Reforma Protestante

No continente europeu, titubeava a preeminência da Igreja Católica. A mesma havia acatado demasiados ingressos abstrusos que consentiam que os abastados e os desonrosos fizessem estes os pagamentos de uma taxa prescrita, ansiavam estarem capacitados a adentrar tranqüilamente na Eternidade. Acreditava-se que os santos cultivaram sob precaução um aposento abarrotado de misericórdias e indulgências do qual podiam disseminar um bocado àqueles pecadores abastado que, no último momento, ambicionaram a salvação e pudessem amortizar por ela. Determinadas indulgências e concessões, abrolhadas em permuta de dinheiro ou de serviços prestados, baseavam-se num primoroso embasamento espiritual. Destarte, em 1095, durante as cruzadas para resgatar Jerusalém dos infiéis, o papa Urbano II certificou de perdoar os pecados dos cruzados que atravessassem os mares "por pura devoção, e não com o objetivo de obter honra e dinheiro".

As ofertas arrecadadas para a edificação de catedrais era reconhecido como um salvo-conduto sagrado que poderia ser apresentado ao entrar nos Portal Infindável. Assim como a imponente igreja de Speyer, na Alemanha, estava sendo reconstruída em 1451, pelo menos 50 sacerdotes sentavam-se tranqüilamente e, após ouvirem as confissões, davam seu perdão aos peregrinos que doassem dinheiro. Um quarto de século depois, o papa consentiu que se vendessem indulgências pelo bem das pessoas já falecidas e que viviam no purgatório. Em epítome, os ricos podiam comprar o perdão dos pecados atentados por parentes falecidos que, na época de sua morte, podiam não ter sentido necessidade alguma de perdão. Aos pobres, por serem pobres, era praticamente negada tal concessão.

A Igreja aliou-se a cobradores de impostos profissionais e, semelhantes como os que na atualidade que granjeiam fundos nas instituições de caridade, estes adjudicaram de comercializar indulgências. A dogmática da Igreja medieval corroborava o castigo eterno, em uma magnitude exacerbada dos grupos cristãos atual, a negociação de exoneração e tréguas de infortúnios estava se redargüindo a um dos basais dogmáticos de sua teologia; sintetizando, a Igreja estava sendo vendida por poucas moedas de ouro. A Igreja Católica Romana embora contava com um grupo de sacerdotes, monges e freiras de dignidade, totalmente dedicados, mas as exceções eram muitas.

Martinho Lutero, um sacerdote do norte da Alemanha, abancou a argüir essa Igreja que lentamente, se afugentava de seu caminho. Filho de um minerador bem sucedido era docente de teologia bíblica na pequena urbe de Wittenberg. Aos 33 anos, contrapôs-se. Martinho Lutero era inconformado com as indulgências. No dia 31 de outubro de 1517, na véspera do Dia de Todos os Santos, afixou seus protestos em latim à porta da igreja do castelo de sua cidade. Seu manifesto continha 95 pontos ou teses, a primeira das quais assim proferia: "Nosso Senhor e Mestre quis que a vida dos fiéis fosse uma vida de penitências". Seu escopo ficou muito vivo para os que se acercaram da porta.

O egrégio pintor alemão Lucas Cranach conhecia Lutero e transpôs sua imagem para a tela. Lucas Cranach retrata-o com um rosto forte, abrutalhado tipificando um camponês, de olhar acanhado e sagaz, o seu cabelo cobrira as orelhas e determinados pêlos a aparar na face, demonstrando um espaçamento entre um barbear e outro; o nariz saliente e as narinas exageradas.

Martim Lutero não ambicionava abdicar a fé Católica Romana, porém, as sua objeções e acusações o caminharam para um caminho sem retorno. A Igreja, compreensivelmente, enunciava os balizares sob os quais ele podia viver. Ele, porém, não podia aceitá-los.

Nas cidades de idioma tedesco, mais de 200 imprensas alvitravam estar praticamente ambicionando esse acontecimento que, sem qualquer diligência, culminaram ajudando: a Reforma Protestante. O privilégio exclusivo da Igreja Católica sobre a Sagrada Escritura estava preste a terminar devido a uma invenção emprestada, em parte, de uma terra onde o nome de Cristo era quase desconhecido. A Sagrada Escritura era um livro custoso mono escrito, de sobremodo raro que em algumas igrejas a única cópia era acorrentada à mesa de leitura. Pela primeira vez na cristandade, os evangelhos se tornariam acessíveis a um preço que uma igreja de um vilarejo ou um mercador moderadamente rico pudessem comprar. Um panfleto contendo um simples sermão podia, agora, através da poderosa imprensa, chegar a mais pessoas como nunca antes um sermão havia conseguido.

Lutero enxergou na tipografia uma dádiva divina para sua lide. Elaborava panfletos religiosos e os entregava aos tipógrafos, junto com seus últimos sermões. Abancou-se a traduzir a Sagrada Escritura para o alemão, completando-a em prosa simples e forte, em 1534.

Wittenberg, uma urbe com apenas 02 mil habitantes, explodiu em pouco tempo como o coração da indústria tipográfica da Alemanha. Apesar de somente 150 livros dessemelhantes tenham sido impressos em toda a Alemanha no ano dos protestos de Lutero, 990 livros foram impressos em 1524, apenas seis anos mais tarde. Mais de 50% dos livros foram impressos em Wittenberg, a maioria, a favor de Lutero. Para ele, a imprensa era uma parelha de cavalos "que conduzia o evangelho sempre adiante".

Lutero protestava, ou seja, era um protestante (francês protestant), conforme o vocabulário da época. Não obstante seus protestos fossem cunhados as ponderações políticas e sociais, eram primeiramente religiosas. Em parte por meio de sua influência, centenas de cidades da Europa foi abalado pelo notável acordar religioso. Milhões de pessoas sentiram que Deus estava a seu lado. Não conseguiam proclamar adequadamente a alacridade e a sensação de libertação e alívio que sentiam. Lutero veio para que refletissem que a salvação não estava em fazer o bem, mas numa fé simples e abnegada em Deus. Dezenas de milhares dos que o ouviam pregar ficavam profundamente comovidos com seus argumentos e sua paixão.

O raio com o qual Lutero iluminou o céu poderia ter aos poucos se apagado, não fossem os esforços do pregador francês João Calvino. Nascido no norte da França e educado em Paris faltava nele o magnetismo de Lutero. Quando pregava, mostrava pouca dramaticidade. Foi sua mente original, sua mensagem cativante e sua sinceridade nervosa que impressionaram aqueles que, ansiosos por ouvi-lo, ficavam lado a lado na enorme igreja próxima ao lago de Genebra. Sob o comando de Calvino, dos clérigos conhecidos como a Companhia de Pastores e das autoridades da Cidade-Estado, Genebra se tornou à vitrine moral e religiosa da Europa.

Todas as reformas e revoluções trazem consigo um conflito entre aqueles que permanecem em que tudo deve ser reformado e aqueles que dizem, depois do primeiro conjunto de reformas: "Já fomos longe demais!" Calvino despertou a animosidade até entre os próprios seguidores ao denunciar como papistas muitos dos antigos nomes cristãos, tão populares na cidade. Em 1546, a Companhia dos Pastores, sem formalmente anunciar sua política, resolveu que os bebês trazidos a eles para a cerimônia do batismo deveriam receber nomes bíblicos, em vez de nomes dos santos católicos da região. Um barbeiro da cidade trouxe seu bebê à igreja, abarrotada de pessoas, para ser batizado de Cláudio, um dos três nomes mais comuns em Genebra, mas o pastor solenemente o batizou de Abraão. Como resultado, o barbeiro arrancou-lhe a criança e levou-a para casa. Houve tumulto na congregação e em todos os lugares em que a conversa se espalhou.

Uma insurreição de ampla abrangência contra a Igreja Católica veio das seitas anabatistas, assim chamadas por herdarem seu nome da palavra grega para "rebatizados". Eram militantes da Reforma. Emana no cenário histórico em Zwickau, a leste de Wittenberg, insurgindo depois em Zurique e centenas de outras cidades do norte europeu. Quando expulsos das cidades, cultuavam a Deus em ar livre, e batizavam os adultos convertidos imergindo-os em água corrente. Apresentavam muita diversidade e nutriam várias crenças. A maioria se opunha à idéia do batismo de crianças, acreditando que era uma dádiva muito valiosa para serem conferidas a seres com poucos dias de vida, incapazes de tomar uma decisão consciente de viver e morrer em Cristo. Mais do que qualquer outro grupo protestante, os anabatistas tiveram grande poder entre os pobres. Os líderes das seitas, arriscando suas vidas, estavam dispostos a opor-se àqueles que governavam.

Os anabatistas foram denunciados como alienados e perniciosos por Lutero, Calvino, Zwingli e os heróis pregadores do início da Reforma. Foram vistos por muitos governantes como a escória da Reforma. O termo "anabatista" tornou-se um termo abusivo. Um fato notório foram as cinco mulheres e sete homens que, em Amsterdã, em 1535, para enfatizarem que pregavam somente a verdade nua e crua, arrancaram suas roupas e correram pela rua gritando "Ai de vós! - a ira de Deus". Os 12 anabatistas acabaram sendo executados. Temidos como opositores da ordem social e religiosa, os anabatistas foram perseguidos quase em todos os lugares. Somente na Holanda e na Frísia, aproximadamente 30 mil foram mortos nos dez anos que se seguiram a 1535 e, ainda assim, foi nessa região que eles conseguiram sobreviver.

O calvinismo, que começou a dar frutos na década da morte de Lutero, deu à Reforma nova energia. Durante 40 anos, a mensagem da Reforma alçou vôo, pousando em distritos distantes de seu local de nascimento. Por algum tempo, parecia que a maior parte da Europa central, ocidental e ao sul poderia ser convertida a uma das novas crenças concorrentes. A maior parte do norte da Alemanha seguiu os luteranos. Eles dominaram as catedrais da Finlândia até a Dinamarca e a Islândia. Na Polônia e Hungria, a crença calvinista varreu as cidades, deixando sua marca principalmente nas famílias mais ricas. A Holanda e a ilha da Inglaterra, exceto a região montanhosa da Escócia, foram conquistadas pelos reformadores. Adentrando a França, a pé ou a cavalo, veio uma longa procissão de jovens pastores de Genebra, que ganhou apoio maciço nos portos marítimos, principalmente ao longo da costa do Atlântico. Até a Itália foi invadida. Os anabatistas faziam seus cultos em Vicenza, enquanto outras seitas criaram raízes na vizinha Veneza.

Os protestantes se retrogradaram contra muitos dos fundamentais pontos do catolicismo. Os católicos acreditavam em imponentes cerimônias religiosas, ricas procissões e jóias colocadas na mitra do arcebispo; ao contrário, muitos dos reformadores insistiam na simplicidade e, mesmo quando abastados, preferiam uma igreja sem janelas de vitral. Os católicos acreditavam num círculo sagrado de santos cuja ajuda podia ser invocada, muito dos reformadores rejeitavam os santos como intermediários desnecessários que ficavam entre os cristãos humildes e Cristo; os católicos geralmente decoravam as paredes de suas igrejas com estátuas de Cristo, os reformadores eliminaram as estátuas e a imagem da Virgem Maria.

Os católicos acreditavam no poder de liderança do padre, muitos reformadores acreditavam no sacerdócio de todos os crentes. Aos olhos deles, os cristãos mais humildes, que liam a Bíblia com fé e esperavam humildemente pela inspiração divina, traziam consigo a mesma autoridade espiritual que os padres católicos de cada paróquia. Os católicos há muito haviam abandonado a idéia de que os padres podiam casar-se, os reformadores começaram a rever essa idéia. Lutero, por exemplo, acabou se casando com uma ex-freira.

O novo protestantismo fomentou algumas revoltas contra a Igreja Católica. A maioria dos calvinistas, acreditando que não deveria haver músicas majestosas e corais muito altos, enfatizava o canto congregacional, sem o acompanhamento de instrumentos. A homilética tinha primazia: a música era simplesmente uma serviçal que trazia a palavra. Ao tratar a música ao mesmo tempo como uma ajuda ao culto e também como uma arma de sedução, os primeiros calvinistas fizeram ressoar o apelo por simplicidade que tinha sido feito na Idade Média pelos monges cistercienses.

Por outro lado, os luteranos mantiveram a rica tradição musical do norte da Alemanha que, com sua ajuda, floresceu surpreendentemente somente dois séculos depois de Lutero ter feito seus primeiros protestos. Ali, dois jovens músicos, Handel e Bach, fizeram cada um uma peregrinação a pé até o porto de Lübeck para ouvir os serviços religiosos nos quais o organista luterano Buxtehude era responsável pela música. George Frideric Handel era neto de um pastor luterano. Johann Sebastian Bach escreveu quase toda a magia de sua capacidade musical enquanto trabalhava como organista, chantre ou diretor de música eclesiástica luterana. A maioria de seus oratórios e de suas cantatas foi escrita para as congregações luteranas de duas grandes igrejas góticas de Leipzig que, nas cerimônias que duravam de 3 a 4 horas, aos domingos, às 7 horas, reservavam meia hora para uma cantata que Bach geralmente compunha e dirigia para 30 ou 40 cantores e instrumentistas. Misteres religiosos de longa duração caracterizaram aos três primeiros séculos do fervor protestante.

A Igreja Católica se reexaminou criticamente após Lutero e Calvino terem erguido suas bíblias em sinal de protesto; proibiu os principais abusos, alguns dos quais não foram tão freqüentes quanto Lutero havia argumentado. A venda de indulgências por cobradores profissionais de receitas foi reprimida pelo Concilio de Trento em 1562. Os bispos não podiam mais ficar ausentes de suas dioceses por longos períodos, a música e a liturgia, quase tão diversas quanto à do protestantismo, foram mantidas sob controle. As novas arquiteturas barrocas, que floresceu principalmente na Espanha e nas Antilhas Espanholas, se tornaram uma nova afirmação de fé dentro de um catolicismo rejuvenescido e disciplinado. Seminários foram abertos para treinar o jovem clero. Novas ordens religiosas trouxeram propósito à Igreja. Os jesuítas e os capuchinhos juntaram-se às antigas ordens católicas, enviando missionários às novas terras.

Após 40 anos, a maré virou contra os protestantes. Na Europa central, a maioria dos governantes, acreditando que todas as pessoas deveriam pertencer a uma religião da escolha deles, começou a perseguir os protestantes: praticar uma fé dissidente era praticar traição. O baldrame dos protestantes estavam agora confinadas ao noroeste da Europa: à Escandinávia, onde sua vitória era total, à Inglaterra e à Escócia, à maioria dos principados do norte da Alemanha, à Holanda e a certas cidades e cantões da Suíça. De todas essas terras, a fé católica foi banida. Da mesma forma em terras católicas, e estas contavam com a maioria da população da Europa, o culto de qualquer outra fé foi banido.

As primeiras décadas da Reforma se assemelharam aos primeiros anos do Islã: os reformadores dependiam ao mesmo tempo da espada e da palavra. A mensagem de Lutero não poderia ter conquistado um grande território em ambas as margens do Báltico sem o apoio de príncipes e de regimentos. Calvino teve sucesso somente porque foi apoiado pelos governantes da república suíça de Genebra. Na França, sua doutrina, fracassando em conquistar o monarca, começou a perder suas bases fortes no sul e no oeste do território. Em Paris, no dia de São Bartolomeu, em 1572, aproximadamente 20 mil protestantes foram massacrados.

Enquanto os protestantes tinham a tendência de centralizar o poder na maioria das terras onde tinham sido vitoriosos ou onde os governantes deixaram que fossem vitoriosos, eles também iniciaram uma corrente democrática. O calvinismo criou um sistema de governar a igreja que garantia influência aos membros superiores da congregação. Como o luteranismo, pregava que a Bíblia, e não a Igreja, era o tribunal de apelação de última instância, e todos os cristãos devotos e inteligentes podiam apelar para a Bíblia. No calvinismo, as pessoas comuns tinham mais influência do que em qualquer congregação católica.

No final, os protestantes não fizeram nenhum avanço ao sul dos Alpes ou ao sul dos Pireneus. Seu triunfo estava nas distantes margens do Atlântico. Enquanto a Espanha se recusava a deixar que judeus, muçulmanos e protestantes emigrassem para suas novas colônias, Inglaterra e Holanda permitiam que os dissidentes protestantes partissem para as novas colônias americanas. Em Boston e outras cidades da região da Nova Inglaterra, a Reforma Calvinista alastrava-se em chamas ardentes. O surgimento dos Estados Unidos, sua cultura característica, seu fomento inicial de debates intensos e sua democracia recente provavelmente devem tanto aos reformadores protestantes quanto a qualquer outro fator.

Inicialmente, a Reforma parecia ser um golpe para as mulheres. Provavelmente, as únicas instituições do mundo ocidental nas quais as mulheres tinham poder de próprio direito eram o convento e a monarquia. As mulheres administravam os conventos femininos e, quando o convento tinha propriedades valiosas na cidade, a mulher que estivesse encarregada desse bem tinha um poder ainda maior; assim, em Zurique, a abadessa do convento beneditino ajudava a administrar a cidade. O fechamento dos poderosos conventos na maioria dos Estados que eram agora protestantes indiretamente reduziu o poder das mulheres. Havia só uma compensação: a maioria das igrejas protestantes acreditava que o máximo de pessoas possíveis, homens ou mulheres, deveriam ler a Bíblia, e isso levou à abertura de mais escolas que ensinassem a ler e a escrever.

A taxa de alfabetização das mulheres começou a crescer com firmeza. A Prússia, uma base luterana, tornou a educação compulsória para os meninos e meninas em 1717. Na cidade holandesa de Amsterdã, em 1780, um extraordinário número de 64% das noivas assinaram a certidão quando se casaram, enquanto as outras desajeitadamente marcavam com uma cruz o lugar onde sua assinatura de assentimento era exigida. Na Inglaterra, cerca de 1% das mulheres sabia ler no ano 1500, mas esse número havia aumentado para 40% em 1750. Tardiamente, os países católicos acabaram seguindo essa tendência revolucionária.

A Igreja russa, ao contrário, voltou suas costas para a alfabetização. Nenhuma igreja cristã em nenhuma outra nação tinha tantos devotos quanto a Igreja Ortodoxa na Rússia, mas seus sacerdotes tinham pouca educação e muitos eram mais habilidosos em recitar de memória, ou de esquecimento, do que em ler as escrituras. A autoridade do sacerdote foi estabelecida porque poucos em sua congregação podiam ler a Bíblia. A Bíblia completa, com Antigo e Novo Testamento, só se tornou acessível livremente na atual Rússia após 1876.

O interesse emergente pela religião tomou formas pouco comuns. O mal e a santidade continuavam a serem detectados. Em muitas partes da Europa as bruxas se multiplicavam ou assim se dizia. Numa época de fervor religioso, a crença na misericórdia e na bondade andava de braços dados com a crença no poder do mal de arruinar as vidas das pessoas. O mal foi personificado nas bruxas; quando tragédias aconteciam, cada vez mais eram atribuídas à conspiração de alguma bruxa; quando uma dificuldade econômica afetava um vilarejo ou uma família, saía-se à procura da bruxa agressora.

A maioria das acusações de bruxaria surgia das brigas, tensões e adversidades da vida cotidiana. O encontro de bruxas era como a visão de discos voadores na segunda metade do século 20. Uma vez que a idéia dominasse uma região, espalhava-se com velocidade. Na Europa, durante os três séculos entre 1450 e 1750, a maior parte das 100 mil ou mais bruxas "comprovadas" estava concentrada num pequeno número de regiões. No sudeste da Escócia e no leste da França, segundo diziam, as bruxas eram extremamente ativas. Na Europa, durante um longo período, aproximadamente uma em três bruxas detectadas vivia na Alemanha.

Esses eram padrões de disseminação da bruxaria. Assim, na Inglaterra e na Hungria, nove de cada dez bruxos condenados eram mulheres, embora na Islândia e na Estônia a maioria dos acusados e condenados fossem homens. Das dezenas de milhares de pessoas sentenciadas a morte por bruxaria na Europa, três de cada quatro eram mulheres; muitas eram velhas e desfiguradas, mas algumas eram jovens e bonitas, e algumas eram até crianças. Na Inglaterra, uma típica bruxa seria solteira ou viúva, velha e pobre, quase sempre brigando com seus vizinhos.

As tensões religiosas aguçaram a caça às bruxas que, geralmente, eram encontradas em cidades e regiões onde seitas rivais andavam cara a cara. Uma terra com unidade religiosa tinha muita menos probabilidade de gerar acusações de bruxaria; na Irlanda, na Polônia, no sul da Itália e várias outras terras e regiões católicas, a prisão de bruxas era rara.

Numa época ultra-religiosa, quase todos acreditavam no poder da organização do mal. Presumia-se que o demônio estava à solta no mundo, espalhando mau-olhado e com um milhão de mãos, escolhendo bruxas como servas pessoais. Acreditava-se, muito mais na África do que na Europa, que as bruxas causassem enormes danos às vidas humanas. Essa ênfase no poder do mal, que já não é mais uma crença proeminente na civilização ocidental, era a essência da cruzada contra a bruxaria e a justificação da crueldade infligida às bruxas.

A tragédia foi que a civilização ocidental, quando finalmente deixou de acreditar em bruxas, também começou a deixar de acreditar na imensa capacidade de a humanidade praticar o mal tanto quanto o bem. Na primeira metade do século 20, milhões de pessoas instruídas e cultas não se achavam preparadas para a forma cruel com que o mal, através de qualquer nome respeitável que adotasse, viria a assim devastar a Europa, fazendo com que a era das bruxas parecesse um mero percalço.

Bibliografia:

BLAINEY, Geoffrey. Uma Breve Historiado Mundo.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da pedagogia (Geral do Brasil). São Paulo. SP. Ed. 3. Moderna 2010.

LIMA, Oliveira. História da civilização. São Paulo. SP. Ed 14. Edições Melhoramentos. 1965.

Douglas Q Stemback
Enviado por Douglas Q Stemback em 08/05/2011
Reeditado em 26/02/2017
Código do texto: T2957024
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