BEM-VINDO AO CLUBE DOS CINQUENTÕES

Provavelmente, você já ouviu falar no “clube dos cinqüentões”, pelo menos no clube dos veteranos tenho certeza que sim. Este clube não precisa necessariamente de uma sede, mas basta um grupo se reunir em qualquer lugar, só para um encontro entre amigos. Aliás, meu pai faz parte de um assim chamado, com direito a sede e tudo de bom, fruto de mais de 30 anos de encontros semanais, fundado em 1969. Está tudo bem registrado.

Pois é, nada acontece por acaso. Por que eu estou falando nisso?

Imaginem, fiz 53 anos, e eu sou a mais velha de sete irmãos (cinco irmãs e um irmão). Ontem foi o aniversário da minha quinta irmã, Amélia, que completou 50 anos comemorados em família, de forma simples: bolo de chocolate, risoles de carne, refrigerante, etc. Cantamos parabéns pra você numa algazarra, com uma vela espalhafatosa, do tipo que, quase se precisa chamar o corpo de bombeiros para apagar (muito exagero).

Fiquei pensando, pensando e lembrei. A lembrança dolorida de um tempo que não volta mais. A dor está em ver como eu era bonitinha, enxutinha, novinha. Pensava tudo em longo prazo. Nossa!

Sabe o que eu lembro? Do tempo em que eu olhava para o céu, e para o meu redor, e pensava “tudo isso gira ao meu redor, por minha causa”. Gente, eu realmente pensava assim; não sei, acho que eu devia ter uns cinco anos, talvez menos, talvez mais. Sabe por que me lembro disso? Não sei, só sei que lembro. Estávamos no quintal de casa brincando, e, de repente, minha mãe veio nos chamar para almoçar. O dia estava nublado, as nuvens estavam altas, como que partidas em pequenos pedaços, parecendo algodão. Eu olhei e percebi a insistência da minha mãe, e pensei; ela cuide de nós, de mim. Pela primeira vez, percebi a casa em que morava, o quintal, seu tamanho, nossas roupas estendidas.

Lembro do dia em que morreu dois senhores muito conhecidos da cidade em que morava, vítimas de acidente de carro, quando vinham de Gravatá - PE, num jipe carregado com madeira para montar a fogueira de São João; um deles era meu primo em segundo grau, Alvinho era seu nome.

À noite, fechamos as portas de casa para podermos assistir televisão, pois em sinal de respeito, ninguém ligou qualquer coisa que chamasse a atenção da vizinhança. Essa época foi 1967, um sábado à noite, às 7.00 h. Gravei na memória o dia e à hora, porque foi nessa ocasião em que passou na TV Radio Clube de Pernambuco, o primeiro episódio de Perdidos no espaço. Nossa, eu fiquei encantada com o seriado, estava sentada no chão, perto da televisão.

Em outra ocasião, no mesmo dia e horário, faltou luz em toda a cidade, e quase perdemos todo o filme do seriado. Então, fomos todos para a calçada, conversar com os vizinhos e me dei conta do céu estrelado e novamente fiquei encantada, que a escuridão não me deixava ver em sua plenitude, e imaginei a espaçonave Júpiter II vagando pelo espaço sideral.

Sabe qual a importância desse episódio? Por que foi ali, que fiz os cálculos dos anos que eu tinha e quando chegasse ao ano de 1999 para o ano 2000, eu faria 44. Na minha ótica, o cálculo dava uma distancia muito grande da realidade daquele momento. Eu pensei tendo como referência a idade dos meus pais e tudo o que eles haviam conquistado até aquele momento, e imaginava como seria o meu. “No ano, 2000 farei 44 anos, quero estar formada, bem empregada, casada com minha família já crescida e estabilizada”. Tudo numa perspectiva de futuro muito distante.

Chegou o ano 2000 mais rápido do que pude me dar conta, e mais dez anos depois chegamos em 2010, onde ultrapassei a casa dos 50 anos, caminhando para os 5.4, modo atual de se dizer a idade sem chocar muito.

Agora, não penso mais numa perspectiva longínqua, tudo agora é para ontem, pois fazendo o cálculo dos meus antepassados e as possibilidades de vida daqui para frente têm a possibilidade de ultrapassar os 30 anos, ou 20 anos, ou 10 anos, ou... Estou aprendendo que viver cada dia é viver com sabedoria, não desperdiçar momentos, aproveitar, inclusive para se dar ao direito de não fazer nada.

Então, antes que venham as lembranças dos anos vividos com saudosismo e daqueles anos em que deixamos passar em brancas nuvens, por pura falta de perspectiva, ostracismo, autocomiseração e tudo o que não foi escrito e compararmos com a atualidade e ver a possibilidade dos dias que virão e dizer como no texto bíblico que diz “não tenho neles prazer”, mudar para melhor, pois algumas coisas podemos mudar, podemos contornar, e outras temos apenas que enfrentar, superar ou sucumbir.

Que venham os 50 anos; ainda há muito a conquistar, muito caminho a percorrer, muitas descobertas a vivenciar, muitas coisas para curtir em família, porque estamos vivos.

Parabéns a todos que já fizeram cinqüenta anos, aos que já entraram na década faz tempo, e aqueles que estão a caminho, porque viver é muito bom.

Sejam bem-vindos!