ONDE APRENDEU A DIRIGIR?

Quando alguém sai de sua terra natal depois de adulto, jamais adquire o sotaque da terra que escolheu, tampouco continua com a maneira de falar de sua origem. Em outras palavras, desenvolve um sotaque próprio que soa estranho para as duas regiões.

Em visita ao meu estado natal, Santa Catarina, um amigo me pediu que levasse seus dois filhos, junto com mais alguns colegas adolescentes a um determinado local onde iriam ficar. Durante o trajeto conversamos muito e uma mocinha, de seus quinze anos, vendo que minha maneira de falar era diferente, perguntou:

- O senhor é de onde?

- Sou do Amazonas – respondi.

- Do Amazonas? E onde foi que o senhor aprendeu a dirigir?

Eu fiquei triste porque vi que a ignorância em termos de Brasil é muito grande. O sul não conhece o norte e vice-versa; O noroeste não conhece o nordeste e vice-versa. No imaginário das crianças, o homem branco é apenas um acidente no Amazonas, terra de águas e mata e hábitos selvagens que jamais incluiriam habilidade ao volante de um carro.

Assim como o Brasil não conhece o Brasil, assim também não temos muitas informações sobre o estado em que vivemos. Quem vive em Manaus há muito tempo, percebe que a cidade se transformou num enorme congestionamento de veículos mesmo no meio da noite. Milhares de veículos novos são emplacados todos os meses, sendo que no ano passado, num único mês, o recorde ultrapassou 7.200 veículos.

A melhoria de renda, os financiamentos de longo prazo, o caótico sistema de transporte coletivo estimulam a adquirir seu veículo próprio. Muitas das vezes, este veículo tem apenas duas rodas, mas não deixa de ajudar a engrossar o trânsito cada vez mais lento. Ainda que apenas a metade dos veículos novos emplacados todo o mês sejam de quatro rodas, já é uma cifra que atropela a capacidade da cidade se adaptar a este volume.

Reparamos que as construções de ruas e viadutos por demorarem entre o projeto e a efetiva entrega da obra, já estão defasados quando postos em funcionamento. Isso sem contar que as ruas vicinais que poderiam ser alternativas para desviar um pouco do trânsito, estão em estado tão precário que os motoristas preferem o engarrafamento das pistas principais.

A solução passa por uma melhor interligação entre bairros e, sem sombra de dúvida, uma guinada de 360 graus no transporte público. Projetos como o do metrô de superfície não podem mais continuar nas gavetas. A falência do transporte coletivo é atestada todo o santo dia pelo grande número de carros transportando alunos para os colégios.

Infelizmente, para nós, o transporte coletivo com pontualidade, segurança e um mínimo de conforto não passa de um sonho. Se fosse bom, muitos dos proprietários de veículos o deixaria em casa e iriam ao trabalho de ônibus ou metrô. Se não tiverem a coragem de melhorar este transporte, o caos no trânsito se tornará rotina.

Luiz Lauschner – Escritor e empresário

lauschneram@hotmail.com

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 18/04/2011
Reeditado em 19/04/2011
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