PÁSCOA

A PÁSCOA, além de ser considerada uma das principais festas cristãs, sempre representou a passagem de um tempo de trevas para um tempo de luz. Na verdade, em grego (paskha) e no latim (pache), ou seja, passagem, é a verdadeira tradução para o vocábulo “páscoa”, em nossa língua. Um dos significados seria a transição anunciada pelo equinócio da primavera do hemisfério norte, que ocorre no dia 21 de março, e na do sul, em 23 de setembro. Para que entendamos o significado da Páscoa cristã, é preciso que voltemos no tempo até a Idade Média, antes de partirmos para “o começo de tudo”... Os antigos povos pagãos da Europa, homenageavam Ostera – Esther, em inglês, que quer dizer Páscoa. Ostera (ou Ostara) é a deusa da primavera, que segura um ovo enquanto observa um coelho, símbolo da fertilidade, a pular alegremente em redor de seus pés nús. A deusa e o ovo, portanto, são símbolos da chegada de uma nova vida. Na mitologia grega, Ostara equivale a Persephone e na mitologia romana, a Ceres.

Tais povos pagãos comemoravam a chegada da primavera decorando ovos, costume que surgiu na Inglaterra, durante o século X, no reinado de Eduardo I (900-924), que tinha o hábito de banhar ovos em ouro para ofertá-los aos seus amigos e aliados. Pintar ovos a mão também é uma tradição que acompanha os ucranianos em quase toda a sua história.r Para eles, receber ovos pintados traz boa sorte, fertilidade, amor e fortuna. Geralmente esses ovos são de galinha, ganso ou codorna e requerem um trabalho artesanal minucioso.

Em hebraico, temos o “pessach”, a chamada “Páscoa Judaica”, que se originou quando os hebreus, há mais ou menos três mil anos, celebraram o êxodo e a libertação do seu povo pelas mãos de Moisés, após quatrocentos anos de cativeiro no Egito. Comemoravam, assim, a passagem da escravidão para a libertação: saíram do solo egípcio, ficando quarenta anos no deserto até chegar à região da Palestina, a terra prometida, atualmente chamada Israel. A comemoração inclui, entre outras coisas, uma refeição onde se come o Cordeiro Pascal, o pão àzimo (sem fermento), também conhecido como ”matzá”, ervas amargas e vinho tinto. A festa da Páscoa passou a ser cristã após a última ceia de Jesus com os apóstolos, na quinta-feira santa. Os fiéis cristãos celebram a ressureição de Cristo e sua ascenção ao céu. As imagens deste momento são a morte de Jesus na cruz e a ressurreição. A celebração completa tem início na quarta-feira de cinzas e se conclui no domingo de Páscoa; é o período chamado de Quaresma.

A data cristã foi fixada durante o Concílio de Nicea, em 325 d.C, como sendo “o primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre após ou no equinócio da primavera boreal, adotada como sendo o dia 21 de março”.

A ORIGEM DA SIMBOLOGIA DO OVO

O ovo é um símbolo que se explica por si mesmo. Contém o germe, o fruto da vida que representa o nascimento, o renascimento, a renovação e a criação cíclica. De um modo simples, podemos dizer que o ovo é o símbolo da vida.

Celtas, gregos, egípcios, fenícios, chineses e muitas outras civilizações acreditavam que o mundo havia nascido de um ovo. Na maioria das tradições, este “ovo cósmico” sempre aparece depois de um período de cáos.

Na Índia, por exemplo, acredita-se que uma gansa de nome Hamsa (um espírito considerado o “sopro divino”), chocou o ovo cósmico na superfície de águas primordiais e, daí, dividido em duas partes, o ovo deu origem ao céu e a terra. O céu seria a parte leve do ovo, a clara, e a terra, a mais densa, ou seja, a gema. Para os chineses, o mito do ovo cósmico também faz parte das tradições. Antes do surgimento do mundo, quando tudo ainda era cáos, um ovo semelhante ao de galinha se abriu e, de seus elementos pesados, surgiu a terra (Yin) e, da parte leve e pura, nasceu o céu (Yan). Também para os celtas o ovo cósmico é comparado a um ovo de serpente: assim, a gema representaria o globo terrestre; a clara, o firmamento e a atmosfera; a casca, a esfera celeste e os astros.

Para os cristãos, o ovo surge como uma renovação periódica da natureza. Algo como o mito da criação cíclica. Em muitos países europeus, ainda hoje há a crença de que comer ovos no domingo de Páscoa traz saúde e sorte por todo o resto do ano. Há quem acredite que um ovo posto numa sexta-feira Santa afasta as doenças...

POR QUE OVOS DE CHOCOLATE E COELHO?

Ambos foram trazidos de antigos rituais pagãos de fertilidade da primavera, que aconteciam na Europa e no Oriente Médio e eram relacionados à ressurreição. O coelho da Páscoa representa o renascimento da vida. No Egito antigo, o símbolo da fertilidade era a lebre. Já na Europa, é também o coelho que representa o renascimento da vida pois a Páscoa européia coincide com com o início da primavera. Assim que a neve se derrete, a vida ressurge e os coelhos deixam suas tocas após a hibernação do inverno. Do outro lado do mundo, com a chegada da primavera, os chineses costumavam presentear seus amigos com ovos que eram embrulhados em cascas de cebola e cozidos com beterraba. Quando retirados do fogo, eles apresentavam desenhos mosqueados na casca.

A partir do século XIII, a igreja católica adotou o ovo como símbolo oficial da Páscoa. Quanto ao fato de serem de chocolate, a explicação mais provável tem a ver com o início da produção de chocolate em larga escala, pela indústria, no ano de 1828. Interessante destacarmos que como os primeiros cristãos celebravam a ressurreição de Jesus ao mesmo tempo em que os judeus comemoravam sua Páscoa, vários costumes e símbolos da festa judaica foram incorporados às tradições cristãs. O cordeiro é um exemplo. Presente na Páscoa dos judeus, ele simboliza, para os cristãos o próprio Jesus Cristo, que foi crucificado para pagar os pecados dos homens. Alguns costumes da Páscoa, entretanto, permanecem apenas no Oriente. Na Rússia, por exemplo, há cristãos que se cumprimentam no dia da Páscoa com a saudação: “Cristo ressuscitou”; e a resposta: “Ressuscitou realmente”.

No sábado de Aleluia, os países ibéricos e suas colônias, têm o hábito de fazer a chamada “malhação de Judas”, o apóstolo que traiu Jesus. Apesar de ser uma tradição já ultrapassada e condenada pela igreja católica, também algumas cidades brasileiras ainda a praticam.

O SIGNIFICADO DA PÁSCOA

A palavra Páscoa vem do hebraico, Pessach que, conforme já foi dito, significa “passagem”. Os antigos hebreus foram os primeiros a comemorar a Páscoa. Para eles, historicamente, ele celebra a libertação do povo hebreu da escravidão do Egito. Livres, passaram a formar um povo com uma religião monoteísta. É com o sentido de libertação que, até hoje, os judeus celebram esta festa. Os cristãos também a comemoram. No entanto, sua origem é diferente no cristianismo apesar de ele ter se originado numa Páscoa judaica. Nela, celebra-se a ressurreição de Jesus Cristo que, segundo a Bíblia, ocorreu três dias depois da crucificação, durante a Páscoa judaica. É a principal festa do ano litúrgico cristão e, provavelmente, uma das mais antigas, pois surgiu no início do cristianismo. Ainda que todos os domingos do ano sejam destinados, pelas igrejas cristãs no mundo à celebração da ressurreição de Cristo (o que na igreja católica é feito através da celebração da eucaristia, nas missas), no domingo de Páscoa esse acontecimento ganha um destaque festivo especial.

A Páscoa é uma data móvel que acontece anualmente entre os dias 22 de março e 25 de abril. Como no hemisfério Norte esse período coincide com a chegada da primavera, o Pessach também é a festa do início da colheita dos cereais e da chegada da nova estação. É comemorada no primeiro domingo após a lua cheia do equinócio de março, ponto da órbita da terra em que se registra uma igual duração do dia e da noite. Mas há um modo bem mais prático de sabermos quando é domingo de Páscoa: basta contarmos quarenta e seis dias a partir da Quarta-feira de Cinzas. A Páscoa cristã é antecedida pela quaresma, período que dura quarenta dias entre a Quarta-feira de Cinzas e o Domingo de Ramos, que ocorre uma semana antes da Páscoa. Os católicos destinavam a Quaresma para fazer penitência, como o jejum, com o objetivo da purificação da alma e de obter o perdão divino pelos erros e faltas cometidos. O que era uma tradição seguida à risca, hoje tornou-se um esquecimento, o que não impediu de ainda existirem uns poucos católicos que a respeitem e cumpram, mas sem exageros ou fanatismos.

A TRADIÇÃO DOS OVOS DE PÁSCOA

A tradição dos ovos decorados chegou à Europa na Idade Média, levada pelos cruzados. Esta prática – pintar ovos para os festivais da primavera – era comum entre egípcios, persas, fenícios, gregos e romanos. Na Polônia e na Ucrânia essa tradição sempre foi levada muito a sério. Há ovos tão bem elaborados que nem podemos considerar mais apenas um ovo, e sim, verdadeiras jóias! Foram criados sob encomenda por um joalheiro russo, Carl Fabergé, que os confeccionou em ouro, prata e pedras preciosas. Estes, quando abertos, revelam pequenas imagens de pessoas, animais, plantas ou prédios e eram dados como presente pelo imperador russo.

CÍRIO PASCAL

O Círio Pascal é uma grande vela cuidadosamente decorada com vários símbolos e sinais que, para os católicos, nas celebrações eucarísticas, representa a figura de Jesus Cristo Ressuscitado. A chama do Círio, acesa, simboliza a luz de Cristo que um dia afirmou a seus seguidores: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12b). Lembra também a coluna de fogo – mencionada na Bíblia, no livro do Êxodo 13,21 – que precedia o povo hebreu na caminhada para a libertação da escravidão do Egito, através do deserto, rumo à terra prometida. O Círio tem gravado em sua haste uma grande cruz. Nas extremidades superior e inferior, em sentido vertical, estão escritas as letras gregas Alfa e Ômega (primeira e última letras do alfabeto grego) simbolizando a eternidade de Jesus Cristo, o princípio e o fim, o ontem e o hoje, pois para ele são dedicados o tempo, a eternidade, a glória e o poder pelos séculos sem fim representados pelos algarimos do ano em curso e gravados nos quatro ângulos da cruz. Sobre a cruz são colocados cinco grãos de incenso, simbolizando as chagas de Jesus, causadas por sua crucifixão. Acende-se o Círio Pascal na missa do Sábado de Aleluia, ou Sábado Santo, que precede o Domingo de Páscoa, e em todas as missas dominicais celebradas até o Domingo de Pentecostes.

TRIGO E UVA

Eram os alimentos básicos nas refeições judaicas. Simbolizam também o trabalho cooperativo dos homens: um semeia, outro colhe, outro mói, outro coze. Porém, o maior significado destes símbolos, para os cristãos, é decorrente do pão e do vinho que, usados por Jesus em sua última ceia com os seus discípulos, foram por ele assumidos como seu Corpo e Sangue, o que transformou estes alimentos no sacramento da eucaristia: “Tomai e comei, isto é meu corpo”. Depois, tomou um cálice e, dando graças, deu a eles dizendo:” Bebei dele todos, pois isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, que é derramado por muitos para a remissão dos pecados”. Mt 26, 26-28

CORDEIRO PASCAL

Mais um símbolo forte, herdado do povo hebreu que, ao sair do Egito, orientado por seu líder Moisés, recebeu de Deus a ordem de, a cada ano, na lua cheia da primavera, fazer uma reflexão em família, tendo como prato principal, o cordeiro, cujo sangue seria utilizado para marcar os umbrais das portas de suas moradas e assim livrar seus antepassados da morte, além de a carne lhes servir de sustento na longa caminhada através do deserto. O Cordeiro para eles significava o “Deus que tirava o pecado do mundo”. Jô 1, 29.

Jesus posteriormente assumiria para si este sinal identificando-se como o único e verdadeiro Cordeiro de Deus, que com seu Sangue derramado na cruz libertaria a humanidade das conseqüências de seus pecados, e pela Eucaristia se faria alimento espiritual para o povo cristão, neste peregrinar de volta ao Pai.

CRISTÓS

Este é um dos mais antigos símbolos de Cristo, muito usado pelas primeiras comunidades cristãs. Consistia nas duas primeiras letras da palavra “CHRISTUS” (em grego, CRISTOS); entrelaçadas e cercadas de uma grinalda de louros (Triunfo de Cristo)

PEIXE

Logo a pós a crucifixão de Jesus e nos primeiros séculos do cristianismo, os cristãos sofreram violentas repressões por parte dos sacerdotes judeus e das autoridades romanas. Nesta época de perseguições, os cristãos não podiam falar publicamente o nome de Jesus, pois poderiam ser presos e martirizados. Estrategicamente recorreram ao uso da palavra “Peixe”(ICTUS, em grego) pois cada letra desse vocábulo corresponde à inicial da afirmativa: Jesus Christus Dei Filius Salvator (Jesus Cristo, Filho de Deus Salvador). Em suas casas e nas roupas que usavam, pintavam a figura de um peixe como sinal de sua profissão de fé em Jesus Cristo. Depois de ressuscitado, em uma de suas aparições, Jesus serviu-se de peixe e ofereceu-o aos Apóstolos. Este gesto, associado ao milagre da multiplicação de pães e peixes que alimentou uma multidão de pessoas, ocasionou a oportuna associação do peixe ao tempo Pascal.

O MAIOR QUESTIONAMENTO DA HUMANIDADE

A Bíblia, reconhecida por judeus e cristãos como Livro da Verdade expressa por Deus ou o Livro da Revelação, em um de seus versículos assim se expressa: “Uma grande inquietação foi imposta a todos os homens, e um pesado jugo acabrunha os filhos de Adão, desde o dia em que saem do seio materno até o dia em que são sepultados no seio da mãe comum, a terra: seus pensamentos, os temores de seu coração, a apreensão do que esperam, e o dia em que tudo acaba, desde o que senta em um trono magnífico até o que se deita sobre a terra e a cinza; desde o que veste púrpura e ostenta coroa, até aquele que se cobre de pano. Furor, ciúme, inquietação, agitação, temor da morte...” (Eclo 40,1-4)

Daí se deduz a importância de que se reveste a celebração da festa da Páscoa ao longo dos séculos, que de uma maneira clara e objetiva reaviva no coração do homem uma resposta às suas dúvidas: a Ressurreição. A Páscoa, de uma maneira ou de outra, sempre simbolizou esta renovação, esta transformação, e as festas de páscoa, celebradas de maneiras tão diferentes, nas várias culturas – mas não menos significativas – evocam tradições anteriores aos ritos cristão e judaico. Este último, provavelmente tomou consistência quando os judeus celebraram a passagem do anjo pelo Egito, onde eles viviam escravos, ocasião em que os filhos de Israel foram salvos porque identificados pela marca do sangue de um cordeiro imolado.

Já a Páscoa Cristã, iniciada com Jesus Cristo, tem um significado mais profundo, apesar da correspondência com alguns símbolos da páscoa judaica, ou seja: como Ele ressurgiu três dias após sua morte, todos os que nele crêem ressurgirão também para a vida eterna. Os símbolos usados pelos cristãos significam um novo desabrochar, uma passagem da morte para a vida, por meio da ressurreição. Isso explica o costume dos ovos coloridos (às vezes até dourados, como na Rússia, verdadeiras jóias), porque o ovo, ao se abrir, representa o sepulcro que liberta a nova vida.

Outras tradições comuns aos cristãos são: a benção do fogo novo, o já aludido círio pascal, o pão artisticamente enfeitado porque é alimento que sustenta a vida. Para os judeus, a Páscoa é vida e liberdade; para os cristãos, vida e ressurreição.

RELAÇÃO ENTRE OS SÍMBOLOS E A VIDA

Existem símbolos comuns na páscoa cristã e judaica: o cordeiro sem ossos quebrados e seu sangue marcando o povo para uma nova realidade de mudança e libertação. Cristo é o cordeiro imolado que salva a humanidade com seu sangue, e o evangelista insiste em dizer que, na cruz, nenhum osso lhe foi quebrado. Esses mesmos símbolos são utilizados em tribos de beduínos, nômades pastores de ovelhas que vivem no deserto ao norte do Iraque. Eles celebram o rito de vida, correspondendo à páscoa de cristãos e judeus que é celebrada na primeira lua cheia da primavera. Na verdade, esses beduínos árabes têm a mesma origem dos judeus, em Abraão – são descendentes de Ismael que é filho legítimo de Abrão com uma escrava egípcia chamada Agar – e essas semelhanças comprovam a autenticidade, a antiguidade e a origem de ambas as tradições.

A PÁSCOA MOSAICA

Quem tem o privilégio de, uma vez estando no Oriente Médio, presenciar a celebração da vida entre os beduínos, pode afirmar que viu algo realmente inédito... Quando o sol se põe, os beduínos, povos nômades que atravessam o imenso deserto, de ponta a ponta, reúnem-se para os preparativos da “festa da vida”. Entre outras coisas, pedem aos deuses para que tornem verdes as pastagens para os seus carneiros, meio de sobrevivência desses povos e suas famílias. Um cordeirinho é degolado após ter sido pendurado pelas pernas posteriores, recolhem o seu sangue numa espécie de tigela, com o cuidado de não lhe quebrarem nenhum osso, caso contrário, os deuses certamente recusarão a oferenda. Nesse ínterim, as mulheres dividem-se entre cozinhar o pão ázimo (sem o fermento) típico do oriente, em grandes pedras quentes e preparar um molho de ervas aromáticas também próprias do deserto. O chefe o grupo de beduínos, unge com o sangue do cordeirinho as testas das cabeças dos homens e das mulheres, as tendas de cada um, bem como suas estacas e amarras. A finalidade desse ato (insopo) é a de afugentar os espíritos do mal, também conhecidos como “anjos exterminadores”, a fim de que todos os beduínos fiquem protegidos. O ritual culmina com um banquete, onde os homens ficam em pé, com um cajado na mão, ato que simbolicamente sugere estarem se preparando para uma viagem. Terminada a celebração, os beduínos voltam às suas andanças pelo deserto, certos de que podem contar com a proteção divina. Essa festa possui simbologias comuns com a páscoa judaica: o cordeiro novo, imaculado, sem ossos quebrados que é comido em pé e as ervas amargas. Os povos samaritanos (naturais de Samaria, perto de Nablus, antiga cidade de Neápolis, muito citada nos Evangelhos) ainda realizam o mesmo rito pascal, no monte Garizim.

PESSACH, A PÁSCOA JUDAICA

A Páscoa judaica é chamada pessach, ou seja, libertação, certamente fazendo referência ao livro do Êxodo, quando relembra a escravidão dos judeus, no Egito, bem como ao fazer referência à ordem dada por Moisés para que matassem um cordeirinho de um ano, comessem-no em pé, aspargissem com sangue as portas de suas casas e se preparassem para viajar. “E Moisés disse ao povo: Lembrai-vos deste dia no qual saís do Egito, da escravidão; pois por força de sua mão, D'us vos tirou daquele lugar, e nenhum pão fermentado será comido. Vós estais vos libertando neste dia do mês de Abib. Assim, quando D'us vos levar para a terra dos Canaanitas, dos Hititas, dos Amoritas, dos Hivitas, e dos Jebuseus, que Ele jurou a vossos pais vos dar, uma terra onde flui o leite e o mel, mantereis este serviço neste mês. Sete dias comereis pão sem levedura, e o sétimo dia será uma festa de homenagem a D'us. ( Êxodo 12, 3-6)”. Disfarçado de peste, o “anjo exterminador” matou os filhos primogênitos dos egípcios e dos animais, porém preservou os dos israelitas. Os judeus celebram a páscoa no primeiro dia de lua cheia, do primeiro mês do início da primavera e dura oito dias. Por comemorar a liberdade e identidade judaica, proteger o povo durante muitos séculos através de seus ritos tradicionais, o Pessach é a festa mais importante do calendário judaico. Sendo uma festa tipicamente familiar, no dia anterior à celebração faz-se uma profunda limpeza da casa cuidando para que nela não se deixar nenhum fermento. Em alguns lugares, costuma-se até queimar esse lixo para ensinar às crianças que durante o Pessach somente é permitido comer pães ázimos, conforme a prescrição do Livro do Êxodo. A Cabala, livro de orientações dos judeus, ensina que o fermento representa as imperfeições morais e as tendências negativas do homem. Como a massa fermentada enche-se de ar e cresce, assim o homem se enche de vaidades vazias. Quando os judeus fugiram do Egito, suas mulheres, que começavam o preparo dos alimentos, viram-se tão assoberbadas de trabalho para juntarem seus pertences que não tiveram tempo hábil para acrescentar o fermento ao pão. Tudo o que tiveram tempo de fazer foi levar a massa já feita para assá-la durante a travessia do deserto. Desde então, o pão dos judeus passou a ser conhecido por “pão ázimo” (sem fermento), ou Matzot, único que é servido nos dias da celebração do Pessach.

O SEDER DA PÁSCOA JUDAICA

Nas duas primeiras noites de Pessach (a festa do Pessach dura sete dias) as famílias se reúnem para recitar a Hagadá, ao redor da mesa do Seder (a ceia). A Hagadá narra o êxodo dos judeus do Egito e encena, de forma simbólica, os feitos históricos bem como os ensinamentos que deles advêm. A palavra Seder significa “em ordem”. No seder serve-se uma refeição chamada Keará, composta dos seguintes pratos: zeroá, pescoço ou coxa de galinha que simboliza o cordeiro Pascal; betsá, ovo cozido. É servido normalmente aos enlutados e relembra o luto pela destruição do Templo; maror, as ervas amargas que simbolizam a amargura da vida escrava no Egito, onde para cada tijolo que faltava, a vida de uma criança era sacrificada; charoset, massa feita com nozes maçãs, uvas passas, simboliza a argamassa dos tijolos feitos no Egito; karpás, salsão ou salada de verduras secas cortadas (rabanete, alface, almeirão e cebolão sem tempero). Representa o trabalho duro do povo judeu, então escravo; chazeret, folhas amargas com o mesmo significado do maror que, dessa vez, é comido como sanduíche; água salgada servida numa pequena tigela. Durante o seder, são tomadas quatro copos de vinho, e mais um para Elias, que anunciará a vinda do Messias. Mas, por que só quatro copos de vinho? Segundo a tradição, para lembrar os quatro verbos hebraicos que Deus usou quando prometeu a libertação do povo judeu do Egito: “Eu vos tirarei... vos livrarei... vos remirei... vos trarei para mim...” (Êxodo 6:6-7). O copo da Santificação é o primeiro e relembra que os judeus foram escolhidos por Deus como um povo santo e libertados da opressão do Egito tornando-se livres para servirem o seu Deus; o segundo copo é o do Ensinamento, como diz a própria palavra, é tomado no momento em que as crianças fazem quatro perguntas: por que mergulhamos o Karpás, na água salgada? Por que comemos matzá? Porque comemos ervas amargas? Por que nesta noite sentamos reclinados? Então, é feita uma breve narrativa para que as crianças aprendam a história de seus ascendentes. O copo da Redenção - na língua hebraica representado pelas palavras go’el, e padah, é o terceiro. É aquele que redime, o redentor. Ga’al é usado para redimir pessoas familiares, e padah simplesmente significa pagar um preço. O preço pago pelos israelitas foi o sangue do cordeiro, aplicado nas portas de suas casas para redimir a vida do primogênito. Para os que crêem, o sangue do Cordeiro de Deus é aplicado em seus corações a fim de que se redimam. Yeshua (Jesus, para nós, cristãos), o redentor, pagou o mais alto preço para redimir nossos pecados. Morreu crucificado. O quarto copo é o da Esperança. Quando é sorvido, cantam-se os Salmos 115 ao 118 e o 136. É esse o exato momento em que se demonstra a esperança de que um dia o Messias virá. Após a refeição, as crianças buscam a sobremesa que foi escondida pelo pai no início da cerimônia. É feita a bênção de ação de graças e toma-se mais um copo de vinho que é ofertado ao profeta Elias. Encerra-se, o seder de um modo formal, com canções e melodias que podem continuar durante toda a noite. A última delas, “No ano que vem em Jerusalém”, representa um voto de esperança que reproduz desejo que está nos corações de todos os judeus: que se restabeleça o reino de Deus e que o de Jerusalém seja o símbolo, aonda que incompleto, da vida nos tempos messiânicos.

O VERDADEIRO PESSACH

Temos visto que nas celebrações da Páscoa judaica fazemos referência somente ao nome da festa. Mas há muitos judeus e não judeus que têm um Pessach e Páscoa verdadeiros tal qual a Tora e a Bíblia descrevem

“E era a preparação da Páscoa, e quase a hora sexta; e disse aos judeus: eis aqui o vosso rei. Mas eles bradaram: tira, tira, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos Hei de crucificar o vosso rei? Responderam os principais dos sacerdotes: não temos rei, senão César. Então entregou-lhes para que fosse crucificado. E tomaram a Jesus e o levaram. E, levando Ele às costas a sua cruz, saiu para o lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota, onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus (Yeshua) no meio. Pilatos escreveu um título, e o colocou em cima da cruz; nele estava escrito em latim: Iesus Nazarenus Rex Iudeorum (Jesus Nazareno, Rei dos Judeus - INRI). Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. Porque isto aconteceu para que se cumprisse o que as Escrituras dizem: nenhum de seus ossos será quebrado”. Alguns anos mais tarde, Saulo (Shaul), um judeu ortodoxo e grande rabino entendeu a verdade sobre este cordeiro de Pessach especial e lembrou aos judeus e gentios, em Corinto:... “Há Mashiach, nosso Pessach, foi crucificado por nós” (I Corintios 5:7).

O evento correspondente à Páscoa no Novo Testamento é a redenção. Assim como um cordeiro foi sacrificado no dia da Páscoa para a libertação dos judeus do Egito, Cristo foi sacrificado para a libertação dos nossos pecados: "... Ele salvará o seu povo dos pecados deles" (Mt.1:21); "...pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados" (Ap.1:5); "...Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado" (I Co.5:7). Cristo se fez oferta pelo pecado.

Há uma perfeita identificação entre o pecado do crente e a oferta pelo pecado (Jo 3:14). Esta identificação é ainda mais evidente no Antigo Testamento, pois "a palavra hebraica hattâ't usada para traduzir pecado é derivada de uma forma verbal que significa purificar, de modo que o substantivo significa um sacrifício que obtém a purificação”.

Desse modo o texto do Gênesis 4:7 fica com mais sentido: "... se, todavia, procederes mal, eis que o (a oferta pelo) pecado jaz à porta... a ti cumpre dominá-lo (domá-lo)" (Gn 4:7). Esta identificação também pode ser vista no Novo Testamento: "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez (oferta pelo) pecado por nós..." (II Co 5:21).

Este era o método usado por Deus, desde os tempos de Adão, para perdoar os pecados: O sangue deveria ser derramado "Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação (kafer = cobertura - veja Gn 3:21 e 6:14) pelas vossas almas; porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida" (Lv 17:11). Por isso "... sem derramamento de sangue não há remissão" (Hb 9:22).

No tempo do Antigo Testamento o sangue dos animais apenas cobria os pecados. O sangue de Cristo tira o pecado do mundo (Jo 1:29).

A primeira Páscoa foi comemorada numa sexta-feira. Jesus também foi crucificado numa sexta-feira (Mt 27:62; Mc 15:42; Lc.23:54; Jo.19:14), às 09h00, isto é à "hora tertia", à “hora terceira” (Mc 15:25). Das 12h00 às 15h00, isto é, da hora sexta à hora nona, houve trevas sobre a terra (Mt 27:45; Lc 23:44-46).

Depois disso Ele rendeu o espírito, no período entre 15h00 e 18h00. Este período compreendido entre a hora nona (15h00) e o pôr do sol (18h00), no qual Jesus morreu é o mesmo período designado para o sacrifício da Páscoa, ou seja, no crepúsculo da tarde, (Lv.23:5; Nm.28:4,8).

Tudo indica que Jesus morreu após as 15:00 horas, que é a hora nona (Lc 23:44-46). Porém, naquele tempo as horas não eram indicadas com precisão, como ocorre hoje. Assim sendo, é possível que Jesus tenha morrido entre 15:00 e 17:00 horas, tendo sido sepultado aproximadamente após as 17:00 horas (Mc 15:42), pois o Sábado iria começar às 18:00 horas (Lc 23:54), e a Lei Judaica proibe o trabalho aos Sábados bem como a permanência de um corpo morto na cruz (Dt.21:22,23; Jo.19:31). É o shabat.

Páscoa, 2009

Miriam Panighel Carvalho
Enviado por Miriam Panighel Carvalho em 04/04/2009
Código do texto: T1522642