O bom pesquisador?

"Aptidões de um bom pesquisador*

Magno Antonio Patto Ramalho**

Adriano Teodoro Bruzi***

Quais seriam as aptidões desejáveis de um bom cientista? É evidente que elas podem variar em função de fatores como área de atuação, local de trabalho e região de atuação. Mas existem algumas aptidões essenciais.

Paixão pelo conhecimento: O cientista deve procurar ampliar os seus conhecimentos. Ou seja, nunca deve estar satisfeito com seu conhecimento. Segundo um ditado popular, ‘quanto mais se estuda mais se tem certeza de que seu conhecimento é pequeno’. A procura do conhecimento de ser realizada diariamente durante toda a vida profissional.

Criatividade: É outra aptidão fundamental na vida de um cientista. Aquele que não inova só irá repetir o que os outros já executaram. Em alguns casos isso até é importante. Contudo, o profissional não se realiza. O bom pesquisador é aquele que está sempre procurando alternativas, seja na metodologia utilizada, no modo de análise e interpretação e/ou saindo da rotina.

Saber ver e delimitar um problema relevante: Poucos pesquisadores possuem essa habilidade. Não basta identificar o problema – é preciso ter a visão de que você e seu grupo são capazes de resolvê-lo. E, mais ainda, saber avaliar se a solução será obtida em tempo hábil. Ou seja, não adianta solucionar um problema quando ele não mais existe.

Persistência: Em toda atividade, persistir é fundamental para o sucesso. Mas, para o pesquisador, a persistência é indispensável. Muitos pesquisadores, a qualquer insucesso ou aparecimento de uma novidade, paralisam seu trabalho e migram para novas áreas. Muitos atuam como verdadeiros surfistas, sempre procurando uma nova onda. A ciência, na verdade, é repleta de ondas. As novas trazem status e recursos. Os pesquisadores são assim, sempre atraídos por mudanças.

Capacidade administrativa: Na condução de uma pesquisa está envolvida uma série de recursos como pessoal, infraestrutura e material. Assim, o pesquisadores quase sempre atua como um gerente. O bom gerente é aquele que é capaz de manusear os recursos do modo mais eficaz possível.

Liderança: A solução de problemas quase sempre envolve um grupo de pessoas. Para se atingir o objetivo o mais rápido e com maior eficiência possível, é necessário liderança. A liderança envolve mais a habilidade de conviver com pessoas do que propriamente conhecimento. Ninguém exerce liderança sobre outro porque domina mais o assunto.

Habilidade de expressar resultados: A ciência sobrevive dos resultados. O pesquisador não é diferente: só continuará obtendo recursos e sendo reconhecido perante a comunidade científica se mantiver ativa sua produção de conhecimento. Assim, é indispensável que ele possua habilidade de comunicar o produto de suas pesquisas. Há profissionais que possuem excelentes resultados, porém nunca chegam ao usuário por falta de comunicação. Quando isto ocorre, há desperdício de tempo e recursos. E, mais ainda, o grupo envolvido sente-se frustrado.

Espírito empreendedor: O pesquisador deve ser empreendedor. Aqueles que simplesmente repetem as pesquisas já realizadas dificilmente terão sucesso em longo prazo. É necessário ser arrojado no sentido de propor ideias novas que poderão contribuir para o avanço científico ou para o bem da sociedade.

Trabalhar em equipe: O pesquisador deve ter flexibilidade para ser liderado, aceitar a opinião dos outros, valorizar o trabalho do grupo e ter humildade para reconhecer a importância de todos os envolvidos na pesquisa. Não significa deixar de expor suas ideias; a única atitude que não funciona é aceitar tudo o que é proposto. O pesquisador que não valoriza suas ideias é um ‘peão científico’.

Vocação para formar discípulos: Ninguém é eterno. Por isso, é necessário preparar os substitutos. Esse preparo deve ser iniciado o quanto antes, tendo em mente que o discípulo deve ser mais completo cientificamente que o mestre. Somente assim ocorrerá avanço científico. Há alguns pesquisadores que guardam segredo de tudo. Estão sempre com o medo de suas ideias serem ‘roubadas’. Mas um dia eles se aposentam ou morrem, e o conhecimento se perde com eles.

Sensibilidade social e política: Todo pesquisador, especificamente os do setor público, devem ter uma visão clara de que seu trabalho visa ao bem-estar da sociedade. Ele é pago por ela. Embora muitas vezes não seja cobrado, ela espera retorno do investimento. Muitos pesquisadores fazem pesquisa com o objetivo, primeiro, de equipar os seus laboratórios, e esquecem de procurar uma ideia nova.

Gostar do que faz: Só tem sucesso quem gosta do seu trabalho. Essa é a primeira condição para que os demais itens [anteriores] sejam exercidos em sua plenitude. Na vida, o ato de gostar de algo é um aprendizado. A esperança é que o pesquisador a cada momento tenha mais prazer no que está realizando.”

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*Fonte deste texto: “Minas faz ciência” – Publicação trimestral da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), n. 37, mar.-maio 2009, ISSN 1809-1881, p. 47.

** Magno Antonio Patto Ramalho é professor da Universidade Federal de Lavras (Ufla) e membro do Conselho Curador da FAPEMIG

*** Adriano Teodoro Bruzi é doutorando em Genética e Melhoramento de Plantas da Ufla.