A origem do Racismo. - Parte I
 
Talvez o nascedouro do racismo possa ter encontrado justificativas na própria Bíblia Sagrada,  um livro que por ser o alvo preferencial do inimigo de Deus, foi escolhido pelos fanáticos para justificar as suas ações extremadas.  Com base em um texto isolado, encontra-se um pretexto fundamentado. 

Mas o que me proponho a fazer é analisar as raizes do racismo como um processo histórico, com reflexões na era contemporânea  e, nesse caso, a  nossa gênesis começa no  século XIX na ilha Flinder, na Tasmânia. Ali aconteceu um dos piores crimes do imperialismo britânico, com impactos fatais que repercutiram por toda a história vitoriana.
 
O vasto e crescente imperio da Grã Bretanha chegou na costa sul da Austrália e encontrou ali perto de 5.000 aborígenes tasmanianos, que, completamente isolados da civilização,  viveram muito bem por 10 mil anos. A chegada do homem branco imediatamente deflagrou a guerra negra contra os donos da terra.  Em algum ponto do caminho as idéias abolicionistas da Inglaterra, que haviam acabado com a escravidão dos negros no Caribe, foram trocadas por reflexões mais sombrias que acabariam por autorizar uma matança generalizada.
 
Enviado para ser o Governador Colonial do Imperio Britânico, George Arthur sente-se compelido a intervir na matança. George é profundo conhecedor das Escrituras e com base em sua fé  procura impedir o avanço da barbárie. Para isso, manda fabricar cartazes e afixá-los nas árvores contendo ilustrações de paz que pudessem ser compreendidas pelos aborígenes. Havia nos cartazes homens brancos de casaca, cumprimentando negros de torso nú e vice-versa; como também havia nos cartazes, homens brancos e homens selvagens sendo executados sumariamente por seus atos de selvageria contra os oponentes.  Ou seja, o cartaz sugeria que a lei seria igual para todos.
 
Só que ninguém acreditou nem que a lei fosse igual para todos, e nem que a  paz fosse possível, e a matança, no interior da selva,  continuou a acontecer. Os imperialistas rapidamente repunham os seus homens, mas os aborígenes foram sendo dizimados.
 
Vendo que essa mancha recairia sobre o império britânico e sobre a sua vida, enquanto estadista, George manda chamar outro George.
 
 Dessa vez quem vem é George Augustus Robinson, missionário evangélico que já havia se tornado lider espiritual de parte do povo tasmanês. Esse segundo George tem, então, a idéia de levar os 300 aborígenes que restam para uma ilha e lá conviver com eles na tentativa de completar a sua evangelização e domesticação.
 
  Mudam-se todos -os que sobraram -para a Ilha Flinders e começa ali uma nova possibilidade de adaptação entre aborígenes e brancos.
 
O governo britânico lhes oferece   terras para o plantio, casas  para todos e uma capela em torno da qual se faz a implantação da comunidade.
 
 George Robinson chama a esse lugar “Ponto Civilização.”
 
 Robinson pensava que o “Ponto Civilização” lhes seria a vida tranquila, e que, longe da guerrilha sangrenta, usufruindo de casas confortáveis, trabalho digno, e a possibilidade diária e contínua de lhes ministrar as verdades bíblicas, se lhes completaria o que  faltava em humanidade.
 
Mas algo acontece que lhe escapa de sua compreensão: os aborígenes começam a morrer- um a um. As crianças não nascem mais. Os médicos britânicos que foram chamados para diagnosticar o problema, constatam que essas pessoas tinham seus espíritos deprimidos, com profunda reflexão nos corpos físicos. O sistema imunológico do povo tasmaniano entrara em queda abrupta abrindo caminho para todo tipo de vírus importados da Europa.  
 
Dos 300 aborígenes que foram habitar inicialmente na Ilha Flinders, 260 estão mortos. Em apenas uma geração, 10 mil anos de cultura, história e vida foram exterminados.
 
O colonialismo britânico chegou na Tasmânia por volta de 1803 e ao final da década de 1840, restavam apenas cerca de 60 pessoas como lembrança de um povo que tivera uma pátria, uma língua, uma cultura, uma história.
 
 George Robinson nunca percebeu o mal que lhes fazia ao tentar impor a sua cultura ao povo tasmaniano. Robinson se entristecia, chorava e se consolava pensando: “ melhor que tenham morrido aqui com conforto material e espiritual do que na selva, caçados como bichos e sem conhecer a Jesus Cristo.”
 
Robinson que tinha em suas mãos um mapa para expandir os limites geográficos da comunidade que ele esperava ver florescer sob a égide do cristianismo organizado,  depara-se com o planejamento de túmulos para enterrar os seus mortos.
 
A história desse povo termina com esse genocídio institucionalizado. Mas a reflexão que ela nos proporciona será de grande valor para entender como o racismo avançou para os séculos seguintes, ganhando força na humanidade até desembocar no holocausto do povo judeu.
 
 De forma que, para todos os homens, civilizados ou não civilizados, a experiência ensina que se não havia atos isolados, nem mesmo no século XIX,  quanto mais  não haverá nos dias globalizados.
 
 
*Artigo fundamentado no Documentário da BBC “Racismo – Uma história – Impactos Fatais.”
Ana Ribas
Enviado por Ana Ribas em 24/10/2008
Reeditado em 02/11/2008
Código do texto: T1244900
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