Duas certezas da vida: a morte e as mudanças...

Trabalho em uma indústria de embalagens plásticas e gostaria de compartilhar uma experiência com você, caro leitor. Estamos trocando o software que gerencia os pedidos, ordens de fabricação e vendas da empresa. Procuramos modernizar e aproveitar os benefícios da tecnologia, são as facilidades proporcionadas pelo progresso. Sabemos que com o novo software os processos serão mais ágeis, dinâmicos e redundarão em melhoria para todos, seja do setor administrativo ou da parte fabril. Mas, há um senão. Um senão chamado MUDANÇA. Porque para que isso ocorra as mudanças são inevitáveis. E Quanta dificuldade para mudar. Estávamos acostumados com uma configuração, um perfil um layout e nos deparamos com nova configuração, novo layout, novo perfil. Fui contra, tentei de todas as formas boicotar a mudança, em vão. Diante dos argumentos dos colegas e da imposição da empresa fui obrigado a aceitar. Alguns funcionários do setor fabril também foram contra, afinal, a mudança atinge diretamente a área em que eles trabalham. Condicionados a identificar as ordens de fabricação pela cor, agora terão que ler. Pois é, terão que ler. Difícil? Nada, ler é fácil, o complicado é mudar, sair da zona de conforto e enfrentar o novo. Os colegas costumam dizer lembrando um chavão futebolístico: "Para quê mudar?" Time que está ganhando não se mexe!". Será mesmo? A Olivetti pensava assim, estava ganhando e não cogitava mudanças, continuou fabricando máquinas de escrever que eram necessárias aos escritórios, mas a evolução chegou e trouxe os computadores, as máquinas de escrever então ficaram obsoletas e caíram em desuso, a mudança ocorreu, a Olivetti era um time que estava ganhando e não mexeram nele, então...

Então perdeu! Nesse mundo com mudanças abruptas ou aprendemos a nos adaptar às novidades, ou ficaremos marginalizados pelo progresso que impõe constantemente novas situações. E interessante que essa dificuldade para aceitar as mudanças ocorre em todos os quadrantes da vida. Conheço um senhor que não muda a posição de sua cama de forma alguma, viúvo, a deixa do mesmo modo de quando a esposa faleceu, afirma que é uma maneira de se lembrar dela. Está condicionado a isso, não adianta ninguém falar para vender o móvel ou tirá-lo dali que ele não escuta. É a nossa velha inflexibilidade impedindo de olhar outras alvoradas. Inclusive a questão que envolve a morte está dentro desta discussão pertinente à dificuldade de adaptação ao novo. Imagine, de uma hora para outra o pai querido, o amigo conselheiro, a mãe generosa, o avô carinhoso não está mais materialmente conosco. È uma nova situação, teremos que nos adaptar as novas circunstâncias impostas pela vida. Como viver sem eles? Como ficar sem os conselhos, abraços, afagos? Novas situações que pedem uma nova postura. È o universo conspirando para nosso aperfeiçoamento. Lembro de quando minha mãe faleceu, muito carinhosa e bondosa, era uma grande mãe na acepção da palavra. Todavia, não obstante a tristeza pela sua partida, hoje afirmo sem medo que sua ausência me levou a um grande crescimento pessoal e profissional. Sim, quando em vida minha mãe me abraçava demais, a velha questão do protecionismo ilimitado ao filho que o impede de alçar vôos mais altos em direção à responsabilidade de governar sua própria vida. Mesmo depois de alguns anos de casado era minha mãe que colaborava sobremaneira no sustento de minha família. Com sua morte precisei encarar a realidade da nova situação. Responsabilidade não faz mal a ninguém. No começo fiquei com medo, mas depois tive de bater asas e encarar o novo desafio. E que desafio. A nova situação me fez enxergar uma outra vida, até então desconhecida. Tive de trabalhar mais, me empenhar mais, enfim, aprender mais. A mudança é um dos braços da evolução, porquanto incita ao novo afastando de nós o condicionamento que nos deixa estagnado vivendo tempos remotos em épocas atuais.

E você, tem medo do novo? Tem dificuldades de se adaptar às mudanças, sejam elas tecnológicas, sociais, familiares ou profissionais?

Como está sua coragem para enfrentar novos desafios? Aqueles que dizem que a única certeza que temos na vida é a morte, estão em parte, equivocados, além da morte há também como certeza as mudanças, por isso vale a pena conferi-las de perto, para que não sejamos, assim como a Olivetti, pegos de surpresa pela evolução.

Wellington Balbo
Enviado por Wellington Balbo em 09/07/2008
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