ÀS VEZES

Às vezes parece que pedimos aos nossos fantasmas que se retirem de nosso caminho, muitas das vezes eles se recusam e tenta nos amedrontar.

Mas somos criaturas teimosas e propensas a nunca desistirmos dos desafios e sempre causarmos mais e mais marcas e danos ao nosso currículo de meros mortais desprotegidos, mostramos a nossa fraqueza.

Então somos zumbis soltos na noite, olhos acesos a vigiar um mundo escuro e sem trilhas para identificar o caminho. E nossa idade nos revela que dezessete ou quinze se torna tarde para regressar a ponto de origem e que apenas pais e mães não são a solução e nem o meio mais seguro de isolarmos a juventude roubada.

Choros e rangidos se debruçando atrás da porta, mordidas e carinhos se confundindo na medida em que o tempo pede mais um pouco de tempo.

Apenas gritos ecoando pelo ar, um chamado por um nome jamais pronunciado, metáforas repetitivas ao som de trombetas espalhando o pânico e o medo de ser livre do sucesso que nunca fora conquistado.

São olhos insanos e famintos pelo gosto da liberdade, são mãos que seguram berços para não caírem no desfiladeiro escuro, são pés que fogem da estrada pedregosa e cheia de espinhos, porque nunca uma chance será bem-vinda, não, aqui não. Quem sabe um outro dia, quem sabe uma outra hora, amanhã talvez o dia aconteça.

Por enquanto podemos dizer que a sorte sorriu para os que se guardaram do medo, para os que fugiram sem deixar rastros, para os que souberam administrar as coisas que nunca deixaram de fazer sentido. E como não questionar que algum dia a inocência deixou livre a culpa, será preciso desvendar o horizonte das páginas de um lunático para saber tais prodígios.

Esta é a certeza de que nada se iguala ao tudo, e tudo se une ao incerto, como nosso caminho se cruza pela ponte mais estreita, e apenas um de nós poderá passar, o outro terá que se jogar ao infinito rio sem ribanceiras e sem margens.

Este será um prodígio, esta será nossa ignorância, sem valer a pena correr, pois todos os esconderigios foram revelados, não sabemos mais quem somos, não temos mais o que éramos, e nossa morada afundou em cacos.

Às vezes essas coisas acontecem, às vezes elas voltam, e às vezes elas nem deixam de existir. Eu apenas sei que para isso tudo, eu preciso de companhia.

autor: Danilo Padovan

Daykon
Enviado por Daykon em 24/07/2006
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