Bonde da vida

Bonde da vida

Wellington Balbo – Bauru – SP.

Godofredo estava novamente parado na velha esquina a esperar os amigos que todos os dias entravam no bonde da vida para seguirem suas rotinas.

O primeiro a chegar foi Leonardo, que logo cumprimentou o colega:

— Bom dia, Godô! Tudo bem?

Automático como um robô, Godofredo respondeu, como sempre:

— Mais ou menos... a vida não engrena, Léo. Sabe como são as coisas, a conta de energia aumentou 20%...

Leonardo avistou seu transporte e, como era praxe, chamou o amigo:

— Vamos, Godô, vamos embarcar no bonde da oportunidade. Quem sabe a assim a vida engrena.

Godô nada respondeu, apenas balançou a cabeça despedindo-se do amigo.

E lá se foi Leonardo no bonde da oportunidade.

Em 5 minutos chegou Carlos, que também cumprimentou o colega:

— Bom dia, Godô, como vai essa força?

Godô novamente desfilou suas reclamações:

— Força? Vai fraca, meu amigo. Sabe como é... vida difícil, situação complicada, aquele marasmo de sempre. A força vai fraca!

Logo parou o bonde da felicidade. Carlos perguntou a Godô:

— Vamos nessa, Godô?

— Não, fico por aqui.

Em 10 minutos surgiu Aloísio, que alegre, cumprimentou o colega:

E ai, Godô, tudo beleza?

Desanimado como de costume, Godô respondeu:

— Beleza nada. Tudo feiúra. Veja que minha vida resume-se a ficar nesta esquina.

— Saia dela — disse o amigo.

— E vou para onde? Melhor ficar, pelo menos não preciso me esforçar para achar outra esquina.

— Você quem sabe, Godô. Olha, está chegando o bonde do trabalho. Vamos nele?

— Vai você, eu fico por aqui.

E assim foram 30 anos, Godô a reclamar na velha esquina e os bondes da vida passando por ele. Certo dia, porém, inelutavelmente nosso caro Godô teve que embarcar no bonde da morte. Foi o único bonde que Godô tomou em toda sua existência, já que nada queria com os bondes da vida, restou-lhe apenas o inexorável bonde da morte.

A vida é uma estação onde passam diversos bondes: oportunidade, felicidade, trabalho...

Há pessoas que não embarcam em nenhum, preferem reclamar, blasfemar e fechar os olhos para o próprio progresso.

Fazem da reclamação um hábito, acoplando-a ao comportamento. Não percebem que o tempo voa enquanto ficam paradas nas esquinas da vida a aguardar que o destino melhore a existência.

A propósito, tenho uma amiga que parece ser irmã de Godô. Reclama de tudo e todos. O pão está quente, ela não gosta. O sinal pintou-se de vermelho, ela bate as mãos no volante. À semelhança de Godô, vive na esquina da reclamação e fez dela um hábito que, diga-se de passagem, nada tem de saudável.

E na questão do hábito, importante ressaltar notável filósofo do século XIX, Hypollite Leon Denizard Rivail, que certa vez afirmou: “A educação moral consiste na arte de formar o caráter, que dá os hábitos: porque educação é o conjunto dos hábitos adquiridos”.

Impossível discordar dele. Viver é uma arte que requer semeadura de bons hábitos. Pessoas educadas alimentam hábitos saudáveis. Logo, forçoso admitir que pessoas educadas não passam pela vida a reclamar de tudo e todos, antes, elas preferem deixar de lado as lamúrias para embarcar nos bondes que a vida oferece todos os dias: oportunidade, felicidade e trabalho são alguns.

Pensemos nisso

Wellington Balbo
Enviado por Wellington Balbo em 23/04/2009
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