DRUMMOND, UM EXEMPLO

“DRUMMOND,

EXEMPLO

No ano do centenário de nascimento de Carlos Drummond de Andrade, um professor carioca, Nelson Tangerini (com foto), que manteve com o poeta breve correspondência, quer divulgar a obra deixada por Drummond e mostrar que ele é exemplo de retidão e honestidade.

CADERNO 2

Diário da Tarde [Front Page]

ANO 71 – NÚMERO 23.527 – BELO HORIZONTE, SEGUNDA-FEIRA, 14 DE JANEIRO DE 2002 – EDIÇÃO DE HOJE: 42 PÁGINAS – 5 CADERNOS.”

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“LITERATURA

Cartas de Drummond a um professor carioca

Na década de 80, o jornalista e professor de Língua Portuguesa e Literatura carioca Nelson Tangerini enviou a Carlos Drummond de Andrade poemas de sua autoria e de seu pai, iniciando uma troca de correspondências breves que se estendeu ao longo de vários anos. Tiete assumido de Drummond, Tangerini conta que teve o cuidado de não abordá-lo como tal, uma vez que já sabia da aversão do poeta a esse tipo de comportamento. Optou por buscar junto a Drummond informações sobre literatura, relacionadas principalmente ao Modernismo.

As cartas e bilhetes, além de um livro com dedicatória de Drummond, foram cuidadosamente guardados por Nelson Tangerini, que no ano do centenário do poeta, quer divulgá-los como uma forma de homenagear o ídolo, incentivando sobretudo estudantes a conhecer melhor a sua obra. Na última sexta-feira, Tangerini esteve em Itabira, terra natal de Drummond, onde deixou cópias dos documentos na Fundação Carlos Drummond de Andrade.

“Acredito que a literatura, e as artes em geral, têm o papel de humanizar o mundo, torná-lo menos agressivo e violento. As pessoas que lidam com elas, têm seus dons, devem estar engajadas nesse sentido, de defesa política, ecológica, de questões humanistas”.

Para Tangerini, Carlos Drummond de Andrade tinha esse compromisso. “Um exemplo disso está em A Rosa do Povo. Drummond se mostra bastante politizado, preocupado com os rumos do mundo, com tudo o que estava à sua volta. Ele retratou seu tempo”. O professor destaca também o escritor Affonso Romano de Sant´Anna como outro exemplo desse engajamento social.

Apesar de ter-se encontrado pessoalmente somente uma vez com Drummond, no lançamento de um livro da filha do poeta, o professor Tangerini conta que através das correspondências escritas e das conversas por telefone que manteve com ele, descobriu uma pessoa sensível, bastante atenciosa, embora muito reservada. “O que mais admiro nele é o exemplo de retidão, ele era bastante honesto, uma virtude rara no homem”.

Nelson Tangerini mora em Piedade, no subúrbio do Rio. Carlos Drummond de Andrade morava em Copacabana. Foi depois de o poeta ter sido patrono da turma de Jornalismo de Nelson que iniciou-se a correspondência entre eles. O material que Nelson considera mais raro é um livro do poeta português Alexandre O´Neill, que ganhou de presente de Drummond. “Nele, há dois autógrafos, de Alexandre e de Drummond”. Há também uma carta em que o poeta fala sobre o fazer da poesia, e outra na qual parabeniza o professor pela iniciativa de desencadear uma campanha contra a demolição da casa de Cruz e Sousa, localizada no bairro do Encantado, no Rio. Apesar do esforço, a casa foi ao chão.

Nelson Tangerini espera que o centenário de Drummond não passe praticamente despercebido, como aconteceu com o da poeta Cecília Meirelles, no ano passado. “Espero que não só Itabira, mas todo o país, se mobilize e os órgãos competentes invistam na divulgação de Drummond”. Entre as obras do poeta preferidas por Nelson Tangerini, estão os poemas Confidência do Itabirano, José e Poema de Sete Faces e o livro A Paixão Medida. (MP). ”(*)

(*) Texto de Marcelo Paolinelli

Publicado na pág. 5 do Caderno 2, do Diário da Tarde,

Belo Horizonte, MG, Segunda-feira, 14 de janeiro de 2002.

Posteriormente revisado por Nelson Tangerini.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 30/10/2008
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