los como verdadeiramente eram, sem o exagerado romantismo com que a maioria dos brasileiros está acostumada a conhecê-los, isto é, possuidores das mais excelsas virtudes e das mais espirituais qualidades. Os descrentes poderão tirar suas dúvidas,lendo Gabriel Soares, Fernão Cardim, Varnhagem, Hans Staden e utros autores da época.

Julio Sayão
Enviado por Julio Sayão em 27/01/2006
Código do texto: T104671