O poder Divino

Desde os nômades -cuja subsistência era o principal meio propulsor da existência- elegia-se alguém para direcionar o melhor caminho, pois mesmo as primitivas tribos selvagens antropofágicas necessitavam de alguém para ditar alguma regra. Os anos passam e as necessidades se transformam.A viabilização, contudo, de alguma forma de poder entre as culturas torna-se uma prática perene, pois há sempre um interesse a ser defendido.

Dos séculos herdamos a necessidade de propriedade, a necessidade de uma metamorfose do escambo chamada dinheiro, herdamos uma divisão em pólos antagônicos entre governantes e governados que culmina na sobrepujação de um ser sobre outro. Eis que surge a figura do tirano, que nos tempos do absolutismo obscurecia qualquer manifestação de clarividência do ser, através da reivindicação de um poder incontestável, o poder divino. Como se tratava de um poder outorgado por Deus, seu detentor estava incólume a qualquer insurreição do povo.

Coincidência ou não, vivemos atualmente uma situação semelhante. Delegamos poder com o intuito de que sejam defendidos interesses da comunidade, mas, de uma forma generalizada, recebemos em troca o desprezo daqueles que por nós foram eleitos. Não é, pois, defendendo interesses da sociedade que se vota o aumento do próprio salário, que se atrasa projetos para votação em assembléia extraordinária remunerada, aposentado-se após oito anos de serviço.

O tirano, por não sofrer a punição da lei dos homens comuns, podia desrespeitar regras, praticando a ilicitude amparada por uma lei maior, a lei divina. Coincidência ou não, a imunidade parlamentar é um direito que dá azo a tirania, pois um líder bem intencionado não necessita ter um amparo para praticar o que é ilegal.

Mas quem somos nós para questionarmos o poder divino? Se nossa clarividência é como antenas de baratas que fazem cócegas no calcanhar dos tiranos! É bem verdade, como afirmam os historiadores, que passamos do período das trevas do esclarecimento, porém, continuamos subjugados a vontade da consciência maléfica dos nossos déspotas. Nossa desunião manifesta nossa impotencialidade.

Perdoem a estupidez deste herege por criticar o poder divino dos tiranos do nosso tempo. Por pensar que líderes comprometidos com a nação poderiam ajudar a transformar o legado que deixaremos para as gerações futuras.

Hermison Frazzon da Cunha – Graduando em Filosofia e poeta.