CHEIAS E ENCHENTES

Ao depararmos com o drama sentido pelos habitantes do vale do Itajaí em Santa Catarina, nos sentimos impotentes ante a força da natureza. Ao mesmo tempo que o drama das pessoas nos comove, fazemos muitos questionamentos sobre o por que dessa catástrofe. Seria o homem o culpado desse acontecimento? Se o homem é o culpado disso seria o habitante daquela região? A agressão à natureza tem reflexos na mesma região em que ela é agredida?

Na verdade, devemos ir devagar com as respostas, uma vez que as enchentes excepcionais já aconteciam antes do século XX quando aquela região ainda era uma imensa floresta. No tempo em que a mata era considerada como um empecilho ao progresso agrícola e, portanto um inimigo que tinha que ser dizimado. Mesmo assim as enchentes já existiam quando a devastação era pífia.

Contudo, não é o drama da enxurrada que queremos abordar aqui. Queremos tratar as diferenças que existem entre cheias e enchentes ocasionais. Se, em estados como Santa Catarina, há as enchentes que podem ou não repetir-se de tempos em tempos, na Amazônia temos a cheia que obedece a um ciclo. Embora sua intensidade possa atingir níveis diferentes a cada ano, isso não modifica sua periodicidade. Fenômeno análogo acontece com os invernos nas regiões não tropicais, onde as temperaturas oscilam a cada ano.

O que queremos ressaltar é a diferença de comportamento dos rios na cheia amazônica e nas enchentes em rios de regiões montanhosas. Enquanto no Amazonas sobe apenas o nível das águas, nas regiões montanhosas qualquer centímetro a mais no nível das águas vem acompanhado de uma velocidade maior no curso do rio. O Rio Amazonas apenas corre pelo efeito bomba, não porque haja queda para ele percorrer. Apenas avança porque vem mais água atrás, porque no mais é uma imensa represa.

O rio Amazonas que “cai” 26 metros de Manaus à foz, a mil milhas daqui, deveria correr a menos de 10 metros por hora. Corre seis quilômetros por hora tanto na cheia como na vazante. Este é um dado que não está na mente das pessoas que querem visitar o estado. Elas acreditam que na época das cheias seja perigoso por causa do aumento na correnteza. Cabe a nós incutirmos em seu imaginário que esse aumento de correnteza não existe. Que o rio é calmo. Que é lindo de ser navegado nas cheias.

Este assunto merece muito mais atenção do que parece à primeira vista. Muitos turistas deixam de vir na época das cheias. Na época das chuvas, como se a chuva fosse fria. Como se uma chuva matinal deixasse sua umidade pelo dia todo. O estado não está sendo bem explicado fora daqui. Mostra-se a natureza, mas não há os esclarecimentos adicionais. Uma viagem de barco pequeno, no meio das árvores é algo paradisíaco. Uma sensação ímpar, até mesmo para os moradores do Amazonas.

Mais uma coisa que deve ser explicada ao turista em potencial é que as águas não ficam turvas durante as cheias como acontece nas enchentes dos rios caudalosos. O Amazonas e seus afluentes não resultado de aluvião. Embora o Solimões, o Madeira, os paranás e o próprio Amazonas arranquem muita terra de seus barrancos, o mesmo não acontece com os rios de água preta, como o Negro e tantos outros. A mesclagem dessas águas deixa o rio permanentemente com a mesma coloração. Em suma: a paisagem amazônica é linda em qualquer estação.

Se nas regiões frias, como a Europa e mesmo no sul do Brasil, uma pequena chuva matinal acaba melando tudo por todo o dia e às vezes até no dia seguinte, há necessidade de explicar que as chuvas nas regiões equatoriais não têm o mesmo efeito. Pode-se facilmente marcar compromissos para depois da chuva, sem necessidade de usar botas ou outros adornos necessários na lama.

As enchentes no Amazonas raramente são sinônimos de catástrofes. Enquanto ela estiver preservada, continuará assim. Assim, podem ser turisticamente exploradas e serem fruto de lazer e alegria.

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 04/12/2008
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