Cena contemporânea

De um lado, colocam-se belas flores em razão de uma vítima de latrocínio. O que nos revela e revolta a imensa violência urbana e a insegurança pública reinante nas principais grandes cidades brasileiras.

Ao fundo, há um ser humano dormindo no chão, coberto com uns trapos como se fossem cobertas, ao relento, em pleno estado de miséria e de exclusão social. Isso é um homicídio social.

Vejam, mas ainda há tempo de salvar aquele que ainda está vivo, a despeito de ser negligenciado e ter sua dignidade enquanto pessoa humana vilipendiada diariamente pela indiferença e ingerência do poder público.

Olhando as flores, as vésperas do começo de uma nova primavera, fico a pensar se não poderíamos além de lamentar os mortos pela injustiça social, lamentar e tentar fazer a diferença, resgatando vidas humanas das sarjetas das ruas, do descaso do administrador público que em suas políticas sociais só pratica filantropia, e não promove a inclusão do cidadão.

Essa terça-feira, dia 15 de setembro de 2009 foi bem marcada pela violência urbana quando aconteceram três assaltos a mão armada em pleno dia. Num dia, um homem morreu ao tentar fugir dos ladrões.

Um dia depois, a morte do motociclista em Ipanema chamou a atenção de quem passava. E, nesse momento, a câmara foca nas flores colocadas no local aonde se deu o óbito do motociclista, mas ao fundo , lá vige outro homicídio, esse de caráter social... Silêncioso, lento e certequeiro pois limam vidas inteiras das mais diferentes idades, sem dó e nem piedade.

Nós reles mortais e cidadaõs não estamos tranquilos para trabalhar, para trafegar nas ruas, para sobreviver a selva de pedra, cercada de abismos sociais, aonde o luxo mora ao lado da miséria, da falta de oportunidade e na exclusão.

O que podemos esperar, é que ao menos pelos que ainda estejam vivos possam alterar suas histórias. Que nossa consciência ainda se preocupe em salvar os que ainda vivem, e rogam por alguma atenção ou alento.

Não basta as ações sociais que não alterem o ciclo vicioso, e nem gerar dependências do cidadãos quanto as políticas sociais que não solucionam efetivamente o problema social. Apenas amenizam.

Precisamos homenagear a vida mesmo enquanto lamentamos os mortos. Os mortos como sabemos ainda não podem voltar e retomar a trilha da vida... Mas os que estão vivos, e jogados na serjeta podem ter resgatada a sua dignidade humana.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 16/11/2009
Código do texto: T1927028
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