MÓVEIS NOSSOS DE CADA DIA

Na década de 70 li numa pesquisa que o norte do Brasil participava com 0,2% na fabricação de móveis. Não acredito que levassem em conta as fabriquetas artesanais que já havia em Manaus e muitas outras cidades, incluindo ai o Pará, Rondônia, Roraima e Amapá. Porém, dava uma idéia de como a atividade tinha uma participação pífia no mercado nacional.

Hoje, graças às limitações impostas pelas leis ambientais, a situação não é muito diferente. Muitas fábricas de móveis se cansaram de tentar adaptar-se às exigências legais, talvez porque seu porte não dava musculatura para enfrentar a burocracia estatal. Como as leis atingem a todo o Brasil, as fábricas maiores, situadas em outras plagas, conseguiram adaptar-se e hoje continuam abastecendo o mercado do norte do Brasil também.

A madeira in natura, embora não totalmente abandonada, foi dando lugar a outros materiais com o aproveitamento de resíduos sólidos. Embora em algumas vezes perca em qualidade, ganha em facilidade de montagem, transporte, acabamento, peso e visual de um modo geral. Mas o progresso não parou na substituição da madeira. Foram criados inúmeros acessórios que facilitam a vida das donas de casa e outros usuários de móveis, que vão desde dobradiças, fechaduras, guias de gavetas e até amortecedores para portas e gavetas.

Também os seladores e vernizes vão dando espaço a acabamentos vitrificados, praticamente imunes a arranhões e manchas produzidas pelo álcool. Os móveis prontos de tamanho padronizados vão dando lugar a móveis planejados. Graças à ajuda dos computadores com seus inúmeros recursos para desenho, o consumidor pode planejar seu móvel de acordo com o espaço de sua casa ou apartamento. O desenho é enviado para a fábrica, por meio da internet e o orçamento fornecido quase que imediatamente. A maior demora fica por conta do transporte, uma vez que o espaço físico não pode ser vencido com a velocidade da cibernética.

Nas fábricas, os cortes das peças são projetados, também com ajuda de computador, para um aproveitamento quase integral das chapas, uma vez que estas sim obedecem a um tamanho padronizado. Os caixotes, com as peças pré-fabricadas, que vão compor o móvel no final, são calculados para ocuparem o menor espaço possível nos caminhões. Tudo numa dinâmica que se altera constantemente, visando reduzir custos e conquistar consumidores.

Manaus é uma cidade ávida por consumo. O parque industrial importa e produz tecnologia. Vende produtos com sofisticado nível tecnológico cuja matéria prima inicial é importada. Isso permite se dar ao luxo de comprar produtos cuja matéria prima inicial é gerada pelas florestas amazônicas. As pesquisas realizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) apontam para distorções na legislação ambiental. O governo prefere dar atenção a ecologistas de escritório em vez de considerar seu próprio instituto de pesquisa. Se fizesse isso veria que o aproveitamento da matéria prima local podia ser mais uma fonte de renda. Se isso fosse feito, talvez o Amazonas também pudesse produzir seus móveis, cujo grau de sofisticação, com certeza, é menor que o de motocicletas e aparelhos de televisão, para citar apenas dois exemplos.

Não estamos aqui criticando àqueles que se aproveitam da avidez do amazonense e lhe oferece soluções de conforto. Isso já vem acontecendo desde os tempos da borracha. Se ontem este produto pagava os luxos e ostentações dos barões da borracha, hoje a exuberância do Pólo Industrial de Manaus (PIM) encobre muitos setores que poderiam ser maiores se recebessem mais atenção. Parece que o faturamento do PIM satisfaz e acomoda. Todos os setores podem receber atenção e incentivos, menos o setor madeireiro e, por tabela, o setor moveleiro.

Porém, este é um assunto já foi abordado e pode ser discutido em outra ocasião. Por enquanto estamos vislumbrados com a beleza e funcionabilidade de móveis que o dinheiro nos permite comprar.

Luiz Lauschner – Escritor e Empresário

www.luizlauschner.prosaeverso.net

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 31/10/2009
Reeditado em 05/11/2009
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