A FORÇA DA POESIA

Falar de poesia é para mim tarefa para lá de agradável, mas, também muito difícil, pois a poesia não se explica, mas sente-se, é a um só tempo real e abstrata.

Faz alguns anos escrevi que, quem lê poesia, também é poeta, ainda que não saiba traduzir em palavras, o que deveras sente. Se gosta de ler um poema é porque tem a sensibilidade que o induz a isso. É mais ou menos como diria Saramago: somos todos escritores, só que alguns escrevem e outros não. A arte de escrever poemas não se aprende em nenhuma faculdade ou oficinas literárias. O verdadeiro poeta já nasce poeta. Ser poeta é um destino, alguns dizem ser vocação, outros um dom. Há vezes em que me questiono, se ser poeta é bênção ou maldição? Como também disse Fernando Pessoa: “ser poeta não é uma ambição minha é uma maneira de estar sozinho”.

Recentemente correu mundo, a frase de um menino de dois anos e meio de idade de uma escola de educação infantil portuguesa, após ouvir sua professora ler um poema, que para espanto da mesma, ele assim exclamou: Se eu não tivesse nascido eu ficava triste. Aquela criança naquele momento acabava de fazer um poema. Penso que essa criança é sem dúvida um poeta, ainda mais se levarmos em conta que tem apenas dois anos e meio e não ser alfabetizada. Este é um verdadeiro exemplo da força da poesia, esse sentimento belo e sublime que nasce do coração e brota da alma.

Há pessoas que costumam dizer que não gostam de poesia, certamente referem-se a versos que não passam de simples prosa versificada. A maioria dos versos que costumamos nos deparar por aí, são desprovidos dos recursos estilísticos e imagéticos próprios do verdadeiro poema.

Mas então o que é a Poesia? Muitos perguntarão...

Poderíamos de maneira pálida e resumida comparar a poesia a uma bela donzela, uma fada maravilhosa; reveste todas as formas, todos os sentimentos exprime. Ao misterioso condão da sua vara mágica, transformando-se-lhe de súbito as roupagens já singelas já magníficas.

Umas vezes é linda zagala, correndo descuidada, por montes e várzeas; trepa alcantis, solta baladas, escuta o trinar dos pássaros, brinca com o malmequer silvestre, mira-se na corrente, reclina-se na relva, e acariciada pelos zéfiros, adormece por fim sobre cama de flores.

Outras vezes arrebata-se nos louvores do Eterno, e logo com voz flébil, ei-la a gemer queixas, suspirando amores... Correndo espavorida, de madeixas soltas, vem cantar-nos horrores e desgraças, que nos arrancam lágrimas.

“Folga nos campos, brilha nas cidades, troveja sobre o crime dos déspotas, canta na infância das nações, e chora ao esfacelar dos povos”.

É assim a Poesia que, pode ter o apelido de Campestre ou Pastoril; Elegíaca; Lírica; Didática; Trágica; Cómica; Epigramática; Satírica.

Deve ter sido a visão de alguma das doces faces da poesia que aquela criança vislumbrou ao ouvir a voz da professora ao ler um poema, que despertou naquele menino o encantamento pela vida e o fez exclamar: “se eu não tivesse nascido eu ficava triste”. É formidável para não dizer maravilhoso. A poesia comandando a vida, e a vida brotando sentimentos de encantamento, dádiva divina que nos foi ofertada.

Sinto que a vida sem poesia, é como paisagem em preto e branco negando-nos o prazer de poder desfrutar o que ela tem de melhor. O encantamento de viver.

Não deixemos de nos encantar com a vida, ainda que tenhamos perdido a inocência da criança que um dia já fomos, e com certeza, com o mesmo sentir daquela criança de apenas dois anos e meio que, de maneira insólita assim exclamou: “se eu não tivesse nascido eu ficava triste”.

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 30/11/2010
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