Perda Por Erro Médico..Ferida que não cicatriza...

Sei que nesta terra estranha em que habito, existem valores que não coadunam com os meus. Sendo eu daqui habitante tenho que seguir por trilhas doridas e pela vida ditadas. Ainda hoje me pergunto como fui capaz de revirar essa cidade em busca da justiça..moca, morosa e ardilosa para que aquele que ceifou a vida de minha mãe fosse punido. Deus! Por cinco longos anos eu lutei, enfrentei olho no olho o vil covarde que não teve discernimento para aquilatar a atrocidade feita. Consegui..consegui provar o crasso e não primário erro..não sem antes muito brigar. Não sem antes ser perseguida, não sem antes mostrar aos Doutos, o bicho.. o bicho eu.. machucado, assustado..aterrorizado..e dotado de uma força inumana ante a imensa tragédia. De tudo abdiquei, a tudo enfrentei, enfrentei o descaso, o desânimo, o coro imenso dos que diziam "deixa pra lá". Não, eu não poderia, não se deixa pra lá uma sociedade de criminosos e cínicos.(Hospital Santa Maria e cia) E quão imensa foi a fila de cínicos a tentar tripudiar com minha dor. Como advogar tal causa? Como ser imparcial? Nunca se é..nunca!! Como aceitar e acatar os desmandos, as mentiras deslavadas? Não..eu não poderia ser imparcial, nunca fui imparcial, neutra. (pois fui sim chamada de passional..movida à dor e à paixão..) Nunca fui de acatar injustiças, métodos frios e calculistas, e, se isto é ser passional e movida à paixão..eu sou e não me envergonho!! E assim, foi reconhecida a minha certeza, a certeza que a morte de minha mãe deu-se por: imperícia, negligência e imprudência. Homicídio culposo, isto depois de longa atuação como assistente do caso junto à promotoria. No CRM-GO, em processo administrativo para a perfeita elucidação dos fatos, o corporativismo gritou alto, e toda a minha luta, as provas cabais, provas que eu como Denunciante tive que buscar, todas, todas eu consegui..mas foi em outra madrugada fria, que após um julgamento de mentirinha, eu vi ruir todos os conceitos e preceitos que tanto e sempre eu respeitei. Ele foi absolvido. Recurso ao CFM no dia seguinte. Esperas, dores. A dor da perda de minha pequenina mãe, a dor batendo de frente com a injustiça. Foi vergonhoso para o CRM-GO, pois o CFM reconheceu os fatos escalabrosos alegados e provados no Recurso. Não, ele não teve cassado o Registro, mas teve sua pena que culminou com suspensão das funções, assim como a publicação do feito na forma Legal. Foi minha última entrevista sobre o caso. Estava findado. Foi quando eu pude chorar aquela que mais amei. Foi quando percebi o quão meus filhos haviam crescido. Percebi também que minha família, meus irmãos, estavam perdidos no redemoinho da orfandade. Hoje, eu travo uma luta desigual, pois há uma indenização a ser paga. Mas, por mais que eu tente, que todos me cobrem tal atitude, eu não quero, não quero advogar essa causa, mesmo sabendo que é uma obrigação minha. Quero e peço a Deus a força, imploro a coragem, mas, nada. Sei que tenho que dar o primeiro passo..e parei..exatamente nele. Vejo olhos que tanto me cobram, mas sinto estar auferindo lucro com a morte de minha mãe. Não quero tal dinheiro, mas vou, pela família. Só peço à ti minha mãe..o perdão..me perdoa bela, perdoa tua filha tão ferida pela triste opção. Não me abandones Senhor, nessa gigantesca, escalada novamente rumo à dor.

Deixo meus agradecimentos aos grandes amigos e honrosos médicos que tanto me ajudaram no passado e que mais uma vez, estão prontos para que eu prossiga. São livros, conversas, dicionários e muito.. muito apoio afetivo e moral, eis que exercem a profissão de forma íntegra..pois errar é da essência humana..Mas..achar-se Deus, no narcisismo mais tacanho, na arrogância e prepotência sem parametros para se aquilatar, achar-se estar acima do bem e do mal, geralmente termina num ramalhete de flores orvalhadas por lágrimas doridas ante um solitário túmulo, lá onde o chão impede o abraço saudoso e o beijo abençoado.

E assim terminou tão triste história...agora outra luta..dorida para recomeçar........

Dorothy S. Carvalho

Goiânia, 29 de agosto de 2008

Dorothy Carvalho
Enviado por Dorothy Carvalho em 29/08/2008
Reeditado em 13/05/2022
Código do texto: T1151910
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