Filosofia para quê?

Quando se fala em filosofia, quantas pessoas torcem o nariz e, com uma cara de nojo, perguntam: Mas para que isso serve? Tales de Mileto, Pitágoras, Heráclito, Parmênides, Demócrito, entre muitos outros; também sofreram este tipo de preconceito. Eles, que foram os precursores da filosofia, queriam nada mais do que encontrar a verdade (do Grego Aletheia) à luz da razão (logos). Mas cada um com sua forma distinta para tentar alcançar esta verdade. Por negarem o conhecimento pré-estabelecido e absolutizado, eles começaram a sofrer o repúdio de uma sociedade menos intelectualizada. O que não é nada diferente de hoje em dia!

A filosofia tem genuinamente, -dentro de suas várias e controversas correntes de pensamentos- a característica de criticar e conceituar valores. Não é uma “ciência” onde se decora, puramente, parágrafos e incisos. É um conjunto de conhecimentos que busca a legitimação racional do saber. Mas, para a tentativa de tal legitimação, é necessário o rompimento de alguns alicerces que sustentam e moldam as sociedades.

Friedrich Wilhelm Nietzsche, que no meio intelectual desperta a ojeriza em uns e a admiração em outros, disse: “Sou para os figos o vento norte”. Com este aforismo ele exemplifica a necessidade da desconstrução de valores baseados em uma espécie de fundamentalismo ideológico.

Todavia por que isto é necessário?

A sociedade precisa da filosofia?

Uma sociedade capaz de fazer a desconstrução, isto é, uma autocrítica dos seus conjuntos de valores, é uma sociedade apta e aberta ao diálogo com outras sociedades com outros preceitos morais. Uma sociedade capaz de dialogar é uma sociedade capaz de se auto construir sem a necessidade de imposição de valores, respeitando as diferenças sem precisar recorrer – ignorantemente- para a violência.

As sociedades monológicas atuais dão o exemplo de como se viver sem o diálogo. Pois milhares de indivíduos morrem no mundo por defenderem ou negarem deuses, regimes políticos, ideologias... Por internalizarem idéias absolutas as pessoas matam-se abruptamente. Não são capazes de argumentar racionalmente em seus discursos e aceitarem novas idéias. Justificam guerras inteiras baseadas na interpretação de seus livros sagrados, por exemplo. Esquecem facilmante que é a atitude individual que compõe a conduta do todo. Irrefletidamente produzem prezas para alimentarem seus sanguinários predadores...

Agora se você acredita que, num contexto geral global, as sociedades se inter-relacionam com respeito e passividade, isto é, que há a reciprocidade ético-moral nas relações dos indivíduos; se você acredita que a lógica econômica mundial é perfeitamente justificável por primar a valoração do ser humano, onde este é sempre visto como um fim e não como mero meio; se você acredita que o George Bush é bonzinho, ou melhor, que ele é o xerife universal que salvará o planeta, então o mundo não precisa da filosofia!