Todos os meu “Eus”

Convivo bem com todos eles, acho que todos temos nossos “eus” as vezes escondidos, as vezes bem expostos. Mudamos de comportamentos a todo instante dependendo das pessoas com quem nos relacionamos, essa de que “sou assim” e não mudo não cola, somos “mutantes”. Tenho um “eu” enigmático, que não gosta de ser decifrado, que constitui seu próprio mundo egoísta e muitas vezes sem nexo. Meu outro “eu” mora num passado distante e quase nunca é inteiro, a não ser pela lembrança, mas é assim que ele gosta de ser, ele quer ser assim para poder escrever ao seu amor, vive numa busca absurda, procura alguém que nem sabe se ainda existe, mas que não foi fantasia, foi real no passado, está vivo? Morto? Não sabe, o importante é essa busca, e a cada viajem é uma sensação engraçada e surpreendente de reencontro. Meu outro “eu” encontrou o amor e é feliz, tem certeza de que amou e é amada, vive lutando pra que esse amor não morra, se entrega e as vezes sofre com a incompreensão, outras vive um amor romântico unilateral, pois seu amor não aceita o romantismo, mas esse “eu” precisa dessa incompreensão, um pouco contraditório, mas sensacionalmente emocionante, só que esse “eu” é o que mais sofre. Outro “eu” se apaixona por alguém que não conhece, se joga no desconhecido, em seus braços, se sente feliz, acolhida e amada do jeito que sempre sonhou, esse amor platônico, virtual faz esse “eu” feliz, pois esse amor não cobra nada, nem beleza, nem tempo, nem coragem, as vezes esse “eu” se sente sozinho no meio de uma multidão, de repente vê que ninguém sabe conversar. Meu outro “eu” é criança, gosta de empinar pipa, subir em árvores, rolar na areia, construir castelos, praticar rapel, comer besteira, rir a toa, cantar, dançar, tem desejos estranhos. Todos eles se encontram quando escrevo essa sensação que sinto quando coloco no papel o que sinto me faz mais feliz do que uma noite de amor, é o momento em que me amo, me basto, sou inteira, me sinto, chego ao clímax sozinha, assim, escrevendo. Reúno todos os meus “eus” nessa festa absurda e eles me completam, preenchem, me bastam. Me envolvo tanto que acabo fazendo amor com as letras, e elas me fazem sentir um prazer que ninguém pode me dar.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 27/11/2008
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