O PÉSSACH

"Péssach = a festa das festas. A festa da Liberdade e da libertação, com toda uma sinfonia de motivos e caracteres de conteúdo diverso nas distintas épocas, porém todos sobre a Liberdade

A festa da reivindicação social: quando uma horda de escravos sacudiu o jugo do mais poderoso entre os autocratas e opressores da antigüidade -- o Faraó do Egito -- e sentiu em suas carnes a bênção da Liberdade, o maior bem que o homem pode alcançar e a que aspira, desde que fez uso da razão.

A festa da redenção nacional: quando a mesma horda de servos libertados, percebeu, subitamente, com dignidade e fidalguia, seu valor e importância. Também aquela gloriosa hora de "Hajon hazé nihietá lean" -- "naquele dia te tornaste povo" -- se acha entrelaçada na festa do Péssach, para toda a eternidade.

A festa da Primavera: "Quando a pombinha arrulha, a pombinha chama" e a natureza toda, libertada das cadeias do gélido inverno, responde com um canto de despertar e ressurreição.

A festa da "matza": o primeiro passo importante de civilização e cultura, a primeira intenção humana de preparar um alimento que possa conservar-se por muito tempo, de assegurar a existência durante dias e semanas e libertar-se da inquietude quotidiana do caçador carnívoro, que vive preocupado com o eterno problema: que comerei amanhã?

A festa do "marór": --ervas amargas -- que um povo libertado come, há milênios, como recordação do sabor amargo que sentiu, quando de sua juventude, submisso e cativo.

A festa de Péssach, a festa familiar do sacrifício de tenros cordeiros e cabritos que, com seu sangue jovem e ardente, selam a aliança entre famílias e tribos, libertando o homem do temor a seus semelhantes. Existe, evidentemente, uma certa relação entre a festa do Péssach e o arcaico costume horrível dos sacrifícios humanos; porém essa relação é totalmente contrária ao que os opositores fanáticos pretendem fazer crer. Péssach e sua oferenda (o cordeiro) são a expressão da severa luta do judaísmo contra o medonho costume dos sacrifícios humanos, especialmente a imolação de primogênitos que, sob a influência dos hebreus, começou a ser substituída por oferendas de cordeiros e cabritos. A arcaica crença judaica que, na noite de Péssach, pereceram os primogênitos egípcios, enquanto os hebreus ficaram vivos, é uma interpretação lendária de um verídico acontecimento histórico. Não só os primogênitos dos egípcios, como também os de outros povos -- amonitas, moabitas, arameus, fenícios e até os primitivos gregos -- eram oferecidos em holocausto, nos dias da festa da Primavera. Essa antiquíssima luta pelo princípio de que a vida humana é sagrada e inviolável, luta que tem sua mais alta expressão na festa do Péssach, é a maior contribuição judaica ao enobrecimento da espécie humana; o primeiro passo e, provavelmente, o mais importante da libertação e dignificação de um ser, cuja existência tem sido consagrada a idéias elevadas e aspirações espirituais. Pois conforme assegura a Torah (Bíblia), o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus e, por sua vida, a Ele deve prestar conta. Péssach não é apenas a festa do passado; é, também, a festa do futuro. Entre o "Péssach do Egito" e o "Péssach Eterno", está traçada a linha liberatória, não só do povo judeu, senão da humanidade toda. E, quando a redimida e irmanada humanidade buscar a data do seu primeiro passo libertador, para instituí-lo como o "Dia Universal da Liberdade", deverá adotar o dia "14 de Nisán" (primeira lua cheia depois do equinócio da primavera), quando, com o Êxodo, foi colocada a pedra fundamental de um mundo livre, que está nascendo em meio a grandes dores, da luta secular entre povos, luta que se prolongará até que a Humanidade encontre o verdadeiro caminho para a verdadeira Liberdade, simbolizada pela festa do Péssach.

Julio Sayão
Enviado por Julio Sayão em 28/01/2006
Reeditado em 28/01/2006
Código do texto: T104841