Uma Reflexão Sobre Deus

Quando se fala em Deus, há três posições comumente observadas: as pessoas que acreditam em Sua existência; alguém lhes disse na infância que havia um Deus que associam a uma imagem, e com ela atravessam toda a vida. Noutra, que Deus não existe. E os agnósticos que não acreditam nem na existência nem na inexistência de Deus.

Se concebermos que a face visível de Deus é o Universo do qual formamos parte, e a invisível a lógica e a ordem por detrás dela, poderíamos admitir a existência desse Criador que se confundiria com sua Obra, como um músico, um pintor, um escultor, e através do conhecimento da parte dela que fosse acessível, poder-se-ia aproximar-se dele gradativamente, através do conhecimento, na exata proporção dos esforços feitos naquele sentido. Experimentando a alternativa de ser um pequeno criador, poder-se-ia ter uma leve e real idéia do que seria um outro infinitamente maior.

A relação do homem com a Natureza ou com Deus não pode ser sobrenatural, porque o deus sobrenatural é uma ficção criada pelo homem. Deus não pode ser exclusividade deste ou daquele agrupamento, por ter forte relação com o homem, a Natureza e a harmonia.

Deus não escreve livros, escreve homens, naturezas, o Universo. Este é o Verbo Divino. Homens escrevem livros, e a linguagem humana provem daquela – a ancestral - pois visa nomear uma escritura maior.

Não somos muito diferentes de um pensamento que pode ser bom ou mau; que necessita reproduzir-se para sobreviver como espécie; que pode evoluir nos curtos anos de vida física.

Deus quer que o ser humano use a sua inteligência e o seu coração para se aproximar da Verdade que se confunde com o aperfeiçoamento. Ele não é o pai vingativo que atemoriza seus filhos e se regozija com guerras fratricidas que os insensatos fazem em Seu nome.

Para que não sejamos letra morta num livro inútil e sem vida, deveremos aprender a escrever a nossa história com letras visíveis e invisíveis, como autores e atores, ao invés de espectadores passivos a assistir aos dramas vividos por tantos que sofrem por não pensar, por falar línguas diversas, por estar sempre a se desentender. E talvez possamos recuperar a linguagem perdida que na infância da humanidade sabíamos tão bem pronunciar.

Todo o ser humano pode ser um criador, mesmo não sendo artista, e compreender melhor o Grande Criador, o Deus único, tão distante do materializado homem moderno. E a maior obra de arte que um ser humano poderia realizar seria a de criar a sua própria pessoa tornando-se um indivíduo melhor, em constante aperfeiçoamento; essa sim seria a obra-prima, a maior obra de arte, a única que poderia merecer tal classificação.

A palavra Deus, dependendo de quem a ouça, reporta a uma imagem que vem do conceito que se tenha; pode ser um senhor com uma enorme barba e que vive no céu, ou o Universo com as Leis que o sustentam, ou um animal sagrado, o sorriso de uma criança, o gesto generoso de quem nos ajuda, ou uma inteligência maior de onde todas as outras provêm, ou absolutamente nada. A palavra refere-se ao conceito e pode ser uma metáfora-morta se não evolui com o tempo por ter se transformado num preconceito. As palavras, expressões físicas dos pensamentos, são pequenos detalhes com os quais se poderá chegar a Deus ou mergulhar na escuridão.

Entre Deus e o homem não há a necessidade de nenhum intermediário, pois somos seres humanos capazes de compreender e senti-Lo pelo que pudermos fazer por nossas vidas e pelas dos outros seres humanos, nossos irmãos.

Ele nos criou para sermos felizes e inteligentes. Para aprender que a maior de todas as felicidades é saber, conhecer e ser livre. A maior das escravidões é a mental, onde o ser humano se vê encarcerado nos barrotes da ignorância. Essa é a pior das prisões, o desconhecimento da própria realidade, das causas dos erros e desacertos. Quem se desconhece é um presidiário em sua casa, em sua mente, embora perambule em aparente liberdade pelas ruas cercado por temores e incertezas.

Ao constatar que as grosseiras muralhas dos defeitos humanos afastam os homens criando as inimizades, não podemos deixar de considerá-los como as causas do afastamento do homem de Deus, que está magnificamente representado em cada inteligência e sensibilidade humanas que têm sido entorpecidas e petrificadas por ignorância e preconceito.

Lutar pelo aperfeiçoamento pessoal, identificando e combatendo os defeitos que impedem o cultivo de amizades, como a intolerância, a vaidade, a ambição e o egoísmo, é uma forma inteligente de cultivar o panteísmo que aproxima o ser humano de seus semelhantes, da Natureza e de Deus, para viver o aforismo axiomático de Lincoln: “Quando faço o bem, sinto-me bem. Quando faço o mal, sinto-me mal; esta é a minha religião”.

Nagib Anderáos Neto

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