O VIRUS DO IPIRANGA

O VÍRUS DO IPIRANGA

Será Hereditária a Ética Tupiniquim que Sempre Precisou e Precisará de Ridículos Tiranos?

Sylvio Neto

“ Qual é a sua?Mais respeito!

Eu também tenho o meu direito!”

Rubem César Fernandes

“ O que não é, é o que

Não pode ser

O que não pode ser

Que não é”

Titãs

CENA UM – Auditório do CIEP (Mesquita), vazio, – E chega a ser triste imaginar, ver e estar naquela grande nave com salas vazias, exilada, eximida e solitária da ausência dos corpos quentes dos educadores e do brilho futurível do alunado – à porta, a supervisora Cláudia, charmosa, linda e empurpurada de brilho e sorridente, a receber os corpos quentes dos orientadores/professores do Projeto Acelera Jovem. Estes a medida que vão chegando, alguns com risos largos outros com olhar curioso, destes, também chegam ressecados, ressentidos, ressequidos e magoados, uns poucos estão livres e libertos de culpa, dano,dolo ou sede...são plenos e simples orientadores e professores.

A medida que entram, recebem uma bola de festas cheia e com algo dentro: na verdade, mensagens bonitas retiradas do Y-Ching e outras nascidas de sua mente brilhante, animada e divertida de educadora.

Estouradas as bolas, o brilho das mensagens logo contagia a sala e seus ocupantes, a ponto de fazê-los esquecer o dia a dia. A coragem, vontade e dedicação reinam ali.

CENA DOIS – Em algum momento entre o acordar de uma noite mal dormida, onde reinou a preocupação, a angústia, a dúvida...

Um orientador/professor, pergunta-se: “ – valerá a pena este sacrifício? Terei reconhecimento? Conseguirei estar de alguma forma satisfeito?” . E segue assim, nesta ação inquisidora pessoal, internada em seu EU e eternizada em ecos que ressoam a cada passo, seguro e inseguro, de um andar não andar. Orientarado, oriensenada, pro-fes-so-lo-co, professoduro, orienprofenganado...Palavras sem nexo, que espancam , arrebentam e arrebatam o coração de boa vontade para o céu da educação.

Quando não estiver

Mais por aqui

Terei lembranças?

Será o tempo do tamanho

Que acostumei medir?

Serei lembrança

Quando ousar partir

Por vontade própria

Ou a comando do devir?

O que será de meus

Caderninhos e folhas soltas

Que tanto disseram?

Ecoará ainda o som

De minhas musicas?

Ou serei mesmo um

Ido antes que fosse tarde?

Não que me importe confesso

Mas, tanto grito sem eco

É desgaste puro

Tanto escrito não lido

E sem significado

Para hoje e amanhã

É coisa de político falido

Não que me importe tanto assim

Em enterrar minha sede

De nomeada

Tal Braz Cubas

Mas, as cinzas do esquecimento

Serão cimento, água e pedra

A enterrar, com tal

Peso e violência concreta

As letras todas

Que quis fazer ler

A fala toda

Que pude esgotar

E a música minha

Que se inibe

Em ecoar

Afinal, depois de ir

Poderei vingar?

Cutucar,beliscar, dar tapas no quengo

Daqueles chatos, mentirosos

Senhores do sim e do não

Poderei passar a perna

Jogando ao chão

Cuspir na cara

Manchando o batom, o pó de arroz

A voz , o grito e a canção

Daqueles que transformaram

Em novela

Meu bom tom

Daquelas que deram de costas

Para meu beijo

E carícias de minhas mãos

A todos, corja, bando

Entrincheirados na falácia pública

Ou na desordem da guia verdade

Que com poder

Assumiram ordens

Do Santo do Dia

Ah!! Mas que possa

Potente ser minha

Aura

Para ao menos resistir

A ida, na lembrança dos meus

E se assim não for

Que possa ser vento frio

Na espinha

Daquele figura bandida

Ainda hoje vivo

Na memória de meus ais

E ainda, segue, ainda assim...sob tortura. E vai, pedir algum dinheiro, a alguém de sua estima ou a quem lhe possa valer. “ Família não é sangue, família é sintonia” . ouve poucas, ouve boas, ouve nada...” o dinheiro é para passagem” , vai bom educador, vai a aula que é teu trabalho, com o dinheiro que não é teu.Vai educador, vai a aula que é teu trabalho, com o dinheiro que não recebeu de teu suor, mas, ainda, de teu argumento.

CENA TRES – Em algum lugar do Rio de Janeiro, reúnem-se a cúpula não governamental e a cúpula real representante do Estado e da educação. INTERVENÇÃO.

NOTA DO INTERVENTOR – Professor/Orientador, ofendido com o atraso de pagamentos e a falta de reconhecimento trabalhista causado pela ausência de contrato de trabalho entre as partes: “- A cena é minha posso então, pois, intervir como quiser.Saio da cena criador, autor e poeta, e entro cidadão a gritar por seus direitos” .

Esta cena acontecerá moldada nas imagens da campanha do Ministério da Saúde, desestimulando o uso de cigarros, “ aquela que mostra o diabo (de terno) e o cramulhão (de bobo da corte) tramando artifícios de imagens para o aumento do consumo dos cigarros” .

TEXTO LIBERADO PARA O AUTOR

(continuando cena três a partir da intervenção do cidadão)

O que é dito lá, não sabemos, nem ao menos saberemos, deve ser segredo de Estado , do tema é possível imaginar: EDUCAÇÃO E VIOLÊNCIA.

Um cínico (portanto inteligente) professor, dono de potencial imaginação, teria transcrito a reunião:

precisamos melhorar o nível da escolaridade, de forma a termos gráficos mais bonitos e positivos e assim, incrementarmos a Secretaria de Educação.

Ah! Temos um projeto na medida. Adaptaremos o projeto tele-sala, faremos com que funcione nos mesmos moldes, mas nos CIEP´s, chamaremos “ Acelera Jovem” . O que acha?

Como funcionará?

A gente pega, uns buchas – talentosos e desempregados – oferecemos um salário razoável e os jogamos aos lobos, diretores e diretoras de CIEP´s (que estão na vanguarda da negação, a inserção do novo e do lúdico, como formatos pedagógicos) fazemos um treinamento bola para cima com dinâmicas e muito incentivo e tudo certo.

Hiii !, rapaz, esse salário razoável é que pega, nós não temos previsão orçamentária para pagar esses salários. Vamos ter de enrolar.

É isso mesmo, A gente paga quando for possível...Algum desses bancos de desenvolvimento, nos financiará com certeza. Pense no que será para nós como ONG e para vocês como Secretaria de Educação.

E quantas tele-salas, abriremos ?

Milhares, quanto mais, melhor – assim, mais falado será...

Teatro grego, rude e trágico? Um desvario de um dedicado homem, que vê nos projetos oficiais, a grandeza do necessário e do futurível, enquanto está no papel?Revolta de um dedicado homem que tem em seu currículo a experiência de tantos outros processos de inclusão social, reinclusão escolar e redimensionamento e sincronização educacional, através de processos acelerados ou não. E que sem nenhuma exceção, percebe a dissipação destes, desde o papel (e a boa vontade de quem o criou) até a real execução?

Não haverá bons projetos a nível de execução, não haverão jovens capacitados e a contento, nem crescimento econômico, político, sócio-educacional e cardíaco, sem o respeito que retroalimenta a vontade de fazer e continuar.

Há violência no morro, nas instituições do aparato de segurança pública, nas escolas, dentro dos lares e dentro dos homens. Há violência nos projetos bonitinhos que aparecem na tv. Há violência dentro de mim e de você. Há violência e humilhação em não receber pagamento de salário dia nenhum ou com atraso. Há violência e humilhação na falta de registro em carteira ou contrato de trabalho temporário ou não. Trabalho de boca é trabalho informal – trabalho informal é marginal – porque assim cria o NÂO SER. O não ser, não pode ser solidário e assim possibilitar a solda da ruptura, visto que é neutro. Nega-se, mesmo cedendo, por natureza do que é: NÂO SER.

“Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida com pessoa perante a lei” – DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

O não solidário, não está no “ deserto do real” , onde as coisas acontecem, em sendo, estará real e dentro do olho do furacão, onde tudo, se rompe e solda, presente nas soluções ou ao menos em sua busca, para todas as “ coisas” . Em sendo, terá registro em carteira ou contrato e pagamento de salário em dia – será trabalhador.

O TRABALHO DIGNIFICA O HOMEM E A SOCIEDADE. O TRABALHADOR É O HOMMO E A SOCIEDADE

Que tipo de pessoa ou organização, que tipo de Estado ou representação formal e legal deste, faz discurso, escreve cartilha e manual sobre cidadania, ética e moral, recorre a projetos e ações sociais e ao mesmo tempo contradiz todas as letras e significados daqueles mesmos manuais e projetos por eles escritos?

DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

I) Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego;

II) Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito à igual remuneração por igual trabalho;

III) Toda pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.

IV) (...)

I) Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar, a si e a sua família, saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, (...)

DAS DICAS JURÍDICAS SOBRE O DIREITO DO TRABALHO

(...) O Presidente da República Getúlio Vargas, em1943, criou, através do Decreto Lei nº 5452 de 01/05/1943, a Consolidação das Leis do Trabalho, conhecida como CLT, que é uma reunião de leis trabalhistas, ou seja, é lá que estão todos os nossos direitos e deveres dos empregados e empregadores.

EMPREGADOR (Art 2º): é a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, contrata, paga salários e dirige a prestação pessoal de serviços.(...)

EMPREGADO (Art 3º): é toda pessoa física que presta serviços não eventualmente ao empregador, sob sua dependência e mediante salário.

A RELAÇÃO DE TRABALHO NECESSITA DE UM VÍNCULO ENTRE EMPREGADOR E EMPREGADO. ESTE VÍNCULO É O CONTRATO DE TRABALHO.

È muito triste para um homem de 41 anos, pai, bom cidadão e trabalhador, dono de responsabilidades comuns a todos os cidadãos, sofrer as conseqüências do atraso de seu pagamento de salário. Este sentimento se potencializa, quando este mesmo homem, eu, vê seus companheiros de trabalho sofrendo pelo mesmo atraso firmado em pelo menos o dobro do tempo de que é vítima. Ter de ir a rua pedir dinheiro emprestado para seguir ao trabalho é algo no mínimo VIOLENTO.

Não quis tecer aqui a teoria do caos. Nem ofender, machucar ou atacar ninguém, pois assim, estaria fazendo o caminho inverso ao qual coloco como proposta. A lei de talião, de Hamurábi, se aplica no Irã, aqui não. Mas como entender, como fazer a leitura de tal situação?

No editorial do manual dos direitos humanos, o Sr. Rubem César, Diretor do Viva Rio - e meu virtual patrão em conjunto com o Sr. Secretário de Educação (virtuais pela ausência de contrato de trabalho, há aqui um pseudo acordo oral, com minha supervisora) – intitulado “ O seu, o meu, o nosso direito” , pode-se ler no último parágrafo:

“ Os Direitos Humanos não são uma realidade que a gente encontra na rua. São um guia para nossos pensamentos e ações. Tornam-se reais a medida que o praticamos (...)” .

Aqui então, busco exercer um direito meu, o de reivindicar, a paralisação imediata deste processo violento, que massacra aquele que é parte de um processo que é no mínimo “ lindo” e que encorpado com a necessária boa vontade, senhora pura e límpida, que habita meu peito e coração( e com certeza também o de meus companheiros de trabalho), poderá produzir uma corrente verdadeiramente ética, moral e cidadã.

Não me importo que se vá de helicóptero a formatura de jovens humildes e descalços, o que me incomoda é que esta atitude pode causar estranheza aos alunos, pais, orientadores e professores, que precisam pedir dinheiro emprestado para deslocarem-se ao local sagrado e religioso da educação, muitas vezes sem café da manhã e almoço. Tudo bem que um meu amigo sociólogo, confidenciou-me, tratar-se o senhor Rubem César, de um grande gentleman, figuraço e imenso monólito de simpatia e dedicação, observação esta, acompanhada de pelo menos mais três depoimentos de pessoas com igual ou comparativo nível de graduação. Mas bom senso não mata.

Recomendo a todos os gestores deste projeto a imediata leitura do Manual de Direitos Humanos, recomendo ainda, que façam os exercícios propostos, para que possam afixar a leitura na parte mais imediata do intelecto. Depois faremos uma dinâmica, que funciona, assim: dois dirigentes serão destacados do restante e levados a um lugar fora da sala. Lá aguardarão, algum tempo, até que se possa combinar com o restante o exercício a ser realizado. Com as cadeiras da sala ou do auditório será demarcado um caminho que leva por exemplo até ao computador. Feito isso, os dois destacados serão trazidos ao auditório de olhos vendados, e os que ali ficaram , já previamente divididos em dois grupos, irão estar respectivamente guiando cada um dos vendados buscando fazê-los chegar o mais rápido possível ao local indicado como final da pista.

MORAL DA DINÂMICA: Fazer com que percebam que a organização e o conjunto são partes indissolúveis para o sucesso em qualquer empreitada.

Sylvio Neto
Enviado por Sylvio Neto em 01/06/2005
Reeditado em 01/06/2005
Código do texto: T21186