TODOS OS OVOS NUMA MESMA CESTA?

Há mais de 30 anos acompanho a luta pela permanência da Zona Franca de Manaus. O comércio da ZF vivia das leis de exceção. Quando o restante do país foi equiparado, acabou-se o comércio, vitimado pela terrível logística da região. Distante mais de três mil quilômetros dos centros consumidores, tornou-se caro vir a Manaus para fazer compras.

Sai uma fonte de faturamento, fortalece-se outra. O Distrito Industrial, por um esforço hercúleo está conseguindo crescer e aumentar o Índice de Nacionalização de Compras. O invejável faturamento de mais de 30 bilhões de dólares consolida o modelo e o torna lucrativo para governo e empresários.

Para o leigo, que não acompanhou a luta toda, isso parece meio deslocado. A região mais cobiçada do mundo, o maior santuário ecológico sobrevive graças à indústria que não usa ingredientes regionais em seus produtos. Trazendo matéria prima de longe e enviando os produtos acabados para longe, a Amazônia não faz nada diferente do que poderia ser feito em qualquer lugar.

Isso nos remete à vocação natural da Amazônia: O turismo. Não há lugar no mundo com tantos atrativos naturais. Também não há similaridade no amadorismo em tratar o turismo. Esse amadorismo faz com que os atrativos turísticos demorem a se transformar em destinos. A Indústria do turismo não tem chaminé e não exporta produtos, mas faz com que o comprador venha consumir aqui.

É fácil de entender porque os governantes dão tão pouca importância ao turismo. O brilho do volume de arrecadação do Distrito Industrial os ofusca. A galinha dos ovos de ouro não permite ver outras galinhas que também são ótimas poedeiras. Todos sabemos das dificuldades e dos esforços empreendidos para chegarmos com o Pólo Industrial no ponto em que está. Imaginem os leitores se um décimo desse esforço fosse empreendido para o turismo?

As belezas naturais do Amazonas não sofrem alteração ao sabor dos ventos de Brasília como acontece com as leis de exceção que regem o regime de isenção e renúncia fiscal que representa o atrativo dos empresários da indústria. Um modelo semelhante, que atraia empresários de fora façam parcerias com empresários locais e implantem destinos turísticos aproveitando as belezas naturais é um bom começo para isso.

Ao apostar todas as fichas no Pólo, o governo do Amazonas não está agindo com sabedoria. É bom aprender um pouco mais com nossa exuberante natureza e diversificar ao máximo também a renda dos amazonenses. Ao colocarmos todos os ovos numa única cesta corremos o rico de tropeçar e quebrar todos. O pior seria descobrir, no final das contas, que os ovos de ouro são apenas dourados por uma tinta que não os protege contra quebras.

A natureza nos ensina muito. Copiá-la ajuda na sua preservação.

Luiz Lauschner – Escritor e Empresário

lauschneram@hotmail.com

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 14/02/2011
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