NO RANKING DAS OLIMPÍADAS

Era quase meia noite deste 15 de agosto quando o Brasil conquistou sua primeira medalha de ouro nas Olimpíadas de Pequim. César Cielo comemorou de maneira emocionada, bem ao estilo brasileiro como não podia deixar de ser.

Mais de 70 medalhas de ouro já haviam sido conquistadas quando o Brasil conquistou a primeira. Com a medalha o Brasil subiu 10 pontos no ranking. Mais de 150 países não tinham conquistado nada, a não ser a chance de participar com algumas modalidades. O Brasil, que quer estar entre os melhores do mundo, na economia, talvez não chegue nem perto dos oito melhores na olimpíada.

Países pobres, como Cuba costumam ter um grande desempenho. Outros, como a Romênia, tem desempenho bom em algumas modalidades específicas. O Chile, muito mais rico que Cuba, dificilmente conquistará alguma medalha nesta olimpíada. As olimpíadas já serviram no passado e servem agora também para um congraçamento entre atletas e, por tabela, um melhor relacionamento entre os países.

Contudo, as competições internacionais servem para mostrar que há um mundo dinâmico lá fora. Muitas vezes nos julgamos os melhores porque não somos testados pela concorrência. Nem percebemos o quanto e em que aspectos devemos melhorar. É muito bom e saudável fazermos comparações com passados distantes ou nem tão distantes. Porém, importante também, nesse mundo globalizado, é compararmos nosso desempenho com o que existe lá fora.

Cuba investe em educação e o esporte de equipe ou individual faz parte da educação. No Chile, o investimento em educação também é forte. Tanto público quanto privado, mas é dissociado de esporte.

No Brasil, as mudanças são muito abruptas, e o que vale hoje pode não valer amanhã. Não existe um programa permanente de descoberta e de treinamento de atletas. Infelizmente, medidas provisórias editadas sobre as coxas não têm efeito duradouro. Empolgação de torcida vale na hora da disputa, mas não ajuda na hora da formação do atleta. Basta assistirmos os programas esportivos de Manaus. Atletas não têm dinheiro pra passagem para participar de competições fora daqui. Triste a constatação do atleta de judô que ficou estacionado numa categoria porque não tinha dinheiro para a troca de fardamento, se mudasse e categoria.

A vida de atleta não é diferente. O patrocínio sempre é pontual, jamais se estende a um longo período. Quando o atleta vai bem, no peito e na raça, talvez tenha a sorte de conseguir uma passagem de avião. No local de destino, deve se virar do jeito que der: Onde dormir, onde e o que comer etc, ficam por conta dele. Ora, atletas precisam de alimentação e repouso adequados.

Se temos de um lado, jogadores de futebol milionários, temos na outra ponta atletas valiosos estendendo o chapéu para ninguém. O Brasil está cheio de histórias tristes e outras heróicas no mundo do esporte e atletismo. Nada deve ser imposto, mas se houver interesse por parte do atleta deveria encontrar apoio em alguma parte.

Até mesmo os heróis olímpicos brasileiros se vêem na contingência de treinar fora do país porque não há clima por aqui. Exemplo vivo é o basquete feminino. Já foi medalha olímpica, foi caindo de categoria e agora não se classificou para as finais. Talvez nem participe da próxima olimpíada e a queda continuar assim.

Chegar às olimpíadas já é uma marca fenomenal para qualquer atleta ou qualquer equipe. Porém conseguir uma medalha deixa toda uma nação ufana dos feitos de seus atletas. Esta sensação de participar entre os melhores supera qualquer propaganda oficial dos feitos do governo.

Todos gostamos de ouvir o Hino Nacional nestas ocasiões. Ouvir o Hino Nacional enquanto as lágrimas descem pelos olhos dos atletas brasileiros é mais empolgante que ouvi-lo em ocasiões solenes, com autoridades políticas cochichando nos ouvidos um dos outros em desrespeito ao símbolo nacional.

Há um longo caminho a ser perseguido. Que tal o poder público ter a persistência de um atleta sem dinheiro?

Luiz Lauschner – Escritor e Empresário.

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 16/08/2008
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