O DIREITO DO ANZOL É TORTO

As pessoas têm o saudável hábito de querer melhorar as coisas. É muito positivo ver que novas gerações estão corrigindo falhas do passado. Lembro-me da primeira viagem de avião, lá pela década de 60. Ninguém perguntava se você fumava ou não, simplesmente ninguém era proibido de fumar. Mais tarde criou-se a ala dos fumantes e dos não fumantes nos aviões, sendo imitado em muitos estabelecimentos. Hoje nem pensar em fumar dentro de avião que voe sobre os céus do Brasil.

Há cerca de trinta anos, professores e alunos fumavam dentro de sala de aula, no segundo grau ou em cursos universitários. Nos dias de hoje seria uma afronta ao próprio ensino que incorporou algumas máximas, como os malefícios causados ao fumante passivo. Para quem, como eu, teve sua adolescência norteada de que “homem tinha de fumar”, demorou a se acostumar com as modernas normas de convivência. Fumante durante 15 anos acreditava que era uma grande falta de respeito ao fumante alguém se incomodar com o cigarro alheio.

Hoje, quando se descobre que os riscos para o fumante passivo são nulos, ainda resta a sociabilidade. Os fumantes brasileiros sabem disso. Raramente se encontra um fumante que insiste em fumar em restaurante. Em elevadores, quartos divididos de hotel, carro de não fumante e hospitais nem falar. O fumante coloca-se por si só numa posição de incomodante e dirige-se para o lado de fora para satisfazer a sua ânsia por cigarro.

Também sou desses que se incomodam com o cigarro alheio. Não gosto que fumem perto de mim, mesmo porque foi muito penoso parar de fumar. No entanto, quando um amigo me pede permissão, com a pergunta clássica: “Se incomoda que eu fume?” Invariavelmente eu respondo: “Não me sinto incomodado, sinto apenas uma grande pena de quem fuma.” Mesmo antes de começarem a culpar o cigarro pelos males do mundo, ainda dependente do cigarro, já tinha feito a constatação de que não havia nenhuma pessoa idosa que dissesse: “Sou feliz por ter fumado a vida inteira.”

Isso nos leva aos que apreciam um bom vinho, um whisky no Happy Hour, uma cachacinha como aperitivo ou um chope gelado. Dentre estes você encontra verdadeiros experts que não lamentam nada gostarem de bebida. Mesmo porque, a maioria que bebe o faz para descontração e não para entorpecimento. Procuram companhias com hábitos semelhantes, apreciadores de um bom copo e de um bom papo, no ambiente descontraído do bar. Se houver uma música “interferindo” é ainda melhor. A bebida, embora muitos digam exatamente o contrário, ajuda a aproximar as pessoas. Apara diferenças e ameniza opiniões. Os diferentes se entendem.

Há bares que têm em sua proposta a permissão ao cigarro. Muitos acham que isso é uma aberração, mas, se o não fumante está ciente disso, ele pode escolher em não freqüentar tal ambiente. Contudo, pasmem médicos e legisladores: ambientes assim não são discriminados por não fumantes. Todos convivem harmonicamente.

Uma lei paulista que criminalizava o local onde se permitia o cigarro foi banida como inconstitucional. Aliás, São Paulo tem o hábito de criar leis bobas que acabam sendo “recriadas” por todo o Brasil e incorporadas ao FEBEAPA. Felizmente, essa lei foi capada no nascedouro e não se procriará. Não porque queiramos ambientes enfumaçados, mas porque segundo ela, o único local abaixo de um telhado onde o cigarro seria permitido ficaria restrito ao teto da casa do fumante.

Deixemos o direito para quem dele precisa. Mesmo que esse direito pareça torto, tem como função principal harmonizar a convivência entre os diferentes.

Luiz Lauschner – Escritor e Empresário

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 05/07/2009
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