Ferramentas Muito especiais

Livros são ferramentas muito especiais para especiais.devem integrar a estimulação precoce:a mãe, o pai, irmãos mais velhos, babá,pessoal de enfermagem, devem ter à mão livros bem coloridos ,para contar, pausada, mas alegremente, a história, ler os versos, apontar as figuras, deixar pegar, cheirar...De preferência,plastificando antes.

No início, pode parecer inútil, quando se lê ou mostra o livro para os muito pequenos ,com déficits de aprendizado maior,ou muito comprometidos,que não parecem entender e às vezes, mal olham...Persistir é o mais importante...Uma avó que dera um livro,nas férias, a um netinho com Síndrome de Down, vendo que a babá parecia não acreditar na importância de tal recurso,depois que o menino rasgou as páginas que lhe eram mostradas,simplesmente colou-as em papel vegetal, colorindo onde ficara mais opaco.Depois copiou a história toda em brim cru, pintando com tinta para tecido, igualzinho. Guardou essa cópia, para o caso de se precisar um dia.Bendita intuição!.

As férias acabaram e a criançada foi embora.A senhora achou no chão do quarto onde dormira a criança, o livreto colado.Logo, recebeu um telefonema da filha, aflita, porque o garotinho, inquieto, não parava de choramingar, parecendo procurar algo.pelo celular,essa maravilha do século, pediu que voltassem à sua casa.Aflitos, os pais obedeceram, pois haviam saído há menos de uma hora.Quando entraram, a avó foi logo mostrando a Luquinha os dois livros, pedindo-lhe, sorridente, que escolhesse qual queria.Ele quis ambos.Até hoje, já púbere, não dorme sem que lhe contem a história do patinho feio, ali estampada, contando-a ele próprio.Funciona qual um calmante,afiança-me a mãe.O de papel, muito usado, foi feito quadrinhos e pendurado no quarto de Luquinha.Ela fez xerox colorido das páginas atrás das que aproveitou e das estragadas.Agora ele já lê homem –aranha e gosta de X-Men.Tem doze anos, mas sempre que vai dormir, tem de ler o livrinho que a vovó deu...

Uma garotinha , com lesão cerebral, adormecia repetindo aa sua maneira;”Peter –Pan era um menino tão valente, tão valente”...Livros são recursos de múltiplas faces.Servem para ensinar as cores, para desenvolver a imaginação, para trabalhar

Os medos...

Quando o Cd de Poesia OISE,onde tenho três poemas na quarta faixa, foi lançado, o presidente da ANEL, Academia Nevense de Letras, também ali incluído, chamou-me à sua mesa e apresentou-me a uma senhora jovem e bonita, que me pediu para escrever Literatura infantil para especiais.Eu lhe dise que Claudia Werneck, autora do indispensável “Muito Prazer, eu existo”,já escrevera uma série,iniciada com “Um amigo diferente?”,ilustrado por Ana Paula,que conseguiu fazer os personagens com feições da Síndrome de Down.Quando estive a serviço no Rio, Claudia e eu estávamos envolvidas no Projeto do CECIP chamado Saúde,Vida, Alegria, idealizado pela Dra.Evelyn Eisestein, ela contou-me que a gráfica ainda não acertara na cor dos rostinhos, que ia ver outra prova...

O maior carinho, ao oferecer essa linda coleção.Para que o completíssimo “Muito Prazer, eu Existo”, fosse editado, o marido dela criou a WVA Editora.Hoje , reconhecido por especialistas do Brasil e do exterior, o trabalho é respeitado, lidíssimo.O meu, emprestei muito e agora, não voltou.Comprarei outro, claro, para reler, continuar emprestando a mães que não podem adquiri-lo...

“Meu filho tem lesão cerebral”, contou-me a mãe.esses livrinhos são para Downs...Aceitei o desafio e qualquer dia, estarei escrevendo algo para essas pessoas que prcisam de tantas estimulações...

Li na revista Possível, número 8, que o talentoso Maurício de Sousa criou dois personagens deficientes, um em cadeira de rodas, outra, uma garotinha com deficiência visual, andando sorridente de bengala pelas ruas.São o Betão e a Dorinha.A repórter Taís Lambert, cita que o desenhista assim se justificou:”Por entender que se pode educar por meio das histórias em quadrinhos,resolvi criar personagens portadores de deficiência PARA EXERCITAR A INCLUSÃO NO MEIO DOS NOSSOS PERSONAGENS.BETÃO E DORINHA VÃO ENSINAR MUITO À TURMA, PRINCIPALMENTE NA ÁREA DE RELACIONAMENTO HUMANO.”(grifo nosso).e se há algo que Maurício de Sousa sabe muito, além de sua expressão artística, é educar a criançada.Todas as historinhas e tiras têm uma lição de vida.Os protagonistas por certo ajudarão a conscientizar ainda mais as autoridades fazendo cumprir leis como as rampas de acesso, e quiçá ajudar a criar novas propostas que ajudem ainda mais na inclusão social...

Quando em viagem, idas a médicos, dentistas, leve uma sacolinha com revistinhas e livros.Não se acanhe de contar, recontar,mostrar.A criança irá ficando mais atenta, mais quieta, mais centrada.Experimente.

Rebecca, uma de minhas pacientes, além de ficar lendo na sala de espera, ainda entra no consultório abraçada a uma revista.pode ser uma Marie Clair ou uma Super- Interessante.Pede-me para explicar isso e aquilo...Noutro dia, inverteu os papéis:”Clevane, eu vou explicar direitinho para você”.E passou metade da seção me ensinando tudo que euvenho lhe ensinando há anos...ISSO vale a pena...

Vasculhem livrarias.Aproveitem ofertas, remarcações, brindes. Façam livros pessoais, com colagens, canetinhas para tecido...Plastifiquem , peçam ajuda aos próprios leitores...Todos sairão lucrando...

Clevane Pessoa de Araújo

Psicóloga, escritora, jornalista, ilustradora.

e-mail para troca de informações:clevaneplopes@yahoo.com.br